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    Leonardo Attuch

    Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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    Assista Coringa, Paulo Guedes

    "A primeira reação do Posto Ipiranga ao ver sua reforma da Previdência levemente desidratada foi dizer: 'quero cada bilhão de volta'. Se ele ao menos soubesse o que acontece com quem transforma o sofrimento de seres humanos em números... quem sabe pensasse de outra maneira", diz Leonardo Attuch, editor do 247

    A história do filme Coringa se desenrola em Nova York (Gotham City), no início da década de 80, no governo de Ronald Reagan nos Estados Unidos. Reagan, como se sabe, é um dos ídolos do ministro Paulo Guedes, ao lado de Margareth Thatcher e do general Augusto Pinochet, três personagens que aplicaram choques neoliberais em seus países.

    Em Gotham, programas sociais são eliminados, seres humanos são tratados como lixo e o que importa são os números – situação que lembra o Brasil atual, em que Guedes, ao saber que sua reforma da Previdência seria levemente desidradata com o pagamento de um abono salarial a quem ganha dois salários mínimos, saiu-se com essa: "quero cada bilhão de volta".

    No Brasil, a desigualdade raramente se traduz em revolta social. Ela explode na forma de violência urbana. Por isso mesmo, um governo miliciano é chamado para "manter a ordem", quando direitos sociais e trabalhistas são suprimidos para que os ricos se tornem ainda mais ricos e os pobres cada vez mais pobres – o que demonstra, inclusive, a mais recente pesquisa do IBGE.

    Mas talvez nem tudo seja eterno. Nos Estados Unidos, onde a pobreza também avança de forma avassaladora e a desigualdade é cada vez maior, a segurança foi reforçada nas salas de cinema diante do temor de que Coringa despertasse ondas de violência e, quem sabe, até uma revolução. Para alguns, o filme de Todd Philips, que denuncia a desigualdade e o estrago causado pelo neoliberalismo, não passa de um panfleto irresponsável. Para outros, além de uma grande obra de arte, traduz o espírito do tempo – assim como o nosso Bacurau.

    No filme, há referências a movimentos libertários como o Occupy Wall Street e uma crítica clara à hipertrofia do capital financeiro. Há também um grito contra a imbecilização produzida pelos meios de comunicação, numa grande interpretação de Robert de Niro. E é por isso mesmo que a explosão de violência encarnada pelo Coringa, na atuação sublime, de Joaquin Phoenix, provoca mais empatia do que repulsa no público. A verdadeira violência não é a do Coringa, mas sim a do sistema. A violência de Paulo Guedes, Ronald Reagan, Margareth Thatcher e Augusto Pinochet.

     

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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