Adeus ao Spartacus dos gramados
“Sempre polêmico e senhor de si, o argentino seguiu pela vida rasgando o manual de boa conduta, negando-se à domesticação que os donos do espetáculo buscam impor a seus contratados. Maradona jogou e viveu como um rebelde”, escreve Breno Altman
A morte súbita de Diego Armando Maradona adoeceu um pouco mais a humanidade.
No mesmo dia que faleceu Fidel Castro, há quatro anos, despediu-se o derradeiro personagem da era dos deuses do futebol mundial.
Depois que El Pibe abandonou os estádios, as torcidas tiveram que aprender a se contentar com jogadores que podiam ser craques fenomenais, como seu compatriota Lionel Messi, mas que perderam a rara combinação entre magia nos pés e sangue nos olhos que tornam inigualáveis os grandes campeões.
Não foi o maior jogador da história, mas provavelmente tenha sido o mais carismático, ao lado de Garrincha.
Os feitos e números de Pelé não têm paralelo e talvez nunca venham a ser alcançados, tampouco sua diversidade técnica ou estabilidade desportiva. Mesmo o rei do futebol, no entanto, é uma personalidade opaca perto de don Diego.
Sempre polêmico e senhor de si, o argentino seguiu pela vida rasgando o manual de boa conduta, negando-se à domesticação que os donos do espetáculo buscam impor a seus contratados. Maradona jogou e viveu como um rebelde.
Canhoto dentro e fora de campo, foi amigo do líder da revolução cubana, do venezuelano Hugo Chávez e do brasileiríssimo Lula. Tatuado com a face do Che, abraçou a causa daqueles que, como ele, desafiavam a ordem e tentavam reinventar o mundo.
Suas jogadas épicas jamais serão esquecidas.
A fila de ingleses driblados como se fossem bonecos de pano, nas quartas-de-final da Copa de 1986, até a bola ser engolida pelas redes de Peter Shilton, em saborosa vingança pela humilhação argentina na Guerra das Malvinas.
O gol com a mão de Deus, na mesma partida, transformando uma aberrante contravenção em vitrine de seu ilimitado talento para o futebol e a troça.
A caminhada divina e o passe magistral para Caniggia, em 1990, fulminar a seleção brasileira, desclassificada sem dó nem piedade.
Essas e muitas outras lembranças viverão para sempre, geração após geração.
Maradona também seguirá presente porque ousou romper os grilhões da indústria do esporte. Insurgiu-se como Spartacus, colocando sua arte e seu prestígio a serviço dos povos que lutam pela libertação.
Vida eterna ao deus argentino do futebol!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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