A sabedoria peripatética de Samuel Pinheiro Guimarães
Cadê o Samuel, minha gente? Que falta está fazendo! A nós, o que nos cabe é honrar o legado!
Nesse dia 30 de outubro de 2024, o nosso eterno embaixador Samuel Pinheiro Guimarães inteiraria 85 anos. Era sempre dia de festa para ele, Maria, os filhos, os amigos.
O amigo e professor. A convivência diária com ele no Senado foi proteica e alegre. Eu era chefe de gabinete da liderança da minoria. O líder era o senador Lindbergh Farias e a liderança política maior o senador Requião, amigo do Samuel de décadas e meu também.
Quando o senador Lindbergh me convidou para montar com ele a equipe, sugeri de pronto que o primeiro nome a ser convidado fosse o embaixador Samuel. Ele ficou entusiasmado com a ideia e incumbiu-me do convite. Disse-me, todavia, que Samuel não aceitaria por ser uma função menor a de assessor do Senado para quem fora embaixador e Secretário-Geral do Itamaraty. Falei com Samuel e ele aceitou.
Em torno da liderança da minoria aglutinavam-se os senadores do “bloco” (informal) dos black blocs do Requião, como era conhecido o grupo de senadores de diversos partidos que tinham no velho nacionalista paranaense sua referência de atuação política firme e esclarecida: Lindbergh, Vanessa Grazziotin, Fátima Bezerra, Regina Sousa, Gleisi, Inácio Arruda, Randolfe Rodrigues. De quando em quando, a depender do tema em votação, crescíamos para cerca de 16 senadores.
No dia-a-dia do Senado, Samuel e eu fazíamos pilhéria o tempo todo. O bom humor é um atributo da inteligência. No caso, a dele, óbvio.
Às 10h00 e às 16h00, aquele seu olhar eloquente pontualmente me convidava para sairmos a caminhar lentamente pelos corredores do Congresso para um café no Café do PT, na Câmara.
Sabedoria peripatética. Lições recebidas. Histórias para contar.
Um dia eu mostrei a ele um telegrama da embaixada dos Estados Unidos, vazado pelo Wikileaks, que o colocava no tripé da política externa do Lula, juntamente com Marco Aurélio Garcia e Celso Amorim, com o qualificativo de “antiamericano”. Ao que ele disse que ser antiamericano não era um objetivo em si, mas se ele era visto assim pela embaixada estadunidense era um indicativo seguro de que ele realmente estava no caminho da defesa dos interesses do Brasil. Não sei se foram exatamente essas as palavras, mas foi o sentido da sua reação bem-humorada.
Eu nunca o ouvi referir-se aos cidadãos dos Estados Unidos como “americanos” ou “norte-americanos”, sempre como estadunidenses. Norte-americanos são os mexicanos e os canadenses, dizia com aquele jeito peculiar de quem fala desafiando a inteligência do interlocutor.
Tem gente, Samuel, Brizola, Darcy, Lessa, Getúlio, que a cada dia que passa, cresce!
Cadê o Samuel, minha gente? Que falta está fazendo! A nós, o que nos cabe é honrar o legado! Juntos, claro, que é como gostava de nos ver!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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