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    Rene Marcio Ruschel

    Jornalista em Curitiba

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    A tragédia de 1964 e a farsa de 2018

    O Brasil, definitivamente, mergulhou no abismo. Na pátria de chuteiras, nem a Copa do Mundo será capaz de livrar o país do caos. A tragédia de 64 pode se repetir a qualquer momento como farsa. Os sintomas de um golpe são cada vez mais previsíveis

    A tragédia de 1964 e a farsa de 2018 (Foto: Beto Barata/PR)

    O Brasil, definitivamente, mergulhou no abismo. Na pátria de chuteiras, nem a Copa do Mundo será capaz de livrar o país do caos. A tragédia de 64 pode se repetir a qualquer momento como farsa. Os sintomas de um golpe são cada vez mais previsíveis. As vivandeiras do apocalipse, manipuladas como massa de manobra, insistem em sair às ruas vestidas com camisas da CBF, empunhando bandeiras verde-amarela para pedir a volta dos militares. Seria, por acaso, à presunção do ensaísta e escritor inglês em pleno século XVIII, Samuel Johnson, “que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”?  

    O colapso político, econômico e social toma contornos inimagináveis. A greve dos caminhoneiros só apressou os fatos. Pedro Parente, presidente da Petrobras, com sua política de preços voltada aos interesses do mercado, apenas deu o tiro de misericórdia nesta fantasia de governo. Aliás, o modelo de gestão implementado na empresa é apenas um retrato 3x4 do que pretendem fazer no Brasil.

    Enquanto isso, Michel Temer, o timoneio da pior crise econômica de nossa história, não passa de um fantoche que insiste em se manter sentado na cadeira de presidente da República, mesmo sem sê-lo de fato. Inspirada nos clássicos originais da Commedia dell’arte napolitana, formada por tipos como servos trapaceiros ou velhos avarentos, a ópera bufa do Planalto mostra um rei nu com os áulicos a aplaudi-lo. Só ele, o rei, não percebe – ou finge não perceber. Resta saber quem, nesses dias tumultuados, faz o papel do bobo da corte de plantão a entretê-lo por tanto tempo.

    Um governo esfacelado, corrupto, onde assessores são flagrados correndo pelas ruas com malas de dinheiro. Ministros escondem milhões em caixas de papelão na sala de um apartamento. Senador da base de apoio é gravado pela Policia Federal fazendo negociatas com empresário. Outro tem seu helicóptero preso com 400 quilos de cocaína. Temer distribui bilhões de reais na compra de votos de parlamentares a fim de se garantir na função. Não bastasse, vende o país a preço de banana. Tudo à luz do dia. E nada, absolutamente nada acontece. Os incautos continuam a aplaudir.

    Um governo que destruiu a democracia e provocou uma crise política sem precedentes. Basta lembrar o discurso do senador Aécio Neves, PSDB, derrotado em 2014, que prometia “obstruir todos os trabalhos até o país quebrar e a presidente Dilma ficar incapacitada de governar”. Pois esse dia chegou. O país quebrou.

    Em Brasília, os senadores aprovaram na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), a regulamentação do projeto de lei para escolha indireta do presidente e vice-presidente em caso de vacância dos cargos. Trata-se de uma espécie de simulacro, de ensaio ao golpe anunciado. Os eleitores serão os próprios parlamentares. Ora, um Congresso sem apoio político, corrupto, carcomido pelas piores mazelas, tenta de todas as formas garantir o controle da nação e se arvora no direito de votar e escolher, em nome do povo, um dos seus pares para dirigir o país. Mais um acerto das elites e seus asseclas. Mais uma negociata de gabinete nos corredores do Congresso. Ou alguém duvida?

    Á reboque, o Poder Judiciário e o Ministério Público Federal agem segundo as conveniências políticas. A corrupção, em qualquer circunstância, deve ser apurada e seus responsáveis punidos. Mas aqui em Pindorama o que se vê é a judicialização da política. O ex-presidente Lula foi condenado por um crime “indeterminado”. Sim, isso mesmo, crime indeterminado. Na sentença do juiz Sérgio Moro está explícito a acusação da teoria do “domínio do fato indeterminado” sem que haja uma única prova formal. Apenas uma. Não há. Assim, fica valendo a argumentação do procurador Deltan Dallagnol quando ofereceu a denúncia ao Judiciário que, “não temos provas, temos convicção”.

    O golpe militar pode trazer de volta uma longa noite de trevas. Só quem viveu os horrores dos porões, o submundo do medo, sabe o que aguarda. A história mostra que as ditaduras, seja qual for, deixam marcas e sequelas que não se apagam facilmente. Já a democracia, como ensinou o premiê inglês, Winston Churchill, “é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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