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    Valter Pomar

    Historiador e integrante da Direção Nacional do PT

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    Alckmin sabe o que faz?

    "Alckmin é neoliberal e golpista. Não é um democrata", escreve Valter Pomar

    Geraldo Alckmin (Foto: ADRIANO MACHADO/REUTERS)

    AlckminÉ período de festas de fim-de-ano, mas a política não para, nunca para. Aliás, nada mais político do que dizer “não vamos falar de política neste momento”. Não é preciso tomar a pílula vermelha de Matrix para perceber que a frase acima pode ser traduzida assim: “mesmo que não esteja de acordo, resigne-se e ainda que momentaneamente, aceite as coisas como são e deixe a vida te levar”.

    Não por coincidência, um dos argumentos em favor de Geraldo Alckmin como vice de Lula é o que vou chamar de “resignação cínica”: já que supostamente no final vai dar nisso. Sejamos então os primeiros a defender tal desfecho. 

    O primeiro que vi utilizar esta linha de argumentação foi um velho conhecido, hoje colega de trabalho, segundo o qual não deveríamos criticar Alckmin como vice, pois depois teríamos que esquecer tudo o que falamos a respeito dele e votar assim mesmo.

    Paradoxalmente, o colega acima lembrado é um crítico acerbo do que ele considera como “stalinismo”, mas seu argumento não passa de uma versão 2022 de uma atitude muito comum em dada época da Internacional Comunista. Explico: a partir de certo momento, os derrotados na luta interna deviam não apenas acatar a posição majoritária, mas também fazer autocrítica da posição que defendiam anteriormente e passar a defender - não apenas publicamente, mas também internamente - a posição vencedora. Motivo pelo qual se tornou frequente, para evitar a autocrítica posterior, a atitude de defender desde o início tudo aquilo que a direção e o líder da hora defendiam. O que às vezes implicava defender aquilo que se imaginava que a direção e o líder defendiam, motivo pelo qual a análise política da realidade foi sendo convertida em prospecção dos “humores da corte”.

    Pelo visto não passa pela cabeça do meu colega professor que se possa acatar a posição vencedora no debate e na votação democráticas, mas seguir acreditando e inclusive sustentando a posição derrotada, as vezes internamente, as vezes publicamente, a depender do tema e das circunstâncias. Aliás, arrisco dizer que não passa pela cabeça dele, nem na de muita gente – especialmente dos integrantes do grupo atualmente majoritário -- no que alguns denominam ser o maior partido de esquerda do Ocidente – existirem crescentes semelhanças entre suas concepções e as concepções hegemônicas em certa etapa do movimento comunista.

    No caso brasileiro e petista, vale citar dois episódios recentes. Em 2002 e 2010, muita gente se opôs às indicações de José Alencar e de Michel Temer para, respectivamente, vice de Lula e vice de Dilma. Após certo debate o Partido, nas suas instâncias, aprovou as referidas indicações. Os derrotados no primeiro debate – inclusive os que seriam expulsos do PT em 2003 e os que sairiam por vontade própria em 2005 - fizeram campanha e votaram em Lula e Alencar. E os derrotados no segundo debate também fizeram campanha e votaram em Dilma e Temer. Detalhe: não conheço quem tenha rompido com o PT por conta da candidatura a vice-presidente. As rupturas ocorridas no período deveram-se a outros motivos. 

    Muitos anos se passaram desde então. No meu caso, se pudesse voltar no tempo sabendo o que sei hoje, manteria a posição contrária aos dois vices, mas com diferenças importantes. No primeiro caso, reconheceria o fato de José de Alencar poder vir a ser um aliado na luta contra Palocci e Meirelles, representantes do capital financeiro no partido e no governo, respectivamente. Aliás, convém esclarecer que no momento daquele primeiro debate eu ainda não me dera conta de toda a extensão e profundidade das concessões que o comando da campanha e o futuro ministro da Fazenda fizeram (e fariam) ao grande capital financeiro. 

    No segundo caso – a vice para Temer – eu lutaria com muito mais ênfase para não colocarmos um traidor golpista e neoliberal na vice de Dilma. Ao contrário do que ocorreu no caso de Alencar – em que subestimamos aspectos positivos – no caso de Temer subestimamos e muito os aspectos negativos. Aliás, o esforço que estamos fazendo agora contra Alckmin está relacionado em alguma medida ao aprendizado resultante da experiência desastrosa que tivemos com Temer.

