A revolução desenvolvimentista de Botswana: recursos naturais como combustível para o motor econômico
Os ganhos na área social apresentaram grande progresso no período, embora ainda existam grandes problemas a se resolver
Quando a independência de Botswana foi concedida sem luta pelos colonizadores ingleses, não era difícil entender porque o poderoso Império Britânico abria mão de uma colônia tão facilmente. A jovem nação possuía 70% de seu território tomada pelo deserto do Kalahari, uma população pequena, pobre e organizada em tribos. Estas viviam da pecuária para subsistência. A infraestrutura se reduzia a 12 quilômetros de estrada e até mesmo a capital do país teve de ser construída com apoio britânico. Haviam apenas duas escolas, 20 pessoas com educação superior e apenas 100 habitantes com ensino médio completo. A saúde era restrita aos curandeiros tribais. Embora o país parecesse destinado a se tornar apenas um bantustão controlado pela vizinha África do Sul, a história botswanesa seria transformada a partir da figura de seu grande líder, Seretse Khama;
Nascido em uma grande tribo do protetorado de Bechuanalândia, então colônia britânica influenciada pela África do Sul, Seretse Khama estava destinado a ser o chefe local e, portanto, foi enviado para estudar em internatos sul-africanos e, posteriormente, na Inglaterra, onde conheceu a estudante branca Ruth Williams, com quem se casou em 1947. Este casamento inter-racial sofreu resistências em sua tribo e também na África do Sul, que iniciava duro período em sua política do Apartheid e não podia tolerar um chefe tribal se casando com uma mulher branca em sua área de influência. Após pressões sul-africanas, o governo britânico elaborou um inquérito alegando que Khama não tinha aptidão para seus deveres, obrigando-o a se exilar e renunciar a seus direitos como chefe tribal.
Retornando a sua terra natal vários anos depois, fundou o Partido Democrático do Botswana (BDP) e graças a popularidade angariada junto ao povo local devido a perseguição que sofreu por seu casamento, se tornou o primeiro presidente de Botswana independente, em 1966.
Ao chegar ao poder com amplo apoio do parlamento, Khama propôs um sistema onde seriam mantidas as estruturas tribais, a fim de não gerar conflitos internos, com um conselho de chefes que deveria servir como órgão consultivo ao governo federal. Em seguida, buscou utilizar os recursos nacionais como impulsionador para o desenvolvimento nacional. Aproveitando a já existente produção pecuária local, fundou a Comissão de Carnes de Botswana, uma estatal que comprava e revendia carne tanto no interior do país como para exportação, além de oferecer orientação técnica e subsídios para melhora do rebanho, construção de fazendas e aumentar a produtividade. Esta ação serviu não apenas para combater a fome e a pobreza, mas como fonte de recursos para o Estado ainda incipiente. Também convidou empresas mineradoras para explorar as minas locais de cobre e descobrir novos recursos minerais. Em 1967, a britânica De Beers descobriu a presença de diamantes e, dois anos depois, o presidente Khama fechou um acordo com a empresa, garantindo liberdade de exploração em troca de 50% dos lucros obtidos na atividade, tornando Botswana a maior produtora de diamantes do mundo.
Com os recursos obtidos nestes setores, além da mineração de cobre e carvão, o governo passou a investir em infraestrutura, educação e saúde, visando desenvolver as bases para uma economia urbana e industrial. Além disso, foram oferecidos subsídios e crédito em vários setores, principalmente industrial e comercial.
Este cenário de financiamentos, aliado a estabilidade interna garantida pela cooperação dos chefes tribais, garantiu crescimentos do PIB acima de 10% entre 1965 e 1990, além de taxas em média 6% entre 1990 e 2018, obtendo picos de 15% no período e garantindo a multiplicação da riqueza nacional em 100 vezes desde a independência até os dias atuais, se tornando um dos países que mais cresce no mundo.
Os ganhos na área social apresentaram grande progresso no período, embora ainda existam grandes problemas a se resolver, como o desemprego, que atinge 20% da população, devido a dependência da atividade mineral, que consome pouca mão de obra. Mas são bastante nítidos os excelentes resultados obtidos pelo povo botswanês, graças principalmente a uma gestão eficiente dos recursos nacionais, recursos públicos utilizados voltados para o desenvolvimento, estabilidade política e inexistência de uma elite corrupta e predatória obstinada em sangrar a economia do país em benefício próprio.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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