Artistas estão à deriva com Bolsonaro e Regina Duarte
Em meio à pandemia do novo coronavírus, teatros, cinemas, casas de shows e centros culturais estão fechados. Sem renda e com pouco ou nenhum apoio do poder público, em especial do governo federal, os artistas estão desamparados
Os ataques de Jair Bolsonaro aos artistas não vêm de ontem. A tônica do presidente é a promoção do autoritarismo e a desvalorização das artes: o Ministério da Cultura foi extinto, o teto da Lei Rouanet (a lei de incentivo à cultura) caiu de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão (e depois, em nova mudança, ficaria estabelecido em 10 milhões de reais, o que demonstra a completa falta de planejamento desse governo), a Agência Nacional de Cinema (Ancine) é boicotada e os projetos que não condizem com o viés ideológico de Bolsonaro sofrem censura (esse, por exemplo, foi o caso do filme inspirado na vida do político e guerrilheiro Carlos Marighella, executado em 1969 pela ditadura).
Em meio à pandemia do novo coronavírus, teatros, cinemas, casas de shows e centros culturais estão fechados. Sem renda e com pouco ou nenhum apoio do poder público, em especial do governo federal, os artistas estão desamparados... e no que depender de Bolsonaro, continuarão assim. Ciente desse problema urgente, propus um Projeto de Lei (184/2020) que cria uma Renda Básica Emergencial na cidade de São Paulo. O projeto inclui os artistas, mas ainda precisa ser aprovado.
O Congresso ampliou o auxílio emergencial de 600 reais para um número maior de brasileiros. Isso foi em 22 de maio e, até o momento, o presidente não aprovou o projeto de lei que já poderia estar em vigor. Ele só parece ter pressa em nomeações para a Polícia Federal - nem parece que estamos em meio à pandemia mais grave da nossa história. Além de ignorar a urgência do tema, Bolsonaro quando (e se) assinar o projeto, segundo Onyx Lorenzoni, Ministro da Cidadania, deverá vetar boa parte dos novos possíveis beneficiários, entre eles os trabalhadores das artes e da cultura.
Regina “E Daí?” Duarte
A ex-atriz Regina Duarte assumiu a Secretaria Especial da Cultura logo após o seu antecessor, Roberto Alvim, copiar um discurso do ministro nazista Joseph Goebbels. Desde a sua posse, em 4 de março, ela não apresentou nenhuma proposta de apoio ao campo da cultura. Novamente: nem parece que estamos em meio à pandemia mais grave da nossa história. E na semana passada, em entrevista à CNN, ela protagonizou um dos momentos mais grotescos (e repugnantes) de um governo que se esforça em oferecer o pior ao Brasil.
Além do desrespeito aos jornalistas, praxe desse governo, ela minimizou os mortos e desaparecidos da nossa última ditadura e até cantou músicas da época favoráveis ao regime. Regina Duarte ainda ironizou as mortes causadas pela COVID-19 afirmando que não devemos “ressuscitar mortos” e fez um escândalo ao fugir do questionamento feito pela atriz Maitê Proença sobre a falta de políticas para socorrer a classe artística.
Mas a semana de Regina Duarte não acabou aí. Em sua conta no Instagram, ela ainda ironizou a dificuldade das pessoas em sacar o auxílio emergencial: “Desde março/20... Foi super anunciado. Quem precisava de auxílio para enfrentar a pandemia foi atrás. Quem não precisava... Está cobrando auxílio até hoje! Então... Vai lá! Nem tem mais que enfrentar fila grande…” É importante ressaltar que a própria recebe quase R$ 7 mil ao mês por ser filha de militar.
Em 8 de maio, um grupo de mais de 500 artistas, intelectuais e produtores culturais divulgou um manifesto de repúdio às palavras de Regina Duarte e em defesa da democracia e da liberdade de expressão. O texto termina assim: “Ela não nos representa.”
Projeto “Em Casa Tem Cultura!”
Diante da crise do coronavírus e da necessidade do isolamento físico das pessoas, nasce a iniciativa “Em casa tem cultura!”: uma maneira de fortalecer a cultura e aproximar as pessoas da arte mesmo em tempos de quarentena. Afinal, devemos nos isolar fisicamente, mas jamais socialmente.
Toda semana, realizamos um bate-papo online, através do Facebook, com artistas. O projeto conta com a participação do poeta Márcio Vidal e já teve como convidados a cantora e atriz, Mariana de Moraes, em um sarau online, o poeta e criador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), Sérgio Vaz, para um bate-papo sobre literatura periférica, a cineasta, produtora e roteirista, Thais Scabio, para uma conversa sobre o cinema e a cena do audiovisual na periferia, entre outros grandes trabalhadores da arte e da cultura.
Na última edição, em 9 de maio, discutimos o engajamento social na produção musical com a advogada Eliane Dias, empresária do grupo Racionais MC’s. A iniciativa ainda terá muitas atrações para valorizar a cultura e mantê-la viva, a despeito de um governo que quando trabalha é somente para destruí-la.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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