    Mutatis mutandis, muitos dos que são favoráveis a entregar a vice de Lula para Geraldo Alckmin interpretam que o golpe de 2016 teria ocorrido devido aos erros pessoais da presidenta Dilma. Certamente a presidenta Dilma cometeu erros, como Lula e todos nós também cometemos. Também é certo que o fato dela ser a presidenta no momento do golpe faz com que seus erros tenham importância diferenciada; seus erros causaram mais dano, digamos assim. Mas daí a torná-la “culpada pelo golpe” são outros quinhentos. Vargas, Jango e Allende são “culpados” pelos golpes de que foram vítimas? Os que lutaram contra a ditadura são “culpados” pela repressão da ditadura? É possível imputar a uma pessoa, individualmente, a responsabilidade por um processo histórico? Aliás, decisões cruciais tomadas por Dilma - como a de indicar Levy para ser ministro – foram combatidas pelo conjunto do PT? Ou um pedaço substancial do Partido aceitou resignadamente e até apoiou, inclusive indicando nomes alternativos tão ruins quanto? E a postura incorreta adotada frente à Lava Jato, à Polícia Federal, ao Ministério Público e ao STF, aquela postura foi apenas da presidenta Dilma ou foi de um amplo setor do PT e do governo?

    Em resumo: descarregar na pessoa física da presidenta Dilma toda a responsabilidade pelo ocorrido em 2016 é desprezar os fatos, além de ato covarde de quem busca eximir-se de responsabilidades. Mas trata-se de uma postura muito funcional para os que defendem uma “frente ampla” com parte dos golpistas de 2016. Pois nesta versão fantasiosa da história, os golpistas só teriam feito o impeachment porque a presidenta Dilma não teria sabido “dialogar” com eles.

    Adotado este raciocínio, o passo seguinte é pedir desculpas pela rudeza e convocar parte dos golpistas para integrar nossa chapa em 2022, “virando a página do golpe” e fazendo assim - na prática - a tão desejada e famosa “autocrítica do PT”. E quem melhor do que Alckmin para simbolizar este reencontro histórico entre vítimas e agressores? 

    Como disse recentemente um diplomata de quem gosto muito, apesar ou por causa das divergências, Alckmin seria um “homem de bem”, um dos últimos a aderir ao impeachment. Como então não relevar seus malfeitos? Linha semelhante foi adotada por outro importante líder petista, para quem a aproximação entre Lula e Alckmin seria um resgate do PSDB histórico. 

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    Uma das maravilhas da “história” é que cada um tem a sua para contar. Na minha, o PSDB histórico é de FHC, de Serra, de Covas, de Tasso Jereissati, de Aécio e Alckmin, entre outros menos cotados. Pouco depois de criado o PSDB, veio a eleição de 1989, quando os tucanos ofereciam como saída para o Brasil “um choque de capitalismo”. No segundo turno contra Collor, o PSDB se dividiu. Parte importante apoiou Lula, em boa medida graças à pressão de Mário Covas. O gesto foi em certa medida retribuído em 1994, quando Covas recebeu o apoio do PT no segundo turno das eleições para governador do estado de São Paulo. Mas Covas rasgou todos os compromissos feitos no segundo turno, confirmando terem razão os que nos opusemos àquele apoio, aprovado pelo voto da maioria das delegações em um encontro estadual do PT paulista. Na gestão de Covas governador, destacaram-se os malfeitos do então vice-governador Alckmin, que de vice virou governador depois que Covas morreu durante o mandato. Ao mesmo tempo FHC presidia o país, sendo desnecessário neste texto lembrar como e para quem.

    Portanto, desde 1994 pelo menos o PSDB é neoliberal, aliado das forças mais conservadoras, que pouco a pouco foram alterando a composição “histórica” do próprio partido. Alckmin é, ao mesmo tempo, um dos comandantes e uma das expressões deste processo.  Sendo assim, essa intenção de resgatar o PSDB histórico me lembra algumas das voltas ao passado feitas no seriado Dark. Para quem não assistiu, em Dark alguns protagonistas viajam no tempo para tentar localizar o ponto exato em que a história tomou um rumo por eles indesejado. Pois bem: o ponto em que a esquerda fundadora do PT e do PSDB divergiram não foi em 1994, nem em 1989, foi muito antes, foi em ponto anterior até mesmo à fundação dos respectivos partidos. No fundo, o ponto de divergência remete às diferentes maneiras de enxergar o capitalismo brasileiro e as alternativas a ele. O problema, é preciso admitir, é que um setor crescente do PT está aderindo a uma das premissas de fundo da tucanidade, expressas num livrinho famoso: Dependência e Desenvolvimento na América Latina, de Enzo Faletto e Fernando Henrique Cardoso.

    Voltando ao ponto de partida: não há motivo para resignação. Enquanto as instâncias partidárias não tiverem decidido, nosso dever é combater e derrotar aquilo que a deputada Natalia Bonavides chamou de piada de mau gosto. E nesta luta não há motivo para meias-palavras: Alckmin é neoliberal e golpista. Não é um democrata, será na melhor das hipóteses um freio e na pior das hipóteses um conspirador. Eleitoralmente atrapalharia muito mais do que ajudaria. A última vez que escolhemos um vice em nome da governabilidade, o resultado foi Temer. E, como se não bastasse, o efeito programático de Alckmin seria – dadas as circunstâncias históricas - pior do que o da Carta aos Brasileiros.

