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    Teju Franco

    Músico e compositor

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    Agendas Tóxicas

    Até quando, ando me perguntando, ficaremos presos às agendas deles, respirando essa atmosfera tóxica nociva a nós e ao mundo? Será que não “já deu”? Será que não estamos caindo na estratégia deles?

    (Foto: Reprodução)

    Meu amigo virtual e editor do 247, Gustavo Conde, me indagou sobre o tempo em que eu estava sem escrever artigos. Eu respondi culpando a correria, mas sabia que não era. Esse tempo em que vivemos é tóxico, às vezes ficamos meio doentes, intoxicados, e a intoxicação não é só aqui, está em toda parte do mundo. Vivemos uma espécie de reedição de experiências sociais trágicas, deprimentes, degradantes, ao invés de evoluirmos a partir delas para um futuro melhor, mais justo, desenvolvido, baseado na tolerância, na civilidade, voltamos ao passado para resgatar  morbidezes retrôs, velhas doenças como o fascismo, as ditaduras militares, os preconceitos, a escravidão, como se fossemos seres fadados ao fracasso social, à mediocridade, à degradação, à violência, ao autoritarismo, à submissão, à extinção. 

    A sensação é de incômodo, incompetência, como cheirar os próprios gases, excrementos, o próprio lixão, o Rio Tietê da nossa pólis poluída; as pessoas conscientes da raça humana se sentem assim, as demais estão ocupadas na guerra de bostas, venenos, balas, moedas e bombas, ganancia e violências vis, o ignorante, o mentiroso, o truculento no poder, comandando as coisas, ditando as agendas.

    Acho fascinante o ofício do jornalismo, sou até bom em números e análises, razoável, mas, contundo que vivi como artista eu me vejo mais como cronista dentro de um jornal, resumindo: entre lá e cá, o jornalismo e a arte. Eu não tenho a base de um Breno Altman, um Florestan, um PML, um Nassif, mas na coisa mesclada, a crônica livre, a minha vivência de artista talvez possa contribuir por outro viés, mais sensorial, perceptivo, emocional. E o que venho sentindo, e o que me fez dar  uma “travada” nos últimos dias é justamente a percepção de que eles estão ditando as agendas, e nós vivemos de responder, o lutador de UFC que não dita o jogo da luta, o contra golpeador; eles ditam as agendas, e elas são tóxicas, vem do mundo deles, da chaminé, do Tamanduateí, das queimadas, dos Brumadinhos, Marianas, da mancha de óleo, dos snipers dos helicópteros do Witzel e suas vítimas, ou apenas das atrocidades que falam a todo momento nas mídias e palanques para nos entreter e distrair enquanto seus auxiliares mais discretos, como Rodrigo Maia, tocam a agenda da barbárie econômica, da destruição do estado social, da economia do liberalismo, a escravidão repaginada, para parafrasear Marina Silva (outra soldada do credoliberal), a escravidão uberizada do empreendedor (escravo) sem direitos, financiando metade do dinheiro e dos recursos do planeta a um por cento de bilionários globais, que hoje se dizem  terraplanistas e pentecostais, exterminadores cristãos do futuro, as bestas do apocalipse sem nenhuma sombra de dúvida.

    Até quando, ando me perguntando, ficaremos presos às agendas deles, respirando essa atmosfera tóxica nociva a nós e ao mundo? Será que não “já deu”? Será que não estamos caindo na estratégia deles? Sim, a supressão de direitos, as atrocidades letais como a do genocida que governa o Rio de Janeiro, ou as tragédias e medidas que agridem o meio ambiente e a vida humana devem ser rebatidas pontualmente, mas as bobagens que falam a todo momento merecem mesmo contraponto? Eles falam todas essas barbaridades para provocar reação, atiçar os ânimos da própria turba, criar o embate, distrair os inimigos de questões práticas e nós caímos na deles, conferimos importância à ignorância deles, perdemos nosso tempo discutindo o que eles querem, nos intoxicando com esse mundo mórbido, perverso, baixo astral e pesado do fascismo. Sabe a velha história do apelido na escola, quando você se importa, ele pega, pois é. 

    Ando me perguntando se não seria melhor ignorar essa gente, deixá-los com suas baixarias, grosserias, preconceitos falando sozinhos, parar de reverberar suas sandices, rebater apenas as ações práticas, não as retóricas, gastar esse tempo afirmando coisas belas, questões e valores humanitários, usar o contraponto justamente para contrapor outra visão de mundo baseada na humanidade, no respeito à pessoa humana, na justiça, na educação, na gentileza, na civilidade, na beleza, ao invés de ficar nos intoxicando com o texto podre e fétido dessa gente baixa e ruim.

    O coronel “sei lá o quê” fala, o delegado ensandecido diz, o presidente grotesco  esbraveja, o 02 discursa para causar, e passamos a semana, todos, a comentar o assunto, dando trela para o embate sem sentido, uma vez que esse tipo de gente não muda, “pra quê?” Vejo tantos militantes compartilhando fake News no face à título de denuncia, pra que? Quem acredita em fake News o faz porque quer, quem não acredita não precisa ser avisado, quem compartilha só está ajudando a propagar isso, que bobagem! Esse idiota do ministro da educação é o melhor exemplo,  o sujeito não faz nada, não trabalha, sua função é tuitar grosserias, e se ninguém desse bola?, deixasse o idiota falando sozinho, a turma de lá ficaria sem ter com quem brigar, a turma de cá ficaria ocupada com a própria agenda, rebater coisas pontuais, práticas. Vamos sair do texto do inimigo.

    Já passou da hora de deixar essa gente falando sozinha, vamos abandoná-los com suas grosserias, preconceitos, mentiras, vamos gastar nosso tempo afirmando outros valores, outra visão e percepção de mundo, em vez de envolver a todos nessa guerrinha  sórdida, vamos mostrar aos indecisos que há outra forma de ver, viver, agir no país e no mundo. Vamos nos ocupar da nossa agenda, do nosso texto, gastar tempo com o que importa e faz diferença de fato, algo mais eficaz e construtivo que ficar batendo boca com fascistas acéfalos, como bem disse Marcia Tiburi “com fascista não se conversa”. Vamos parar de cair em armadilhas; bora lá meu povo que tem muita coisa a ser feita. 

    Teju Franco 20/11/2019 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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