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    Oliveiros Marques

    Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

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    Abdias Nascimento

    Abdias, reafirmando seu caráter de intelectual-orgânico-militante, manda às favas o simulacro de neutralidade axiológica defendida por weberianos

    (Foto: Célio Azevedo/Senado)

    Me arrisco em um salto para a estrutura. Me afasto da conjuntura. Me distancio um pouco da análise — às vezes frágil, é verdade — que me permitem os dois mil caracteres, para me arriscar a dar uma sugestão de leitura. Desafio que, para mim, é sempre difícil. Mas quem sabe acerto. Se não para todos, para muitos.

    Ontem foi um daqueles dias em que se institui uma data para que lembremos do que devemos pensar e fazer também durante os demais 364 dias do ano. 21 de março, Dia Mundial pela Eliminação da Discriminação Racial. Data que alude ao Massacre de Sharpeville, quando, na África do Sul, em 1960, milhares de negros e negras daquele país foram massacrados por lutarem contra o regime do Apartheid.

    E é impossível pensar em luta contra o racismo, aqui no Brasil e lá fora, sem lembrar das elaborações e da prática militante do negro, pobre, nascido em Franca, no interior do estado de São Paulo, e que alcançou o mundo com sua contribuição teórica e prática na luta por uma sociedade livre da discriminação racial: Abdias Nascimento.

    E a obra de Abdias que sugiro como leitura obrigatória para entendermos a questão do racismo no Brasil, e a contribuição de negros e negras africanos e de seus descendentes para a construção deste país, é O genocídio do negro brasileiro – Processo de um racismo mascarado, da Editora Perspectiva.

    Abdias, reafirmando seu caráter de intelectual-orgânico-militante, manda às favas o simulacro de neutralidade axiológica defendida por weberianos, deixando muito claro o comprometimento com o qual escrevia aquele texto.

    O genocídio do negro brasileiro, que reúne documentos apresentados por Abdias ao Segundo Festival de Artes e Culturas Negras, em Lagos, capital da Nigéria, no ano de 1977, é um manifesto crítico à teoria divulgada por outros intelectuais brasileiros de que, em nosso solo, existiu (e continuaria a existir) uma democracia racial. Desmonta, com elegância e assertividade — áspera por vezes — muito do que, por exemplo, Gilberto Freyre escreveu sobre a questão racial no Brasil em Casa-Grande & Senzala.

    Ao destacar que “o africano escravizado construiu as fundações da nova sociedade (no caso, o Brasil – grifo meu) com a flexão e quebra de sua espinha dorsal, quando ao mesmo tempo o seu trabalho significava a própria espinha dorsal daquela colônia”, Abdias negrita de forma absoluta a dívida que o nosso país tem para com a população que fora sequestrada da África para ser escravizada em nossas províncias, assim como para com seus descendentes.

    Logo, falar em eliminar a discriminação racial em território brasileiro é uma obrigação. Inadiável.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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