    Isto tudo precisa ser dito abertamente, até porque a história não termina em 2022 e a crítica em tempo hábil dos caminhos equivocados é fundamental, seja para evitar erros no presente, seja para combater seus efeitos no futuro. Seja como for, se o pior acontecer, não será a primeira vez que vamos preferir errar com o Partido do que acertar contra o Partido. O que incluiria, neste caso, votar em Lula apesar de seu vice.

    “O que falta para tudo dar certo”

    Infelizmente, a grande maioria do povo não está acompanhando este debate sobre quem será o vice de Lula. Noutros países onde vigora o presidencialismo, como o Chile por exemplo, esta figura do vice eleito junto com o presidente não existe. No Brasil desde 1989, não apenas existe como esteve no centro de muitas crises.

    Sem considerar o vice, todas as pesquisas realizadas desde março de 2021 indicam que Lula venceria a próxima eleição presidencial, no primeiro ou no segundo turno. Digo “venceria” devido a dois detalhes que muita gente esquece: o longo tempo transcorrido entre o momento das pesquisas e o momento da eleição e a diferença mesma entre pesquisa e voto na urna.

    O resultado positivo das pesquisas tem levado muita gente a dar por vencida a eleição, como se os inimigos estivessem jogando parados; como se o mundo não estivesse em total rebuliço (vide a provocação da Otan contra a Rússia); como se não fôssemos capazes de cometer erros; como se as eleições já tivessem ocorrido. Paradoxalmente, parte dos que pensam que a eleição está no papo consideram essencial ter Alckmin na vice. Embora muitos não admitam e talvez nem percebam, trata-se de um reconhecimento involuntário de que a vitória de Lula não está garantida. Infelizmente, este prudente reconhecimento vem acompanhado do remédio errado: afinal, Alckmin na vice não ajuda a vencer e atrapalha no governar. Mas antes de falarmos disso, vejamos alguns dos argumentos utilizados em favor da tese segundo a qual Alckmin seria o toque de gênio na obra de arte.

    O primeiro dos argumentos diz respeito a São Paulo: ao transformar Alckmin em vice, supostamente abrir-se-ia caminho para Fernando Haddad virar governador de um dos principais estados do Brasil, contribuindo direta e indiretamente para a governabilidade da terceira gestão de Lula. O segundo argumento diz respeito às eleições: Alckmin vice supostamente garantiria a vitória de Lula, talvez até no primeiro turno, pois traria mais votos do “centro”. O terceiro argumento diz respeito ao que virá depois da vitória: Alckmin contribuiria para a governabilidade, na medida em que dividiria os inimigos e ofereceria – para as elites golpistas – algumas garantias de que um terceiro governo Lula não passaria de certos limites. Como na fábula da ovelha e do lobo, os argumentos nem sempre dialogam, sendo às vezes abertamente contraditórios entre si. Porém nada disto impede algumas pessoas de os utilizarem sequencial e/ou alternadamente. 

    Comecemos por São Paulo: em dezembro de 2021 Alckmin lidera as pesquisas para governador. São Paulo é o segundo orçamento do país, sendo governado pelos tucanos desde janeiro de 1995. Desde então até hoje, PT e PSDB lutam pela hegemonia do estado. Por quais motivos Alckmin nos faria o favor de contribuir para a vitória do PT tanto na eleição nacional quando na estadual? Mais lógico, convenhamos, seria o contrário: em troca da suposta ajuda que ele estaria nos dando na disputa nacional, Alckmin solicitar em contrapartida uma ajuda na disputa estadual, em favor de uma candidatura a governador do seu partido (seja qual for) ou alguma outra solução que favoreça os interesses de classe representados pelo ex-governador paulista.

    Resta perguntar, ademais, se alguém combinou tudo isto com os eleitores? E com os adversários? A esse respeito, é sintomático que a análise política feita pelos favoráveis a chapa Lula & Alckmin no mais das vezes desconsidere os interesses de classe envolvidos. É como se a dificuldade de uma aliança entre PT e PSDB fosse um problema de birra entre líderes, não uma contradição real entre os interesses sociais representados, respectivamente, por petistas e tucanos.

