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    Paola Jochimsen

    Paola Jochimsen é doutoranda em Filosofia pela Universidade de Coimbra, Mestre em Romanistik pela Albert-Ludwigs-Universität Freiburg (Alemanha). Membro do Coletivo Brasil-Alemanha pela Democracia.

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    Ataque ao Mercado de Natal em Magdeburg

    "Violência, extremismo e um cenário político cada vez mais polarizado"

    Equipes de emergência atuam após carro atingir mercado de Natal em Magdeburg (Foto: Axel Schmidt / Reuters)

    Na noite de sexta-feira, 20 de dezembro de 2024, Magdeburg, na Alemanha, foi palco de mais um ataque chocante. O cenário, um mercado de Natal — símbolo tradicional de celebração e união —, transformou-se em um espaço de caos, medo e luto. Pelo menos cinco pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas. O suposto autor do ataque: um homem de 50 anos, originário da Arábia Saudita, residente na Alemanha desde 2006, com autorização de residência permanente. A história desse suspeito não segue o roteiro esperado. Longe de ser um extremista islâmico clássico, Taleb A. é conhecido por seu ativismo islamofóbico. Em entrevistas passadas ao Frankfurter Allgemeine Zeitung e ao Frankfurter Rundschau, ele se autointitulou o “crítico mais agressivo do Islã da história” e mencionou ter recebido asilo em 2016 após ameaças de morte por ter abandonado a fé islâmica.

    Seu apoio à AfD (Alternativa para a Alemanha), partido de extrema direita, era explícito. Ele compartilhava postagens de influenciadores alinhados à retórica xenofóbica, como Naomi Seibt, uma ativista alemã de extrema direita conhecida por suas posições negacionistas em relação às mudanças climáticas, seu discurso anti-imigração e sua associação com o think tank conservador norte-americano Heartland Institute. Seibt, apelidada de “Anti-Greta” por sua oposição direta a Greta Thunberg, ganhou notoriedade por disseminar teorias conspiratórias e por seu alinhamento com movimentos extremistas na Europa.

    O mais inquietante nesse episódio é o perfil contraditório do suspeito: um homem que estudou psicologia, trabalhava como especialista em psiquiatria na prisão de Bernburg (aproximadamente 40 km do local do ataque), lidando diretamente com criminosos dependentes químicos. Alguém que, no papel, deveria compreender os limites do comportamento humano, mas que, na prática, parecia ser consumido por suas próprias obsessões.

    Extremismo, polarização e a Era do ódio virtual

    Poucas horas antes do ataque, Taleb A. havia direcionado seu ódio para Mina Ahadi, presidente do Conselho Central de Ex-Muçulmanos, uma organização que combate o Islã político. Ahadi descreveu Taleb como um homem mentalmente instável, alguém que enviava e-mails de ódio após uma doação devolvida. Essa narrativa reforça a impressão de um indivíduo fragmentado, movido por ressentimento pessoal e por uma visão distorcida do mundo.

    Nas redes sociais, A. chegou a exigir a pena de morte para a ex-chanceler Angela Merkel, acusando-a de ser responsável por um plano imaginário de “islamização da Europa”. Essas postagens não foram apenas manifestações isoladas de raiva, mas parte de um padrão crescente de extremismo online, onde o discurso do ódio encontra terreno fértil para se espalhar.

    A reação de Elon Musk: polêmica e oportunismo político

    Enquanto o luto tomava conta de Magdeburg, Elon Musk, magnata da tecnologia e dono da plataforma X, preferiu usar sua influência para amplificar ainda mais o caos. Em uma série de postagens, Musk atacou o chanceler alemão Olaf Scholz, chamando-o de “incapaz” e pedindo sua renúncia imediata. Ele também compartilhou comentários que responsabilizam a política de imigração alemã pelo ataque.

    Essa reação não surpreende. Musk, que já demonstrou apoio aberto à AfD e a movimentos de extrema direita em outros países, parece cada vez mais confortável em utilizar sua plataforma como megafone para narrativas polarizadoras. Em vez de promover diálogo ou respeito, ele opta pelo confronto direto, usando uma tragédia como palco para seus interesses políticos.

    Entre Magdeburg e Brasília: extremismos conectados pelo ódio

    O ataque em Magdeburg carrega ecos diretos do atentado de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, quando extremistas invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o STF e o Palácio do Planalto. A conexão entre os dois eventos não está apenas nos atos violentos em si, mas no processo que os antecedeu: a construção sistemática de um inimigo imaginário, a radicalização promovida por discursos inflamados e a manipulação das frustrações sociais.

    No Brasil, o “fantasma do comunismo” serviu como desculpa para extremistas justificarem atos de destruição em nome de uma causa inexistente. Em Magdeburg, o extremismo islamofóbico de Taleb A. segue a mesma fórmula: medo, ódio e a convicção de estar travando uma guerra ideológica. Ambos os ataques revelam uma mesma falha estrutural: a incapacidade das instituições de conter o avanço do extremismo quando ele já se espalhou como um vírus pelas redes sociais e pelo discurso político.

    Enquanto no Brasil Jair Bolsonaro insuflava apoiadores contra o STF, na Alemanha, Elon Musk espalha teorias conspiratórias e fortalece a extrema direita com postagens virulentas. Em ambos os casos, há uma mesma sombra pairando sobre os eventos: a polarização radicalizada como ferramenta de manipulação e controle. Os ataques não começam com a explosão de uma bomba ou com a invasão de prédios públicos — eles começam com um post, um discurso inflamado, uma mentira repetida milhares de vezes até parecer verdade.

    O ataque em Magdeburg não é apenas mais um episódio isolado de violência. Ele reflete um fenômeno mais profundo: a fusão entre radicalização online, discursos de ódio amplificados por figuras públicas poderosas e um sistema político cada vez mais dividido.

    Enquanto isso, as vítimas desse ataque — os mortos, os feridos, os traumatizados — permanecem como testemunhas silenciosas de uma sociedade que, mais uma vez, falhou em identificar os sinais de alerta. A pergunta que resta é: quantos “tiüs França” como esse serão necessários para que o mundo desperte para as consequências reais desse jogo perigoso de ódio e polarização?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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