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      Inez Lemos

      Psicanalista e autora de "Berro de Maria", ed. Quixote.

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      Amor negado, violência banalizada

      Adolescência destaca o comportamento dos garotos em relação às garotas

      Owen Cooper em "Adolescência" (Foto: Divulgação/Netflix)

      A minissérie Adolescência (Netflix) convoca os pais à necessidade de regular o uso da Internet aos filhos. Acompanhar, investigar as pegadas no aparelhinho - o perigo mora ao lado. Limitar, interditar, exercer autoridade de pais é fundamental, não podemos abrir mão do controle sobre os menores.

      Contudo, Adolescência destaca o comportamento dos garotos em relação às garotas - geralmente tratadas com desprezo e ódio. A cultura nos ensinou a olhar a mulher como um corpo que, numa relação, se abre para o homem num ato de amor - quando ela aceita e deseja que ele a adentre, a penetre. Momento em que corpo e alma se unem numa parceria de carinho, tesão e emoção. Hoje, talvez soe ridículo.

      O capitalismo, ao se apropriar do desejo sexual, transformou-o em negócio, objeto de consumo - o sagrado, banalizado, perde a essência humana, substância interna.

      O capital, ao investir contra a subjetividade, destrói nosso néctar - prazer sublime que sentimos ao proporcionar alegria e emoção ao outro por sermos quem somos. Ao circular fora da subjetividade, disponibilizamos o corpo ao outro.

      A mulher, com raras exceções, se tornou aos olhos da cultura misógina, machista e insana, pedaço de carne desqualificado, odiado. Desconstruimos a possibilidade de relações harmoniosas, saudáveis.

      Somos alvos de homens infelizes, garotos frustrados. Impotentes diante da vida, se unem na amargura. Adolescentes jogados à própria sorte se educando pelo TikTok, Yotubers, comunidades escrotas onde estupro é normatizado.

      Para os Incels, celibatários involuntários, o laço social se realiza no ressentimento - raiva por não fazerem uma mulher gozar. Cresceram solitários, sem transcender a aridez do mundo. Faltou- lhes convivência com arte?

      Nada pior que, do alto do vazio existencial, sentir que não ecoa no outro, não suscita interesse.

      Os pais, geralmente usuários tóxicos de celulares, ao negar tempo de seus dias aos filhos, os enredam na miséria de sentimentos. Aprendemos a amar com quem nos educa.

      Rejeição, exclusão provocando vergonha, humilhação - crimes em resposta ao deserto afetivo. Negar atenção, dedicação ao filho é banalizar a violência.

      Assim caminhamos ao massacre feminino. Ódio àquela que desperta desejo e deflagra impotência diante da pulsão fracassada - não ter um lugar no desejo do outro, outra.

      "Adolescência" retrata o futuro morto que construímos por eles se sentirem um zero à esquerda - incompetentes nas relações interpessoais.

      Faca e sangue tamponando o niilismo existencial - tragédia anunciada ao negarmos educação responsável.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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