    Passemos ao segundo dos três argumentos citados anteriormente. Ninguém duvida da força eleitoral de Alckmin no estado de São Paulo. Mas qual seria, efetivamente, sua força nacional? Em 2006 Alckmin teve uma boa votação no primeiro turno, mas conseguiu o prodígio de reduzir de tamanho no segundo turno. Em 2018 teve menos de 5% dos votos. Qual o tamanho do eleitorado que supostamente votaria em Lula, por conta de Alckmin ser o vice? A verdade é que ninguém tem certeza da resposta. Além do que, se Alckmin estiver na vice de Lula, isto traria apenas acréscimo ou também provocaria prejuízos? Os defensores da aliança precisam lembrar que muito recentemente, na eleição presidencial de 2018, Alckmin foi candidato e disse cobras e lagartos contra Lula e contra o PT. Uma aliança entre partidos que até ontem se ofendiam violentamente será percebida pelo eleitorado em disputa como sinal de “amadurecimento” ou como prova de “apodrecimento”? Uma deplorável aliança entre os partidos do sistema, como diz um setor da extrema-direita, ou uma providencial aliança para salvar o Brasil? 

    Alguns dos defensores da chapa Lula & Alckmin têm a crença de que a percepção predominante será a “providencial”. Para isso se apoiam no poder mágico do “fascismo”. Em nome de combater o fascismo, toda aliança seria supostamente santa e seria automaticamente perdoada no tribunal da história e das urnas. 

    Os que pensam assim desconsideram a verdadeira história da ascensão e queda do fascismo na Itália, na Alemanha, na Espanha, no Japão e em Portugal. Nos países citados, o fascismo não caiu dos céus nem foi derrotado nas urnas. Além disso, naqueles países a ação da esquerda foi muito mais radical do que temos sido no Brasil. Mas o problema principal da analogia não está na deformação que se faz acerca do fascismo histórico; o problema principal da analogia está no fato de que o governo Bolsonaro não é propriamente “fascista”. O governo Bolsonaro é de extrema-direita, reacionário e tudo o mais que se possa dizer. Tem muitos admiradores do fascismo no governo. Mas o governo enquanto tal ainda não é “fascista”. E naquilo em que ele mais parece fascista, é exatamente quando se comporta como tantos governos de direita no Brasil das últimas décadas: a perseguição e inclusive o assassinato de militantes de esquerda; o estímulo ao fundamentalismo religioso; o desprezo por determinados aspectos da ciência etc. No Brasil, a classe dominante ainda não precisou lançar mão do fascismo estrito senso para esmagar, reprimir e dominar as classes trabalhadoras. Aliás, diferente do ocorrido no passado, neste momento a classe dominante não pode, não quis ou não precisou lançar mão de uma ditadura.

    Apesar disso, o governo Bolsonaro é chamado de fascista por muita gente. Há vários motivos que explicam isso, mas um deles nos interessa muito, a saber: chamar o governo de “fascista” permite considerar como aliado todo e qualquer reacionário (mesmo alguém com laços com a Opus Dei parece razoável aos olhos generosos de certa esquerda). Chamar o governo Bolsonaro de “fascista” permite justificar a mais ampla das frentes, inclusive com quem apoiou a eleição do “fascista”, com quem nunca acreditou que Bolsonaro fosse “fascista” e com quem apoia inúmeros projetos governamentais e legislativos do “fascista”.

    Acontece que as narrativas são poderosas, mas não podem tudo. Contra os fascistas, diz-se, lutou-se e luta-se em favor da democracia. O problema é que a “democracia” segundo os neoliberais não inclui direitos fundamentais, como sabemos todos os que viveram e vivem sob governos tucanos e assemelhados. Também por isso, uma aliança com protagonistas do neoliberalismo tucano não é algo trivial, nem eleitoral, nem programaticamente. Afinal, o governo de Bolsonaro pode não ser “fascista”, mas certamente é neoliberal. A classe dominante e a direita neoliberal tradicional não têm divergências de princípio com o programa implementado pelo governo Bolsonaro. Um bom exemplo disto é Ricardo Salles, aquele da frase “passar a boiada”, que antes de ser ministro de Bolsonaro foi primeiro secretário particular e depois Secretário de Meio Ambiente de... Geraldo Alckmin! Sendo assim, uma aliança com a direita gourmet neoliberal não parece ser o melhor caminho para quem deseja alterar significativamente a vida das vítimas da política neoliberal do governo Bolsonaro.

    Há quem desdenhe deste argumento, afirmando que as pessoas vão votar no Lula, não no vice. Portanto, votariam no programa simbolizado por Lula, não no programa simbolizado por Alckmin. Aceita esta premissa, caberia perguntar por qual motivo então devemos colocar na vice um “homem de bem” (e neoliberal) como Alckmin? 

