Aumento da Selic ameaça ciclo de investimentos e crescimento econômico do governo Lula
Banco Central ignora o equilíbrio entre estabilidade de preços e estímulo ao crescimento econômico ao subir a Selic para 10,75%, escreve Aquiles Lins
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic para 10,75% é uma nova derrota do setor produtivo brasileiro frente ao rentismo. Elevar a taxa básica de juros deve inibir o crescimento econômico, já que a manutenção de juros altos funciona como um freio na economia, ao desestimular o investimento produtivo e incentivar a busca por investimentos de baixo risco, como títulos públicos, que se tornam mais atrativos para investidores. Isso dificulta a retomada do crescimento econômico, prejudicando também a arrecadação tributária e o espaço fiscal para o governo implementar políticas de estímulo.
Com o objetivo de trazer a inflação, que acumula alta de 2,85% no ano e, nos últimos 12 meses, de 4,24%, para o centro da meta, de 3%, a nova taxa Selic vai encarecer ainda mais o crédito para empresas e consumidores. Para as indústrias, que puxaram a alta do PIB no segundo trimestre de 2024, significa custos maiores para financiamento de capital de giro e investimentos em novas tecnologias ou expansão produtiva. Empresas que precisam de financiamento externo para operar ou modernizar suas instalações serão ainda mais prejudicadas, especialmente pequenas e médias que já enfrentam dificuldades de acesso ao crédito barato. Do total de concessão de crédito para empresas no país, apenas 20% vai para esse segmento. Dos quase 23 milhões de micro e pequenas empresas (MPE), somente cerca de 6,5 milhões são tomadoras efetivas de recursos no sistema financeiro, segundo dados do Sebrae.
Para os consumidores, força-motriz da retomada do crescimento, uma Selic alta afeta diretamente as compras parceladas e financiamentos, essenciais para aquecer setores como automóveis, imóveis e bens de consumo duráveis. Financiamentos habitacionais ficam mais caros, afastando potenciais compradores e reduzindo a demanda por novos imóveis. Com menos crédito disponível ou a taxas mais altas, o consumo tende a cair, gerando um efeito dominó nas vendas, produção e empregos. O próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o emprego pleno exerce pressão inflacionária. O comércio, por exemplo, é um dos primeiros a sentir os efeitos dessa retração no consumo, com queda nas vendas e necessidade de reduzir estoques, afetando também a logística e transporte.
Com a nova decisão do Copom, as cadeias econômicas brasileiras continuarão sofrendo com as altas taxas de juros, comprometendo investimentos de longo prazo e o potencial de crescimento do país. Embora o controle da inflação seja uma das justificativas para manter os juros em patamar de agiotagem, o BC ignora o equilíbrio entre estabilidade de preços e estímulo ao crescimento econômico, que é essencial para garantir o desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas e comerciais do Brasil.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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