Alhos e bugalhos
Guilherme Boulos será o próximo prefeito de São Paulo. Isso acontecerá se ele vestir a camisa da esquerda radical
Desde a meninice aprendemos que não se pode confundir alhos com bugalhos. O primeiro é alimento, o segundo, mesmo tendo o nome parecido, não. Nesse momento eleitoral, tal noção pode explicar as condições, as chances, que Guilherme Boulos tem para se tornar o próximo prefeito de São Paulo. Elas são menores que as de Ricardo Nunes, mas existem.
O caminho que Boulos deve seguir é o da radicalidade. Isso mesmo. Em debate, deve ir a raiz dos problemas do povo. Ele terá de obrigatoriamente explicar o que está errado em São Paulo e defender os cânones da esquerda com toda a emoção, mas sem fazer coração com as mãos. O confronto marcará o segundo turno. Ao assumir-se como representante da esquerda, Boulos terá de enfrentar temas que serão empunhados contra ele como arma por Ricardo Nunes e a grande imprensa. Vamos a eles.
A Venezuela não é uma ditadura. Hugo Cháves não foi ditador nem Maduro o é. O imperialismo estadunidense quer causar barafunda na opinião pública mundial a respeito da Venezuela para enfraquecer o governo e colocar suas mãos sujas de sangue sobre o petróleo daquele país. O sionismo comete genocídio contra o povo palestino com a participação e anuência de Washington. Guilherme Boulos, será questionado sobre tais temas e tem de responder com vigor, não deixar dúvidas, e se posicionar efetivamente como alguém de esquerda. Tecer discurso dúbio sobre assuntos que estão em alta significa perder terreno para Nunes. O postulante a reeleição se expressa de maneira enfática e contrária as proposições de esquerda. Por isso Boulos não pode titubear, a massa espera dele essa postura e contundência. Ser de esquerda, em outras palavras, é se colocar perante o eleitorado e a população em geral como alguém que reconhece e propõe mudanças reais e radicais para a vida da classe trabalhadora. Ricardo Nunes terá muito dos votos do inesquecível Pablo Marçal, conforme apontou a última grande pesquisa. Ou seja, não será fácil vencê-lo.
Boulos terá de discutir para além da catraca livre nos ônibus aos domingos. Tem de defender a ideia de “cidade sem catracas”. Tem de propor nova estratégia no âmbito da saúde. Dentro do plano, a saúde deve ser ampla e preventiva, o modelo de Cuba deve ser lembrado e exaltado. O médico deve estar junto ao povo. Boulos tem de falar firme sobre o sistema judiciário, racista e excludente. Ao mesmo tempo deve aglutinar a seu lado muitos magistrados de esquerda, no sentido de deter apoio para as necessárias desapropriações de imóveis a serem feitas nos próximos quatro anos, principalmente, no centro da metrópoles. Guilherme Boulos tem de recorrer a conceitos antigos e válidos do marxismo, mas tem de dizer de forma fácil, na linguagem do povo. Por exemplo, não é a continuidade dessa democracia que devemos defender, mas a exacerbação dela, isso sim. A ideologia imortal do proletariado surgiu para cativar mentes, corações e mudar o mundo. Tal conceito também é válido para São Paulo. O que os eleitores não podem é nutrir dúvida sobre alhos e bugalhos.
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