    Como sabemos, a resposta que alguns dão para esta pergunta é voltar ao ponto de partida, mais ou menos como na fábula do lobo que comeu o cordeiro. Outros mudam de assunto, dizendo que o importante é a bancada de senadores e deputados, motivo pelo qual deveríamos deixar de lado o debate sobre vice. A mensagem oculta nestes e noutros argumentos – resumidos na tese segundo a qual o vice na verdade não importa tanto assim – é a de nos propor “engolir Alckmin como vice sem reclamar”. Além de metidos a espertos, estes argumentos não levam em devida consideração:

    *Que a opção por Alckmin na vice traz embutida a opção por um determinado programa e estratégia;

    *Que na história do Brasil os vices não são nada decorativos (Jango, Itamar, Temer, sem falar no próprio Alckmin etc.);

    *Que a eleição de deputados e senadores se dará nos estados, dependendo em alguma medida das alianças para governador, alianças que em muitos casos estão sendo contaminadas pelo mesmo frenteamplismo presente na solução Alckmin, frenteamplismo que não ajudou no passado, nem ajudará no futuro a ampliar a bancada de esquerda nas eleições parlamentares.

    Nesta altura do debate é comum surgir, como um ás escondido até então na manga, a carta da “federação partidária”. Infelizmente para os que utilizam tal coringa, a maioria parlamentar absoluta de esquerda não está garantida nem mesmo no mais otimista dos cálculos – aquele baseado na TTDB, a saber, a “teoria do tudo de bom”, em que todos os fatores positivos são maximizados e todos os fatores negativos são minimizados. 

    Ou seja, mesmo desconsiderando todos os problemas legais e todas as dificuldades organizativas que uma federação acarreta para um partido como o PT, mesmo desconsiderando todas as evidências de que uma federação implicaria  transferir para outros partidos parte do crescimento eleitoral que o PT venha a ter nas eleições de 2022; mesmo desconsiderando os efeitos de uma federação sobre nosso Partido nas eleições de 2024 e no que virá depois; mesmo desconsiderando que o PSB não é propriamente de esquerda (apoiou oficialmente Aécio em 2014, grande parte apoiou o golpe em 2016, grande parte vota junto com o centrão e com Bolsonaro, sem falar nos diretórios do PSB controlados pela direita em grande número de municípios e estados do país); enfim mesmo desconsiderando tudo isto, o fato é que a tal federação partidária não garante maioria de esquerda no Congresso. 

    Na verdade, o tema federação e o tema Alckmin, embora estejam relacionados, não são a mesma coisa. A rigor, do ponto de vista dos frenteamplistas mais radicais, o ideal seria Geraldo Alckmin se filiar em um partido como o PSD de Kassab ou o Solidariedade do Paulinho da Força, permitindo constituir assim uma frente mais ampla ainda, neste caso entre o PT, a tal “federação” e outros partidos mais à direita. Além de provar que certos poços não têm fundo, o fato é que ter Alckmin na vice de Lula não é garantia de vitória, nem no primeiro, nem no segundo turno, nem na eleição congressual.

    Vale dizer ainda: que Alckmin se “venda” assim, vá lá. Mas que gente de esquerda o “compre” com estes argumentos é, além de minúscula estima, guarda baixa em estado máximo, sem falar de forte miopia. Minúscula estima por desvalorizar a força eleitoral do PT e de Lula, obtida sem os tucanos e contra os tucanos. Guarda baixa por fazer depender - tanto nossa vitória eleitoral quanto nosso êxito no governo - da atitude de terceiros, adversários e inimigos. Forte miopia, por não atentar ao risco que consiste em antecipar para agora “alianças de segundo turno”, pois se acontecer o mais provável – um segundo turno, como ocorreu até mesmo quando estávamos no governo e em nosso melhor momento – então neste segundo turno teremos muita dificuldade para crescer, podendo acontecer o pior. Como diz o ditado, esperteza, quando é demais, engole o esperto. 

    Todas as razões elencadas anteriormente, assim como outras que não foram citadas, conduzem vários analistas – inclusive defensores da aliança – a reconhecer que Alckmin é demasiado pesado, programática e eleitoralmente. Entretanto, argumentam que mesmo assim ou por isso mesmo ele seria útil no governo. Um marqueteiro chegou a comparar Alckmin na vice com a “Carta aos brasileiros”. E um jornalista adversário da fórmula destacou que, ao colocar Alckmin na vice, estaríamos definindo os limites do programa antes mesmo de ele ser debatido nas instâncias partidárias.

    O tema da governabilidade não deve ser minimizado. De saída, sabemos que haverá a oposição da extrema direita (bolsonarista, lavajatista, militarista, fundamentalista etc.), que não apareceu do nada e também não vai desaparecer do nada depois da eleição. Sabemos, também, que enfrentaremos circunstâncias internacionais e nacionais, econômicas e sociais, muito mais difíceis em 2023 do que foram em 2003. E sabemos, finalmente, que teremos a oposição dos neoliberais, ou seja, a direita normal, gourmet, que gosta de ser vista como democrática, mas é a responsável pelo golpe de 2016, além de ter contribuído e aplaudido a prisão, condenação e interdição eleitoral de Lula. Sem falar das dificuldades institucionais (minoria no Congresso, minoria entre os governadores, minoria no sistema judiciário, minoria nas forças armadas e de segurança, além de bloqueios legais os mais diversos (a começar pelo Banco Central independente e pela Lei do Teto de Gastos) e também sem contabilizar nossa capacidade de organização e mobilização, menor que a necessária, e o conservadorismo ideológico excessivo em amplas camadas da sociedade brasileira.

