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    Elika Takimoto

    Professora do CEFET/RJ

    16 artigos

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    Aula de doutrinação nas escolas cívico-militares

    No lugar de trabalhar para o coletivo, ensinam que cada pessoa deve olhar somente para si. No lugar de compreender a realidade e atuar como um agente de mudança para um mundo melhor e pela diminuição e compreensão das causas das desigualdades, ensinam a usufruir do privilégio

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    Quando o projeto "Escola Sem Partido" começou a ser falado, alertamos sobre o quanto o nome enganava. Os mesmos que hoje defendem a liberdade do médico receitar o que quiser porque é formado para isso querem amordaçar professores e professoras.

    Incomodava o debate que travamos na escola, a história da África ser ensinada, o respeito às diferenças ser um princípio, a tolerância religiosa ser incentivada, a filosofia estar na grade curricular, enfim, incomodava a reflexão promovida.

    Em cima disso, surgiram as escolas cívico-militares. Disseram que iria ser uma escola sem partido.

    Segundo esse sistema, militares atuam no comando da gestão escolar e da gestão educacional, enquanto professores  e professoras dão sua aulinha café com leite baseado em cartilhas a lá século 18.

    Alertamos que isso seria a antítese da Educação e recebemos como resposta "chola mais", "vai para Cuba", "Mito".

    Ontem, não sei se vocês viram, foi filmado um evento na escola Cívico-Militar Carioca General Abreu, onde jovens não podem usar cabelo solto, pintar unhas dentre outras ordens autoritárias que buscam a ordem reprimindo as individualidades.

    A cena é deprimente. Em meio a maior crise sanitária, estudantes estão aglomerados no pátio enfileirados. Como se não bastasse, há uma pessoa gritando frases e os alunos e alunas repetindo a seguir:

    "Muitos querem, mas não podem / Nós queremos e podemos / Nós somos nós e o resto é o resto / Brasil acima de tudo, abaixo de Deus”.

    É a ignorância em seu estudo bruto intocada por Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Florestan Fernandes e Maria Montessori.

    No lugar de trabalhar para o coletivo, ensinam que cada pessoa deve olhar somente para si. No lugar de compreender a realidade e atuar como um agente de mudança para um mundo melhor e pela diminuição e compreensão das causas das desigualdades, ensinam a usufruir do privilégio. Em lugar de proteger, expõem alunos e alunas a um vírus que já matou meio milhão de brasileiros e brasileiras.

    Como a democracia agoniza mas não morre, houve justiça e a secretaria municipal de Educação do Rio de Janeiro exonerou ontem, 25 de Maio, a direção da escola municipal que foi inaugurada em Agosto do ano passado.

    Quando educamos para a reflexão somos acusados de doutrinadores e, ontem, o que vimos foi literalmente, uma aula de doutrinação nível advanced plus master.

    Foi um caso pontual? Não. Foi um caso filmado. Essa é a regra que eles têm orgulho de defender. A obediência acrítica, burra e passiva é pontuada. Perde ponto quem questionar o sentido de tudo isso.

    Por que não implementar o mesmo modelo dos Institutos Federais que já provou ser bem eficiente em termos de resultados e muito mais barato para o Estado? A resposta foi dada nas imagens. Para manter um autoritário no poder, é necessário impedir o livre pensamento.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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