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    Elias Jabbour

    Elias Jabbour, é doutor e mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP. É professor dos Programas de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI) e em Ciências Econômicas (PPGCE) da UERJ. É autor de quatro livros e dezenas de artigos acadêmicos e de opinião sobre a China e o socialismo de mercado como uma nova formação econômico-social.

    18 artigos

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    A República Popular da China e a ONU – 50 anos depois

    "A admissão da República Popular da China como a única representante do povo chinês na ONU não foi somente uma vitória dos comunistas chineses. Tratou-se da vitória de uma república surgida da maior revolta anticolonial da história", escreve Elias Jabbour

    (Foto: Reprodução)

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    O ano de 2021 marca o cinquentenário de um dos acontecimentos geopolíticos mais importantes do século XX. A Resolução 2758 da Assembleia Geral das Nações Unidas foi aprovada em 25 de outubro de 1971, reconhecendo a República Popular da China como "o único representante legítimo da China nas Nações Unidas" e retirou "os representantes de Chiang Kai-shek" da Organização das Nações Unidas. Não tratou somente de uma questão burocrática onde uma representação foi trocada por outra. Existe uma história a ser contada. 

    A Revolução de 1949 levou os comunistas liderados por Mao Tsétung ao poder na China. Os derrotados refugiaram-se na ilha de Taiwan autodeclarando a província como “República da China”. A República da China foi um dos 51 países fundadores da Organização das Nações Unidas (ONU) e um dos membros do Conselho de Segurança. Este status quo não fora alterado por mais de 25 anos devido à escalada de tensões entre China e Estados Unidos – desde a Guerra da Coreia, passando pelo apoio chinês contra a agressão imperialista contra o Vietnã. 

    Observando no conjunto, a admissão da República Popular da China como a única representante do povo chinês na ONU não foi somente uma vitória dos comunistas chineses. Tratou-se da vitória de uma república surgida da maior revolta anticolonial da história e, como tal, por muito tempo foi a principal referência dos movimentos de libertação da Ásia, África e América Latina. Ou seja, o assento ocupado pela República Popular da China na ONU é carregado por um simbolismo que vai muito além da legitimidade do governo de Pequim. É a legitimação de um governo que apoiou, e apoia, as causas mais progressistas de comum interesse dos povos da periferia do sistema.

    A principal marca da participação chinesa na ONU é exatamente a de porta-voz dos interesses das mais amplas aspirações dos povos oprimidos do mundo. Exemplo disso foi um o discurso proferido por Deng Xiaoping por ocasião da Sexta Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas ocorrida no dia 06 de abril de 1974. Tratou-se de um dos discursos mais profundos proferidos na história da ONU. Deng Xiaoping observou neste discurso que a China deveria declarar claramente ao mundo que "a China não é uma superpotência, nem jamais tentará ser. Se um dia a China mudasse de cor e se transformasse em uma superpotência, se ela também desempenhasse o papel de tirana no mundo, e em todos os lugares sujeitar os outros à sua intimidação, agressão e exploração, as pessoas do mundo deveriam identificá-la como social-imperialismo, expô-lo, opor-se a ele e trabalhar junto com o povo chinês para derrubá-lo" (1).

    São palavras fortes vindas daquele que foi reconhecidamente um dos maiores estadistas do século XX. A forma de ação da China na ONU é marcada por coerência e defesa de valores muito caros não somente ao país, mas aos povos do mundo em geral. Nunca foi tão importante o lema histórico da diplomacia chinesa da “paz e desenvolvimento”. Em um mundo onde a tendência à violência imperialista tende a aumentar, nunca foi tão necessária a presença de um grande país como a China para servir de contraponto à irracionalidade e a agressividade do imperialismo norteamericano. Os desafios colocados à humanidade não são coerentes com posturas e atitudes hegemonistas, arrogantes e mesmo racistas. Sim, o imperialismo norteamericano é uma potência não somente agressiva, mas que também tem no racismo uma de suas manifestações mais reacionárias. 

    Sábias forma as palavras do líder chinês Xi Jinping. Ao contrário do líder imperialista Joe Biden que reiteradamente deixou claro em seu discurso o papel de liderança que os Estados Unidos devem exercer no mundo, Xi Jinping demarcou, dizendo: “Os recentes desenvolvimentos da situação internacional mostram, mais uma vez, que a intervenção militar externa e a chamada transformação democrática só acarretam danos. Precisamos defender a paz, o desenvolvimento, a equidade, a justiça, a democracia e a liberdade, que são os valores comuns da humanidade. E rejeite a prática de formar pequenos círculos ou jogos de soma zero” (2).

    Nunca na história a presença chinesa na ONU e no mundo foi tão necessária. A humanidade vencerá!

    Notas:

    (1) Speech By Chairman of the Delegation of the People’s Republic of China, Deng Xiaoping, At the Special Session of the U.N. General Assembly. Disponível em: https://www.marxists.org/reference/archive/deng-xiaoping/1974/04/10.htm

    (2) Chinese President Xi Jinping UN General Assembly 2021 Speech Transcript. Disponível em: https://www.rev.com/blog/transcripts/chinese-president-xi-jinping-un-general-assembly-2021-speech-transcript

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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