    Portanto, não há como falar de governabilidade futura, sem admitir que será um imenso problema, agravado pelo fato de que será cobrada de nós uma solução rápida para problemas que, em outros governos, são apresentados ou vistos por muita gente como parte da paisagem.

    A questão é: como enfrentar isto tudo? Os que acham que uma aliança com Alckmin ajudaria, estão fazendo implícita ou explicitamente duas afirmações e uma aposta. A primeira afirmação é a de que o limite programático para a reconstrução e transformação é aquilo que for aceitável pela média do tucanato (erro que já nos custou caro em 2003 e 2004, quando a situação econômica e social era melhor do que a atual). A segunda afirmação é a de que nossa governabilidade dependerá essencialmente da institucionalidade (erro que nos custou caro em 2016: ganhamos quatro eleições presidenciais, mas não conseguimos organizar a devida reação popular ao golpe). E a aposta é a de que ter Alckmin na vice seria o suficiente para evitar sermos colocados contra as cordas logo no início do governo. No papel, esta aposta e as afirmações anteriores soam bonito. Acontece que a equação adotada entre 2002 e 2005 foi muito parecida com esta. E o resultado sabemos qual foi: adotamos um vice proveniente da classe dominante, apostamos na governabilidade institucional, fizemos concessões programáticas aos tucanos e, apesar disso ou por causa disso, o fato é que eles vieram para cima de nós com tudo.

    Repetir a equação vinte anos depois, num cenário objetivamente pior, já seria de um otimismo a toda prova. Mas repetir a equação, alterando para pior uma das variáveis, aí estaríamos diante de sadomasoquismo com tendências suicidas. Explico: no auge da crise do chamado mensalão, a proposta de impeachment não prosperou entre outros motivos porque o vice não estava disponível para participar do golpe. Por hipótese, em situação similar à da crise de 2005, Alckmin seria solidário como Alencar ou traidor como Temer? A simples dúvida deveria nos fazer optar por uma vice de confiança e com identidade programática.

    Um tema de fundo

    Por onde quer que se analise objetivamente a proposta de entregar a vice para Alckmin, encontramos contraindicações em grande número. Ainda assim, a campanha em favor da fórmula Lula & Alckmin segue a toda velocidade, na maioria dos casos manifestando olímpica indiferença aos argumentos contraditórios. Em alguns casos, apela-se para descarado revisionismo histórico, que apresenta Alckmin como se ele fosse um democrata. Um jornalista da velha guarda, talvez inundado pelo espírito de perdão característico do fim-de-ano, chegou ao ponto de minimizar o papel do ex-governador paulista em episódios como o do Pinheirinho. Anos e anos de governo tucano, com violência sistemática contra os pobres, negros e negras, jovens de periferia, tudo isso é atribuído a sabe-se lá quem.

    Há várias explicações para tamanho despautério. Uma delas é a seguinte: séculos de história já demonstraram o quão difícil é mudar profundamente este país. Neste sentido, a defesa de Alckmin na vice é apenas a versão 2022 de uma postura muito comum em setores da esquerda brasileira: se não podemos vencê-los, vamos nos unir a uma parte deles. É como se dissessem algo mais ou menos assim: “vamos seguir lutando pela nossa soberania, aliados aos gringos e seus representantes. Vamos seguir lutando pelo bem estar social, aliados aos neoliberais. Vamos seguir lutando pelas liberdades, aliados aos golpistas. Vamos seguir lutando pelo desenvolvimento, aliados aos defensores da primário-exportação”. Não vai dar certo, como nunca deu. Mas se as circunstâncias, inclusive a luta popular, não atrapalharem a cena, esta será a peça oferecida - mais uma vez - no teatro da política institucional brasileira.

