Ainda há fedor no ar
O que sobrou da ditadura militar? Os resquícios ideológicos reacionários no seio da sociedade brasileira. E eles podem ser resumidos em um nome: bolsonarismo
Após 61 anos da segunda grande tragédia brasileira – a primeira e mais avassaladora foi a escravidão -, o que ainda resta da ditadura militar? Resposta: sobejos ideológicos de extrema direita. Bem..., a censura à atuação política e à Cultura acabou; o Judiciário e o Legislativo voltaram ao seu funcionamento normal; há eleições diretas; mas a violência atroz na sociedade brasileira não foi superada. Ela é cometida pelas forças de segurança do Estado brasileiro: Exército e Polícias nos estados. É apenas menos sistematizada que no período sombrio.
No Brasil há tortura com requintes de crueldade, assassinatos cercados de questionamentos que ficam sem respostas contundentes e discriminação agressiva contra grupos e pessoas de esquerda. Tais violações acontecem, nesse contexto da ditadura militar, porque o pensamento de extrema direita continua vigente e ele é determinante para chancelar abusos perante boa parte da sociedade. O senador Hamilton Mourão, ex-vice-presidente, por exemplo, afirmou à imprensa que “só morreram bandidos ali...”, quando houve operação de forças de segurança no Jacarezinho, em 2022, no Rio de Janeiro. Na ocasião, faleceram 28 pessoas e o general não demonstrou qualquer ressentimento. A população fluminense vivia naquele período sinistra intervenção federal na área de segurança. O comando fora exercido, quem diria, pelo general Braga Netto, hoje preso no contexto da tentativa de golpe. Essa fase do Rio de Janeiro, aliás, carece de estudos profundos para apurar crimes e responsabilidades.
Ao falarmos sobre a ditadura militar é fundamental lembrar que, naquele tempo, pessoas simplesmente desapareciam sem deixar rastro. Eram sequestradas, levadas aos porões do regime, interrogadas sob pancadas e submetidas a humilhações e abusos de todos os tipos. Ao pensarmos em tortura, atualmente ela acontece nas periferias das grandes cidades e nos presídios, sobretudo contra a comunidade negra. Hoje, ainda há perseguições por causa da atuação política, porém, acredito, são menos constantes e explícitas. Basta lembrar das mortes de Moa do Katendê e Marcelo Arruda.
“Eu daria golpe no mesmo dia! Esse País só terá jeito se matarmos uns trinta mil, Fernando Henrique Cardoso também, não vamos deixá-lo de fora não...”, disse, entre outras barbaridades, o ex-presidente Jair Bolsonaro em entrevista à TV Band local, no Rio de Janeiro, em 1999. Veja a truculência da extrema direita. Ele era parlamentar e pai de família na época. Sabia o que estava plantando... Não estava falando palavras ao léu.
Hoje, a podridão do bolsonarismo exala de Norte a Sul do Brasil, talvez, em menor força ideológica que o Movimento Integralista, mas com potencial suficiente para retornar ao Planalto. É obrigação das forças de esquerda, ainda em minoria no País, apoiar Lula (em meio a cobranças à esquerda) nesse momento crucial. Somente assim será possível desodorizar os ares da República.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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