Até tu, Boric?
Na mesma linha da Time agora é o Estadão que, em editorial, destaca o jovem líder chileno
As recentes declarações do presidente chileno Gabriel Boric sobre a guerra na Ucrânia, onde repete os slogans do império do norte contra a Rússia, suscita maiores reflexões sobre uma dita chamada “nova esquerda”.
O caso da guerra na Ucrânia é muito claro: de um lado temos a Rússia, passível de críticas, por ter tomado a iniciativa da invasão, embora com a correta justificativa de autodefesa preventiva contra o cerco da OTAN e a nazificação do país vizinho. De outro, temos a OTAN, com o decadente império dos EEUU à frente, fazendo os ucranianos de bucha de canhão. Como não têm coragem de entrar na guerra diretamente pois temem a potência nuclear russa, fornecem armas e estimulam a morte de ucranianos e mercenários, usando Zelensky como títere.
Cabe uma terceira posição? Cabe! A posição de defesa da paz, posição da China, do Brasil, dos países africanos e tantos mais, até da maioria dos latino-americanos.
A paz interessa ao império EEUU? Não! Pois, além de querer aniquilar a Rússia, ele tem como seu principal sustentáculo econômico o complexo industrial-militar que vive de guerras, precisa vender armamentos: que se matem os povos! Somente assim os EEUU se mantêm ainda como a maior potência econômica e militar.
Num quadro tão claro como este, apoiar o império do norte é colocar-se a favor do passado. Os EEUU não são mais os donos do mundo, como já foram. O mundo hoje é multipolar, queira Biden e os subservientes europeus, ou não. E ao se colocar ao lado do EEUU contra os interesses da paz e dos povos, só se pode entender como posição de pessoas ou órgãos de direita ou extrema-direita.
Boric ascendeu para a política de nossa América Latina como um jovem líder rebelde à frente de um movimento libertário contra as heranças fascistas de Pinochet. Foi uma grande e luminosa esperança que frutificou, venceu, montou um governo que causou grande expectativas em todos os povos de nossa América ao sul do Rio Grande que ainda permanecem com veias abertas para a sucção do império do norte.
Mas, que tem feito Boric? Por inexperiência? Tomara que seja, e que aprenda. Mas na recente reunião da CELAC-UE se opôs aos interesses da paz, de nossa América e dos povos e se manifestou como se fosse mais um sabujo dos EEUU. Antes disso já vinha formulando críticas à Venezuela, a Cuba, à Nicarágua. Todos estes países por certo que merecem críticas. Mas uma coisa é criticar eventuais erros dos cubanos, outra é se colocar ao lado do império que há quase um século bloqueia a ilha heroica. Da mesma forma a Venezuela: por maiores que sejam os erros do senhor Maduro, o mundo não outorgou a nenhum país o direito de sequestrar suas riquezas, promover assaltos militares e tentar derrubar seu governo. O problema da Venezuela é dos venezuelanos. A nós cabe ser solidário com a luta de seu povo contra o inimigo maior que a todos tenta escravizar.
Este conceito de uma “nova esquerda” tem sido usado por alguns órgãos da imprensa dos EEUU orientados pela CIA. A agência tem uma grande capacidade de reciclar seus métodos e sabe muito bem a hora de entregar os anéis para conservar os dedos. Assim quer criar um “nova esquerda”, “moderna” que de esquerda não tenha quase nada, para lhe servir como linha auxiliar. Foi neste sentido uma longa entrevista dada por Boric que mereceu capa da revista Times em agosto do ano passado, quando criticou as experiências socialistas do século XX que “fracassaram” e buscou indicar uma “terceira via”. O líder chileno é chamado pela revista como uma “nova guarda” e “exemplo” para a esquerda e para os países de América Latina.
Na mesma linha da Time agora é o Estadão que, em editorial, destaca o jovem líder chileno – e aproveita, naturalmente, para criticar Lula –, exaltando-o como a “nova esquerda”. Ora, meus leitores, para mim é claro, o ditado popular cabe como a mão na luva à situação: “diga-me com quem andas que direi quem tu és!”. Ora, se Boric é defendido pela Time e pelo Estadão, devemos ficar, pelo menos, de orelha em pé quanto a esta “nova esquerda”.
Afinal o que é ser de esquerda? A discussão deste conceito é longa e tem mudado com o tempo. Novas demandas têm se acrescentado. Mas algumas bandeiras antigas, dos séculos XIX e XX, persistem neste XXI: a luta contra o império, pelo liberdade dos povos. Seja o império colonial inglês do século XIX, seja o que o sucedeu no século XX, e agora está fenecendo no XXI: o império dos EEUU.
Ser de esquerda, antes de mais nada, é ser anti-imperialista!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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