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    Helena Chagas

    Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia

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    Ainda bem que Lula reciclou os programas antigos

    "Esses programas voltaram porque uma razão simples: são bons e têm eficácia comprovada", diz Helena Chagas

    Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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    Balanços de cem dias tornam-se, quase sempre, armadilhas que  governos montam para si mesmos, auxiliados pela pronta e inevitável má-vontade da mídia. Afora efeitos de marketing limitado e temporário, não têm maior importância — afinal, os 1.360 dias que restam é que vão decidir as coisas.  Ainda assim, e apesar da enxurrada de levantamentos críticos da imprensa, o saldo deste centésimo dia é amplamente favorável a Lula.

    Lula “reciclou" programas antigos, acusam os jornais. Ainda bem que os reciclou! E não só, por exemplo, para os 3 milhões que vão sair da pobreza extrema este ano graças ao novo Bolsa Família, segundo o Ibre/FGV, ou para quem finalmente vai conseguir uma consulta graças ao Mais Médicos. A economia como um todo funciona melhor quando há mais renda e consumidores, e o poder público reduz despesas com saúde se oferece medicina preventiva. Aliás, aquele outro velho truque usado pelo governo, o de dar aumento real ao salário mínimo, também vai contribuir para melhorar as coisas.

    É ainda o caso da retomada das obras das 180 mil unidades da faixa 1 do Minha Casa Minha Vida, paralisadas no governo Bolsonaro. Não beneficia apenas a população de baixa renda que vai receber as casas subsidiadas, mas faz girar a cadeia econômica da construção civil.

    Nada mais antigo também, nesse critério de avaliação dos cem dias, do que vacinar em massa crianças e adultos, não é? Parece que sim. Mas não é preciso ir longe — só a 101 dias atrás — para se lembrar de um governo incompetente que abandonou o legado de políticas de imunização mundialmente reconhecidas e de um presidente da República negacionista que mandava a população não se vacinar — e morrer de Covid, por exemplo.

    Esses programas voltaram por uma razão simples: são bons e têm eficácia comprovada, o que deixa em plano secundaríssimo o questionamento sobre serem “novidades” ou não. Sua “reciclagem", como a de outras políticas, como as de participação social e reconstrução da cidadania, proteção aos mais vulneráveis e ao meio ambiente, também simboliza a certeza de que tempos obscuros ficaram para trás. Só isso já garante balanço positivo aos primeiros cem dias do governo. Mas há mais.

    Em cem dias — e não podemos esquecer da tentativa de golpe no oitavo — recuperamos a normalidade institucional. Apesar das escaramuças entre Executivos, Legislativo e Judiciário, das chantagens do centrão, das dificuldades para conter fake news e agressões da direita radical no império das redes, entre outras deformações, já não temos mais dúvidas sobre a sobrevivência de nossa democracia. Não há golpes no horizonte.

    Ainda que não gostem de Lula e do PT, os militares estão quietos nos quartéis. Bolsonaro retornou ao país sem arrastar multidões e, em breve, pode se tornar inelegível — se escapar da cadeia. A extrema direita ainda tem força, segundo as pesquisas, e a direita “limpinha e cheirosa” de Tarcísio de Freitas e outros promete ser um adversário forte em 2026. Mas isso faz parte da democracia e da normalidade — o que a essa altura, cabe festejar.

    Lula, é verdade, gastou muito do tempo em que poderia estar tomando medidas concretas de gestão na reconstrução institucional do país. E a tarefa que tem pela frente ainda é enorme, sobretudo na economia, definidora do futuro.

    Mas a busca ansiosa por uma nova “marca” nos cem dias  — sob pressão da mídia e até de gente dentro do próprio governo — em contraposição à “reciclagem” de programas antigos, decorre da concepção distorcida de quem ainda acredita que marketing substitui atos de governo. Não é assim. Daqui a 1.360 dias, quem melhorou de vida — e quem não melhorou — é que vai decidir se Lula 3 foi bom ou não.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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