As falácias diante da grandeza de “Ainda Estou Aqui”
'Eduardo Bolsonaro sabe muito bem o significado da palavra psicopata', escreve o colunista Florestan Fernandes Jr, que alerta para 'a doença do fascismo'
Imagino o desespero de Eduardo Bolsonaro que, lá dos Estados Unidos, acompanhou de perto a repercussão das indicações do filme “Ainda Estou Aqui” a três categorias do Oscar e que acabou levando o prêmio de melhor filme estrangeiro. Imagino a urgência angustiada da criação de narrativas falaciosas para se contrapor a um feito inédito para o cinema brasileiro. Imagino o estupor do deputado “bananinha” ao ver as cenas de uma folia momesca que teve como personalidade onipresente, de norte a sul do Brasil, representada por máscaras, fantasias e até mesmo o tradicional Boneco de Olinda, a diva Fernanda Torres. A nossa Nanda, que arrebatou o mundo e alcançou o auge com a interpretação magistral de Eunice Paiva.
Eduardo Bolsonaro não perdeu tempo. Lançando mão do roteiro e dos métodos que já conhecemos de cor, partiu para a criação de narrativas fantasiosas. A boa e velha ração que mantém o “gado” unido, atado nas veredas do engano e da mentira.
Mas algumas fake News têm um plus de descaramento e desfaçatez. Foi o que aconteceu desta vez. Sem argumentos, Eduardo “Bananinha” postou nas redes sociais que Walter Salles produziu uma ficção sobre uma "ditadura inexistente". Bem ao estilo da família, o deputado reiterou o discurso de ódio e afirmou que o diretor do filme pode ser caracterizado como um "psicopata cínico", por "reclamar do governo americano". É cada uma!!!
Certamente Walter Salles, que tem colhido os louros e a glória mais do que merecidos, nem perdeu tempo para ler e responder aos ataques do deputado, conhecido pelo seu alinhamento canino e subalterno ao atual governo estadunidense. A tal “make America great again” reverberado por brasileiros... de lascar!
Eduardo sabe muito bem o significado da palavra psicopata. Convive com uma pessoa que tem características dessa anomalia. Clinicamente, um psicopata é um indivíduo perverso que, na maioria das vezes, apresenta desvio de caráter, ausência de sentimentos, falta de remorso, de culpa e insensibilidade aos sentimentos alheios.
Desvios apresentados por um homem bem conhecido de todos nós. Um homem que adora homenagear milicianos, torturadores, que faz gracinha com a doença alheia, que não demonstra empatia pelas famílias vítimas da Covid e que, ao que tudo indica, participou ativamente da tentativa de golpe de Estado, inclusive incentivando atos terroristas.
Um homem que se deleita com a violência e a morte (dos outros), mas que, agindo imbuído de extrema covardia (sim, ele é covarde, medroso), antes mesmo de ser julgado por seus crimes, pede anistia.
Mas vamos em frente. Nesta semana fiquei imaginando ainda o constrangimento de governadores como Tarcísio de Freitas, Zema e Caiado, em silêncio sepulcral após a notícia da premiação, que foi festejada mundialmente e que aqui mobilizou a nação, inclusive em blocos e escolas de samba. Nem uma mensagem de congratulações ao elenco do filme.
Nessa hora, é até mais constrangedor o silêncio do que a fala de Eduardo Bananinha. Ele pelo menos se expôs. Imagino ainda a dor de consciência que mãe e filha, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro podem (espero) ter provocado em alguns colegas de profissão, como é o caso de Regina Duarte. Aquela que nos últimos anos se alinhou ao nazifascismo brasileiro, fazendo elegia a um (des)governo que desprezou a cultura, a ciência, a pesquisa, a educação, o conhecimento e a própria vida, da qual a arte é uma potência primordial.
Por fim, eu mesmo imaginei (em ares de pesadelo), com os meus botões, o cenário de um Brasil com golpe exitoso. Qual seria o papel da arte e da cultura na resistência? Me lembrei do filme "Mefisto", um clássico do cinema e que também recebeu um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1982. O filme é baseado na peça de teatro homônima de Klaus Mann e explora temas como ambição, corrupção e moralidade em um contexto de ascensão do nazismo na Alemanha.
A história segue Hendrik Höfgen, um ator ambicioso que se compromete com a ideologia nazista para avançar em sua carreira, renunciando à sua consciência e à sua alma. Aos poucos, Hendrik se transforma no mais desprezível dos seres humanos.
Infelizmente, a doença do fascismo tem levado muita gente a admirar seres desprezíveis. Quanto a nós, eu e você, caro leitor, amantes da democracia, continuamos firmes e “ainda estamos aqui”.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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