    É neste ponto do debate que aparecem tolices do tipo: “quem não defende Alckmin na vice é porque acha que a conjuntura é pré-revolucionária”. Este tipo de argumento me recorda um episódio ocorrido numa reunião do Diretório Nacional do PT, creio que durante o primeiro mandato de Lula, quando um companheiro senador argumentava em favor da política de juros, afirmando a necessidade de levar em conta a correlação de forças etc. Fiz a este senador uma pergunta mais ou menos assim: “entendi o argumento acerca da correlação de forças, mas por favor me explique por qual motivo a correlação de forças exige uma taxa de juros tão alta e por qual motivo impede uma taxa de juros um pouco menor, mesmo que seja um ou dois pontos menor”. O senador teve então que admitir que a taxa de juros imposta pelo Copom era mesmo mais realista que o rei e que havia margem para uma taxa de juros menor. Isto posto, no caso em tela neste santo ano de 2022, é óbvio que a conjuntura é complexa e difícil, mas daí não resulta como única alternativa fazer uma concessão tão profunda quanto indicar como vice um neoliberal golpista. Na verdade, a conjuntura é complexa e difícil e por isso mesmo não podemos facilitar e cair em armadilhas que podem ser fatais; e o fato de Lula liderar as pesquisas indica ser possível adotar uma tática mais ousada. 

    Outra tolice que vem sendo dita por algumas pessoas neste ponto do debate é que combater a alternativa Alckmin seria igual a atacar Lula. Estritamente falando, trata-se exatamente do contrário: colocar um vice neoliberal e golpista é estimular a direita a promover ainda mais ataques contra Lula.

    Embora o argumento “criticar Alckmin = atacar Lula” seja mera tolice, há uma cepa mais perigosa. Refiro-me ao argumento segundo o qual se Lula quiser Alckmin na vice, devemos aceitar porque “Lula sabe o que faz”.

    Em si mesma, esta afirmação é meio acaciana: afinal, todo mundo que pensa antes de agir “sabe o que faz”, mesmo que no final dê tudo errado. Entretanto, com a frase “Lula sabe o que faz” o que se pretende afirmar é algo do tipo “papai sempre tem razão”. Como sobre papai já sabemos a resposta, cabe a pergunta: Lula sempre tem razão?

    Lula tinha razão ao defender o parlamentarismo, em 1993? Ao confiar não apenas na política econômica, mas também no caráter de Pallocci? Ao acreditar naqueles que garantiram, no dia 7 de abril de 2018, que ele seria solto rapidamente?

    Poderíamos citar outros exemplos, mas os acima relacionados parecem suficientes para demonstrar que, ao menos no passado recente, não é verdade que Lula acertaria sempre. Entretanto, não me surpreende que tanta gente acredite nisto. Afinal, Lula é o famoso líder carismático, do tipo que inspira uma devoção legítima e sincera em muita gente. Não é o primeiro e não será o último, nem no Brasil, nem no mundo, nem no movimento socialista, nem fora dele. Mas constatar um fato – muita gente acredita mesmo que Lula acerta sempre – não nos obriga a tratar esta crença como se fosse realidade.

    Aliás, vamos combinar: existe muita gente que, embora repita bem alto que “Lula sabe o que faz”, na verdade não acredita que Lula acerte sempre. Apesar disso, usa tal crença para tentar ganhar os debates internos. Há inclusive bizarrices do tipo: certo cidadão residente no estado do Rio de Janeiro acha que Lula errou ao indicar Dilma para sucedê-lo em 2010, errou ao não brigar para suceder Dilma em 2014, errou ao (supostamente) “insistir em ser candidato” em 2018, mas agora em 2022 o mesmo cidadão estimula o discurso “Lula sempre tem razão”.

    Muitos dos que agem assim são os mesmos que – se tudo der errado – vão dizer “a culpa é do Lula”, mais ou menos como fazem ao atribuir apenas à Dilma a “culpa” pela política econômica de 2015, omitindo como pensavam ou até mesmo como votaram naquele mesmo ano no congresso do PT em Salvador.

    A lógica por detrás da crença “Lula sempre acerta” é não apenas contraditória com o espírito coletivo que deve caracterizar o socialismo e a democracia, é também contrária ao bom senso científico. Num laboratório, geralmente podemos testar nossas hipóteses: deu errado, fazemos novo teste modificando algumas variáveis. Na luta política, especialmente em escala nacional, a chance de “repetir o teste” é a exceção, não a regra. Por isso, o debate é tão importante quando vamos tomar decisões políticas: o choque entre diferentes ideias funciona, até certo ponto, como um substituto para os testes laboratoriais. Tentar interditar o debate, com o argumento de que a hipótese defendida por fulano ou por beltrana é, por definição, a “certa” é o caminho garantido para cometermos erros que vão prejudicar a todos nós, não apenas a pessoa que supostamente sempre acerta.

    Importante dizer algo mais: quem acredita que Lula sempre acerta na campanha, também acreditará que Lula sempre terá razão no governo. Se isso for aceito como regra, teremos convertido a disciplina partidária em obediência cega e a república em despotismo ilustrado.

