Artigo de Flávio Bolsonaro na Folha de S Paulo é capitulação do jornal à "Máquina do Ódio" denunciada por Patrícia Campos Mello
Em 2018, repórter da Folha descobriu e denunciou a engrenagem da usina de mentiras do bolsonarismo. Agora, publicação se presta a legitimar fake news
Por Luís Costa Pinto, do 247 – Em esforço de reportagem que infelizmente foi raro no curso da campanha presidencial de 2018, a jornalista Patrícia Campos Mello expôs na Folha de S. Paulo uma parte da engrenagem que movimentava a usina de mentiras do bolsonarismo.
Discurso de ódio, disseminação de conceitos falsos sobre programas sociais, distorção de fatos e manipulação de fotos e imagens a fim de legitimar as fake news eram a matéria-prima da “Máquina de Ódio” flagrada por Campos Mello com ineditismo a partir do esquema de distribuição das mentiras que foram em larga medida responsáveis por eleger presidente da República um político despreparado, desqualificado, pérfido, vil, ignorante, misógino, acanalhado no jeitão meio palerma-de-caserna que faz de forma estudada a fim de seguir enrolando os desmiolados que o seguem. A outra parte de seus seguidores (talvez a maior delas) é integrada por quem tem má-fé e espera integrar uma das boquinhas com dinheiro público viabilizadas por ele para grupos como o Centrão (civis) e policiais, militares e milicianos em geral.
Em seu livro “A Máquina do Ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital", de 2020, publicado pela Cia. das Letras, Patrícia Campos Mello, que hoje integra o Conselho Editorial da Folha de S.Paulo, revela-se que as mentiras espalhadas por aplicativos de mensagem tinham sempre um “berçário” minimamente tradicional que dessem a elas o verniz de “suspeição de verdade”, ou que deixasse o receptor da mentira na dúvida sobre se tal mentira era “fato” ou “fake”. Plantar a dúvida, para os mentirosos, era já uma vitória.
Em 2018, a “Máquina de Ódio” descrita a partir das reportagens da Folha flagrou, basicamente, o Whatsapp como catapulta das fake news. Empresários ligados às hordas do bolsonarismo, arregimentados pelos filhos do candidato ou por dirigentes da campanha dele, pagavam os disparos a partir de robôs instalados fora do Brasil. A plataforma tem buscado corrigir erros de posicionamento e falhas de funcionamento desde então, colaborando com as instituições democráticas.
Agora em 2022, o Telegram, aplicativo desenvolvido por uma empresa de capital russo e baseada no Catar, um emirado árabe sem lei, mas, “com rei” – um emir –, governado autocraticamente, cumpre a função de plataforma de dispersão das mentiras. Não à toa, Jair Bolsonaro é, dentre os políticos brasileiros, o campeão de seguidores no Telegram, ferramenta essencial à estratégia central de sua campanha à reeleição: espalhar mentiras. Para tanto, precisa que fake news costuradas de forma a fazer verossímil o conjunto de mentiras – o tal “berçário de suspeição da verdade” descrito acima – sejam produzidas. Foi o papel ao qual a Folha de S. Paulo se prestou na página 3 (Tendências/Debates) de sua edição desta 3ª feira, 22 de fevereiro de 2022.
Assinado pelo senador Flávio Bolsonaro, o artigo “Moro soltou Lula” põe no papel impresso do jornal da família Frias um conjunto de mentiras costuradas por suposições saídas diretamente da consultoria jurídica e midiática do filho “01” de Jair Bolsonaro. Quem chefia essa consultoria, mesmo informalmente, é o notório Frederik Wasseff, advogado indiciado por racismo e que costuma se confundir com os réus aos quais atende. Wasseff é o mesmo que alcovitou Fabrício Queiroz, o arquiteto do esquema de "rachadinhas" pelo qual vários Bolsonaros foram investigados. Ter Flávio Bolsonaro assinando o texto publicado pela Folha é parte da estratégia da “Máquina de Ódio”: a imunidade parlamentar dos senadores serve, no caso, se anteparo e escudo a respostas jurídicas que venham a ser traçadas por quem se sentir desrespeitado ou desonrado pelo assalto à inteligência ora cometido naquele que já foi um espaço nobre de opiniões e debates da imprensa brasileira.
Ao servir de plataforma de lançamento para aleivosias diligentes e em sintonia com o rol de crimes cometidos pelo clã Bolsonaro, o jornal sediado à Rua Barão de Limeira, 125, no centro de São Paulo, mostra que capitulou ante a “Máquina de Ódio” denunciada em suas próprias páginas, talvez, num dos derradeiros suspiros do que um dia foi a Folha de S. Paulo.
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