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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Até Fátima de Tubarão sabe que o fascismo está intacto

    'As prisões dos que se expuseram podem servir de isca para atrair os manezões quietos e escondidos', escreve o colunista Moisés Mendes

    Ato golpista em Brasília (à esq.) e Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza (à dir.) (Foto: Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza)

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    Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

    Se Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, primo de Carluxo, for encarcerado na Papuda, será ele o preso mais famoso entre todos os golpistas.

    Por enquanto, o nome mais conhecido é o de Fátima de Tubarão. A traficante e estelionatária Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza ficou famosa ao aparecer na invasão a Brasília em vídeos nas redes sociais e na TV.

    A senhora de 67 anos é do Estado estigmatizado como o mais fascista e racista do país. Foi presa por se expor no terrorismo de 8 de janeiro e gritar que era a hora de “pegar o Xandão”.

    Ela não é insignificante, nos quadros do golpismo, por ser uma idosa que mereça piedade ou por já ter sido condenada por tráfico e estelionato. É irrelevante como expressão da política do golpismo.

    Fátima é a voz do povo bolsonarista fazendo eco para Bolsonaro e todos os que mandavam seguir em frente com o golpe e, se possível, pegar Alexandre de Moraes.

    É uma criminosa. Mas sua prisão é como se os aliados tivessem finalmente chegado, depois da guerra, a uma famosa amiga de uma tia de Herman Goering.

    Uma pessoa falante, aparentemente agressiva e perigosa, mas apenas amiga da tia do chefe nazista.

    Para continuar comparando, e a comparação não é absurda, sabe-se que, na tentativa de reparação dos crimes cometidos pelo nazismo, os líderes foram julgados antes, entre os quais Goering.

    E as tias e as amigas das tias, os tios, os soldados e bandidos subalternos do nazismo e os colaboracionistas ficaram para depois.

    Os líderes foram condenados em Nuremberg. Os menos importantes seriam submetidos a juizados convencionais, bem mais tarde.

    Muitos desses nazistas de segunda e terceira linha, talvez a maioria, conseguiram escapar de condenações, porque os juízes, mesmo depois da derrota na guerra e do fim de Hitler, também estavam entranhados de nazismo.

    O que temos hoje no Brasil, na guerra ao fascismo, é a prisão e o início de inquéritos que levarão à condenação de subalternos e insignificantes.

    Os chefes, os líderes, os incitadores, os grandes financiadores, todos eles estão ainda impunes e fora do alcance do sistema de Justiça, por mais encrencados que pareçam estar.

    Fátima de Tubarão sabe que grandes líderes dos terroristas em Santa Catarina saltaram fora do golpe.

    Ela, os acampados e os caminhoneiros patriotas passaram a agir sem comando e sem liderança até as ações de 8 de janeiro.

    Financiadores do golpe encaminharam seus habeas corpus preventivos, logo depois do fracasso daquele domingo. Alguns estão com Lula para o que der e vier.

    Fátima é um lambari catarinense atirado fora do açude. O tubarão não mostra os dentes nem o rabo desde o momento em que os manés passaram a ser presos.

    É compreensível que, na aparente tática de cerco aos golpistas menores, estejam caindo os soldados e cabos da linha de frente e alguns oficiais que botaram a cara para fora das trincheiras, para que depois caiam os grandões.

    Mas é preciso que se saiba que as prisões do homem do relógio de João VI, de Fátima de Tubarão ou de Léo Índio e de manés do escalão inferior ou intermediário não podem ser vistas pelo que não são.

    As prisões dos que se expuseram podem servir de isca para atrair os manezões quietos e escondidos.

    Se os tubarões que incitaram Fátima continuarem fora do alcance do Ministério Público e do Judiciário, teremos apenas bons espetáculos.

    A prisão de Fátima é atrativo garantido na guerra aos fascistas. Mas a contenção dos nazistas, na Alemanha, não se resolveu sem que os cabeças fossem presos e julgados.

    Também foi assim na tentativa de enquadrar os ditadores argentinos e tirá-los da arena da política, com o julgamento dos generais em 1985.

    O fascismo brasileiro foi trincado, mas ainda está quase intacto. Desde a anistia de 1979.

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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