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    Antônio Carlos de Almeida Castro

    Advogado criminalista

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    A vida dá, nega e tira

    'Fraude é a especialidade não só do Deltan, mas, também, de Moro e dos comparsas da força-tarefa de Curitiba', diz Kakay sobre a cassação de Dallagnol

    Deltan Dallagnol (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
    Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo!

    Em 13 de junho - dia do nascimento do meu poeta Fernando Pessoa - de 2022, meu sócio e eu escrevemos no Conjur um artigo que se chamava: “Quem diria: Deltan inelegível!”. E enfrentamos exatamente a discussão técnica que hoje foi acolhida, à unanimidade, pelo Tribunal Superior Eleitoral. O ministro relator, Benedito Gonçalves, foi no cerne da questão ao afirmar que Deltan fraudou a lei. Por sinal, fraude é a especialidade não só do Deltan, mas, também, do seu ex-chefe, Moro, e dos comparsas que compunham a tal força-tarefa de Curitiba. A essência desse grupo era exatamente a de manipular e corromper o sistema de Justiça, prender para extorquir e fazer o que fosse preciso para chegarem ao poder. 

    Em setembro de 2014, quando a Lava Jato estava engatinhando, impetrei um habeas corpus em nome do Alberto Youssef no Superior Tribunal de Justiça que poderia trancar a Operação. Deltan e companhia fraudaram a vontade do meu então cliente e o obrigaram a desistir do processo e a trocar de advogado.

    A partir daí, corri o Brasil para desnudar esse bando que instrumentalizou o Judiciário e o Ministério Público como forma de chegar ao poder. Fiz centenas de debates, de artigos, de programas de televisão, escrevi livros e lutei um combate desigual e cruel. Mas sempre com a convicção de estar do lado certo. Com o apoio de parte da grande mídia, foram tratados como semideuses e escolhidos para governarem o país. Na verdade, o poder os cegou. Perderam qualquer critério e pisaram em quem se levantava contra eles. Destruíram vidas, reputações, famílias e histórias. Prepotentes. Arrogantes. Canalhas. 

    No livro do Emílio Odebrecht, “Uma guerra contra o Brasil”, que acaba de ser lançado, o autor me honra reproduzindo, na íntegra, para encerrar sua obra, uma crônica minha de 25 de março de 2022: “A Republiqueta está nua”. Eu inicio o artigo citando Nelson Rodrigues, “Por trás de todo paladino da moral vive um canalha”. E eu pedia que a Operação Lava Jato continuasse, para que pudéssemos responsabilizar todos os que tramaram contra o sistema de Justiça. A cassação do mandato do deputado Deltan é só um sinal. E vaticinei: “A sociedade tem o direito de saber, com detalhes, como se portaram esses agentes públicos que se escondiam atrás das togas e da força do Ministério Público Federal.”

    Vou ter que repetir a velha história que ocorreu em Patos de Minas, quando eu era menino. Existiam 2 bêbados, um baiano e um gaúcho. Brigavam toda noite e se ameaçavam mutuamente. Prometiam se matar. Um dia, aparece morto o gaúcho. Prendem o baiano, que é levado ao juiz. O juiz pergunta: “você matou o gaúcho?”; o baiano respondeu: “Dotô, achá bão é crime?”. O juiz, perplexo: “Por quê?”, e o baiano: “Matá não matei não, mas achei bão demais”.

    Hoje, o Brasil sério e democrata tem o direito de “achá bão demais”.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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