A revanche dos militares
"Alguma força pode estar se movendo sem que os radares de Bolsonaro percebam, ou alguém imagina que Bolsonaro tem na mão a maioria dos militares de alta patente, se nem partido com cabos eleitorais ele tem?", escreve Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia
Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia
Bolsonaro está ganhando de goleada. Mandou mais de 10 generais embora do governo, quase todos humilhados pelos filhos dele, e não aconteceu nada.
Empurrou o vice Hamilton Mourão para uma função subalterna e perigosa no Conselho da Amazônia, sob o comando de Ricardo Salles e seus grileiros, e não acontece nada.
Dispensou o ministro da Defesa e os comandantes das três armas, porque não toparam levar adiante o blefe do golpe, e não aconteceu nada.
Diz e repete que é comandante supremo das Forças Armadas e se refere ao “meu Exército”, para imposição de um poder militar de governo, e não de Estado, e não acontece nada.
Desmoralizou as Forças Armadas ao transformar um general intendente no pior ministro da Saúde que o país já teve, em meio a uma pandemia, e não aconteceu nada.
Manobrou, sem muito esforço, para que Eduardo Pazuello não fosse punido pelo seu chefe no Exército, e não vai acontecer nada.
Mas o cenário geral de aparente normalidade bastante anormal vai continuar assim, sem acontecer nada?
A mesma pergunta pode ter outra formulação e ficar assim: os comandantes militares, submetidos ao desgaste dos interesses da família, em algum momento darão o troco?
Sendo mais direto: Bolsonaro está preparado para enfrentar a reação militar à próxima tentativa de desmoralização das Forças Armadas?
É quase certo que haverá essa tentativa de seguir em frente e impor seus desejos e suas demandas aos militares. Em circunstâncias ainda inimagináveis, mas ele continuará tentando. É da lógica da engrenagem montada com seus generais subservientes.
Bolsonaro sabe que precisa aperfeiçoar seu comando absoluto sobre as Forças Armadas, mesmo que sem método e de forma errática. Só não deve cometer o erro de achar que pode tudo porque até agora está dando certo.
O Exército hoje está cada vez mais sob controle de Bolsonaro e menos dos seus comandantes. Mas militares são imprevisíveis, desde o golpe da proclamação da República.
Bolsonaro sabe que aluga o apoio do Centrão, por algum tempo impreciso, mas não o suporte político incondicional dos militares.
O ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva deve saber de coisas que serviriam de alerta a Bolsonaro. Mas Azevedo e Silva foi descartado, e Bolsonaro é um sujeito refratário a alertas, pela incapacidade de percebê-los.
Alguma força pode estar se movendo sem que os radares de Bolsonaro percebam, ou alguém imagina que Bolsonaro tem na mão a maioria dos militares de alta patente, se nem partido com cabos eleitorais ele tem?
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