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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Apertem o cinto, o ministro sumiu

    O ministro da Defesa, José Múcio, não dá declarações à mídia há quase dois meses, mesmo em meio ao acirramento das investigações da PF contra militares

    José Múcio Monteiro (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

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    A última vez que o ministro da Defesa, José Múcio, teve o seu nome citado na mídia, foi para levar uma espécie de nota 7, no boletim. O presidente Lula, entrevistado pelo jornalista Kennedy Alencar, no dia 28 de fevereiro, avaliou: "Múcio tem feito um trabalho adequado", disse, afirmando que é preciso aproximar a sociedade e as Forças Armadas e que a instituição "não pode ser tratada a vida inteira como se fosse inimiga”. 

    No mais, declaração em entrevista que consta numa busca rápida no Google, data do dia 7 de janeiro deste ano, e foi dada para justificar: “As instituições estavam absolutamente ao lado da democracia. Exército, Aeronáutica e Marinha estavam absolutamente a favor da Constituição. Evidentemente que você tinha (indisciplinados). Como num clube de futebol, tem um jogador indisciplinado no jogo, você tira o indisciplinado, mas o time continua”.

    Desta vez, porém, o número de indisciplinados é tão grande que o Alto Comando do Exército, que até então tinha vindo a público para dizer que os que participaram de conspirações ou atos golpistas deveriam pagar, e era hora de “separar o joio do trigo”, agora se condói e se diz irritado. Tradução: incomodado.

    Só para lembrar o texto de um premiado comercial das antigas, de absorvente feminino, “incomodada ficava a sua avó”. 

    E o que tem deixado os nossos valorosos “defensores” tão incomodados? O fato de desta vez não terem o controle da situação. A bola está com a justiça comum, como mandam as regras do jogo. Sendo assim, eles que queriam separar os que devem dos que não devem, à sua maneira -, colocando, por exemplo, limites de qual o grau da patente ou que nomes poderiam ir as punições -, veem-se às voltas com o sigilo imposto pela PF sobre as investigações.

    E tanto choraram pelos cantos, resmungaram e rangeram dentes, que suas lamentações vazaram para a mídia tradicional. Pode ser que o fato tenha sido proposital e positivo para eles, pois soa como um recado de que não estão gostando do rumo da condução desse processo. Fato é que estão indóceis. Reclamam, por exemplo, de que não têm acesso aos dados sobre os militares citados nas investigações. E, quando os dados vazam, vêm a conta gotas, o que exaspera o Alto Comando. 

    Ora, ora, ora, o que diremos nós, que estamos pacientemente esperando o caminhar dessa história, até vermos o tão esperado desfecho: todos os envolvidos devidamente presos? 

    Calma, senhores. O que foi estabelecido publicamente, pelo (saudoso?) ministro José Mucio, foi que o “jogador” faltoso seria tirado do time. Acontece que pelo andar da carruagem, já há dois times e um reserva dependurados nas contas da PF, sem que os seus “superiores” saibam o que consta, afinal, no rol de provas que se avolumam. Em sendo assim, não será possível, por exemplo, construir “narrativas” (fiquei toda encaroçada só de escrever a palavra), como a que montaram para o general Marcos Freire Gomes, após saberem o que pesa contra ele. 

    De posse dos dados, elaboraram o seguinte: Freire Gomes não passou a troca de comando na data devida, não por rebeldia ou para deixar patente a indisciplina com relação ao comandante-em-chefe entrante, na pessoa do presidente Lula, porque estava amparando a sua mãe no leito de morte. Tolerou os acampamentos golpistas, “porque não houve um pedido oficial para que fossem retirados”. (Sabe-se ser isso uma mentira. Foi fartamente noticiada a sua recusa em fazê-lo, no dia 29 de dezembro de 2022). De frente para uma minuta golpista, cuja existência foi confirmada por Bolsonaro na manifestação do dia 25, fez ajustes no documento e considerou-a “enxuta”. Ou seja, aprovou o resultado dos seus pitacos. Para o Alto Comando, no entanto, Freire é um herói, que de volta para o quartel segurou as tropas e confabulou com generais “legalistas” evitando o mal maior. 

    Tudo tão arrumadinho, que certamente deveria ser feito também para beneficiar os militares de patentes altas e que se encontram presos: o coronel Bernardo Romão Correia Neto, o major Rafael Martins de Oliveira e o coronel Marcelo Costa Câmara. A desculpa dos integrantes das Forças Armadas é a de que precisam da íntegra das informações sobre a investigações, para poder abrir processos internos de punição dos envolvidos, sob pena de cometerem “injustiças”. 

    Quisessem, de fato, abrir processo e apurar os seus no Conselho de Justificação, já teriam motivos de sobra. Salta aos olhos que o discurso do senhor Mucio - o de separar o joio do trigo -, pode estar preparando a pizza. Talvez com esse tal trigo. Enquanto o forno é aquecido, silêncio por parte do ministro.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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