    Registro ter a mais absoluta convicção de que Lula não acredita nesta fábula. Pode até gostar da crença ou de alguns dos teólogos que a difundem, mas seguramente Lula não acredita ser infalível. Aliás, até para exercer com eficácia seu papel de liderança, ele usa com frequência o método de arbitrar entre diferentes posições defendidas por seu círculo mais próximo, pelos dirigentes do partido, pelo núcleo do governo etc. E como arbitrar, se todo mundo sempre defender a mesma coisa? Pior, se todo mundo – ao invés de falar o que pensa – se limitar a defender desde o início do debate aquilo que supostamente Lula vai decidir no final do debate?

    Vale destacar, também, que atribuir a Lula a primeira e última palavra em todas as decisões o expõe, não o protege. Ele próprio já afirmou, publicamente, que cabe ao Partido decidir quem será o vice, através de suas instâncias e mediante o devido debate. Também por isso, devemos respeitar os que sinceramente acreditam que Lula sempre acerta; mas devemos combater os que fazem isso por oportunismo, preguiça mental, puxa-saquismo ou resignação. Prestam um desserviço ao Partido e ao próprio Lula.

    E por falar em desserviço e resignação, estas são as palavras certas para descrever a atitude de uma parte da esquerda frente à intensa pressão em favor de que Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e eterno tucano, seja candidato à vice-presidência da República na chapa encabeçada por Lula. Contra esta atitude, lanço a seguinte pergunta: Alckmin sabe o que faz?

    Depois de receber tantos elogios desmerecidos, Alckmin está em posição privilegiada. Pode decidir “aceitar” ser vice na chapa de Lula e cobrar um preço alto por isto. Pode decidir disputar o governo do estado de São Paulo, com a certeza de que receberá menos ataques no seu flanco esquerdo. Há riscos imensos nos dois casos e em suas variantes: afinal, para Alckmin a aproximação com o PT não traz apenas bônus, tem também seus ônus. A redução de ataques no seu flanco esquerda já está sendo acompanhada de mais ataques no seu flanco direito. Seja como for, para Alckmin o potencial futuro da situação é imenso: depois de atropelado pelo bolsonarismo em 2018, depois de apoiar por ação ou por omissão a implementação de boa parte do programa bolsonarista e lavajatista, o “centro” - leia-se, o neoliberalismo gourmet, cuja principal expressão são os tucanos - está ressurgindo e pode olhar tanto para 2022 quanto para 2024 e 2026 com maiores esperanças.

    O “centro” (ou seja, a direita gourmet) expressa um dos três pedaços em que se divide politicamente, hoje, a classe dominante brasileira. Um destes pedaços segue com Bolsonaro. Outro pedaço aposta na “terceira via”, ou seja, no bolsonarismo sem Bolsonaro, alternativa hoje personificada em Moro. E o terceiro pedaço da classe dominante aposta em domesticar Lula e o PT. Neste caso, para dar nome e sobrenome, vale citar a frase de Pedro Tobias, ex-presidente do PSDB de São Paulo: “Lula vai ganhar eleição com ou sem Alckmin. Vamos amansar um pouco, puxar Lula para o centro, maneirar o radicalismo que hoje vive o Brasil. Alckmin vai ajudar Lula, vai trazer a classe média, dar confiabilidade”.

    Não é coincidência que tudo isto venha junto com o debate sobre uma “federação” que na prática ameaça e muito a autonomia, o protagonismo e a independência de classe do PT. Se no frigir dos ovos Alckmin entrar no PSB e o PT federar com este partido, teremos uma tempestade perfeita.

    Seja como for, a resposta para a pergunta feita acima é: sim, Alckmin “sabe o que faz”. Se vai dar certo ou não, depende de muita coisa, desde a tensão mundial até a luta de classes em nosso país. Depende, inclusive, de saber se nós do PT vamos escolher a resignação ou a rebeldia. E o que está em jogo não é apenas a vice. O problema de fundo está em saber como vamos lidar com os problemas profundos que o país vive, problemas que podem ser resumidos em perda de soberania, redução de liberdades e bem-estar, regressão no desenvolvimento. E que podem ser quantificados, por exemplo, em 619 mil mortos por Covid, 15 milhões de desempregados, 20 milhões de famintos.

    No modelo defendido pelos neoliberais (não importando se bolsonaristas, lavajatistas ou tucanos, com ou sem carteirinha) não existe futuro para uma boa parte da população brasileira, especialmente para a classe trabalhadora, com destaque para os mais pobres, para os mais jovens, para as mulheres, para negros e negras, para os moradores das periferias, para os indígenas e quilombolas, para as pessoas com deficiência, para os LGBTs, para os que defendem um mundo sem negacionismo e sem fundamentalismo, para as pessoas que alimentam a cultura da esperança no futuro de toda a humanidade.

    Uma vez que é incapaz de oferecer um futuro melhor para a maioria, “amansar o radicalismo” do povo e da esquerda interessa e muito à classe dominante. Portanto, Alckmin sabe muito bem o que faz. Cabe a nós também fazer a coisa certa, ou seja, o contrário.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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