Agro semeia golpe de estado e rega assassinatos de autoridades com sacola de dinheiro
Sem uma reforma agrária justa e sustentável, como forma de democratizar o acesso à terra e enfraquecer estruturas oligárquicas
A agroindústria brasileira, empenhada numa propaganda massiva e auto laudatória nas mídias convencionais e digitais, deveria servir para transformar matérias-primas agrícolas em produtos consumíveis, em primeiro lugar, para a população do seu próprio país, sem priorizar a exportação massiva em nome do lucro radical. Deveria ser também uma fonte significativa de empregos, em vez de priorizar a mecanização que anula vagas, tanto no campo quanto nas indústrias de processamento, logística e distribuição. Mais empregos ajudariam a reduzir o êxodo rural e promover a integração econômica de diferentes regiões. Igualmente poderia contribui substancialmente para o aumento do PIB, impulsionando o comércio interno e externo, sendo uma importante fonte de exportações e divisas, em vez de apoiar a política de juros alto que só achata o PIB. Também poderia agregar valor aos produtos agrícolas, transformando-os em bens de maior valor comercial, em vez de exportar matérias primas para serem beneficiadas no exterior. Mas o mega agro não se anima muito quando se trata de investir em industrialização em lugar de enviar commodities para fora. Preferem mandar mercadorias básicas ao exterior do que processá-las no país, o que geraria desenvolvimento.
O agro também investe pouco em pesquisa, mas se vale muito daquelas que são realizadas por universidades públicas, que é quem produz mesmo agrotecnologia no Brasil. Se investisse seriamente em ciência e inovação, a agroindústria ajudaria a promover avanços ainda maiores que aumentariam a produtividade, a eficiência e a sustentabilidade da produção agrícola e industrial nacional, para todos os produtores, inclusive os pequenos, e não apenas para eles mesmos.
Embora se vista de verde, o agro tem contribuído muito mais para a devastação da biodiversidade do que para a sua preservação.
O agro poderia desempenhar um papel determinante na garantia da segurança alimentar do país, assegurando o processamento e o armazenamento adequados dos alimentos, e evitando desperdícios, o que colaboraria com a oferta regular de produtos durante todo o ano. Mas ele deixa isso para o governo e a agricultura familiar, pois seu foco único é faturar o mais alto que puder.
Ignorando tudo o que poderia fazer de bom pelo Brasil e por sua gente, o agro prefere se dedicar a um outro cultivo: o de conspirações, cujos produtos esperados seriam o golpe e o assassinato daqueles que ele elegeu aleatoriamente como seus inimigos. O adverbio “aleatoriamente” se aplica porque o agro fatura alto também nos governos progressistas. O agro investiu pesadamente no golpe. Em seu depoimento à PF, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirmou que o general Walter Braga Netto obteve recursos financeiros para a tentativa de golpe junto ao "pessoal do agronegócio". Cid revelou que o financiamento do agro ajudava a viabilizar ações antidemocráticas. Segundo o ex-ajudante de ordens, Braga Netto teria articulado diretamente com empresários do setor agropecuário para obter apoio financeiro. Acredita-se que esses recursos tenham sido utilizados para financiar manifestações, comprar materiais e equipamentos, incluindo celulares descartáveis que poderiam dificultar o rastreamento pelas autoridades, para montar a logística de ocupações em frente aos quarteis e para viabilizar protestos estratégicos. Além disso, as investigações indicam que representantes do agronegócio pressionaram Bolsonaro a tomar medidas mais incisivas contra o resultado das eleições, motivados por insatisfações ideológicas e interesses econômicos. Mas o lado ogro do agro não se limitou a semear e patrocinar a discórdia, investiu também no financiamento de crimes ainda piores. As investigações da Polícia Federal revelaram um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, elaborado por militares das Forças Especiais do Exército, conhecidos como "kids pretos". Cid declarou que Braga Netto igualmente obteve recursos financeiros para essa operação junto ao "pessoal do agronegócio". Segundo a PF, o general entregou o dinheiro aos pretensos assassinos em uma sacola de vinho, demonstrando sua participação ativa no financiamento das ações ilícitas. A casa do ex-ministro em Brasília também teria sido utilizada para planejar a missão golpista em novembro de 2022.
A Frente Parlamentar da Agropecuária se manifestou contra uma “generalização” do setor, afirmando ser “inadmissível” atribuir a todo o agronegócio a responsabilidade por ações de indivíduos específicos. Interessante é que em plena radicalização golpista, a mesma Frente nada disse e nem tentou distinguir o agro de nenhum indivíduo golpista, nem se pronunciou sobre nenhum dos muitos ataques à democracia perpetrados pela extrema-direita e setores das forças armadas.
O agronegócio, enquanto setor concentrador de riquezas e terras, tem uma longa história de alianças com grupos que buscam perpetuar privilégios, em detrimento da democracia e dos direitos dos mais pobres. É uma cara nova para uma velha carranca. A participação de membros do agronegócio em uma tentativa de assassinato e em um golpe de Estado é coerente com a história do setor. A instrumentalização do poder econômico para atacar instituições democráticas e lideranças eleitas revela a face autoritária e violenta dos representantes do agro das elites brasileiras, especialmente entre setores que se beneficiam historicamente de privilégios estruturais.
Sem uma reforma agrária justa e sustentável, como forma de democratizar o acesso à terra e enfraquecer estruturas oligárquicas, a concentração de poder continuará a favorecer conspirações golpistas e assassinas que sempre priorizam o poder e o lucro acima da dignidade humana e do bem comum.
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