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    Hélio Rocha

    Repórter de meio ambiente e direitos sociais, colaborador do 247

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    Biden põe retrocesso econômico à vista

    Autoridades chinesas e especialistas mostram preocupação com travamento do setor de tecnologias de informação após restrição comercial norte-americana

    Joe Biden e Xi Jinping se reúnem em Bali 14/11/2022 (Foto: REUTERS/Kevin Lamarque)

    *Publicado originalmente em China Radio International

    Um novo capítulo das recorrentes crises bilaterais entre Estados Unidos e China, todas causadas pela potência ocidental desde, pelo menos, o governo de Donald Trump, foi estabelecido esta semana pelo presidente Joe Biden. Ele assinou na última quarta-feira, 9 de agosto, uma ordem executiva proibindo investimentos de seu país em empresas de tecnologias de informação chinesas. Os setores atingidos foram tecnologia de informação quântica, inteligência artificial e semicondutores. Também foi estabelecido que empresas que já tenham negócios com a China nestes setores estejam livres da obrigação, mantendo seus acordos, mas que prestem satisfações regulares à Casa Branca.

    Tal medida evidencia que, ao menos em matéria de assuntos internacionais, pouco importa quem assume o Estado americano na dissimulada democracia estadunidense, em que dois grupos políticos com ideias praticamente iguais se alternam no poder. Atualmente, os esforços dos Estados Unidos apontam no sentido de arregimentar os países ocidentais, sobretudo as potências europeias, numa nova polarização global que reviva a Guerra Fria, fazendo girar a roda do capital americano por meio do exclusivismo de mercado, justificado por disputa ideológica.

    A justificativa oficial dos Estados Unidos foi a de sempre: o país estaria se resguardando ante setores estratégicos, que ameaçam a segurança de Estado. Entretanto, a mesma medida não vale para outro país que tenha a economia, a indústria e setor militar avançados, não havendo explicação de por que apenas a China teria sido obstruída. Por outro lado, a China reprovou veementemente a decisão de Biden, comunicando-se por meio do Ministério das Relações Exteriores. De acordo com o jornal Diário do Povo, um porta-voz do ministério (não identificado na matéria) declarou:

    “Isso é coerção econômica e bullying tecnológico flagrantes, um ato que viola seriamente os princípios da economia de mercado e concorrência leal, mina a ordem econômica e comercial internacional, desestabiliza as cadeias industriais e de suprimentos globais e prejudica os interesses da China e dos Estados Unidos e da comunidade empresarial global”, destacou o porta-voz. “Isso é desglobalização e um movimento para excluir a China gradualmente.”

    Não apenas a China e as relações globais, mas o setor de tecnologias de informação pode pagar o preço da má decisão de Joe Biden. Segundo o professor-associado de ciência política da Universidade da Califórnia, Victor Shih, em entrevista à agência Xinhua, “As empresas de chips dos EUA, como qualquer empresa, estão muito interessadas em expandir a participação no mercado, e vender para o mercado chinês é muito importante, já que a China é agora o maior consumidor de chips do mundo”.

    De acordo com a Associação da Indústria de Semicondutores, as vendas mundiais totalizaram 556 bilhões de dólares em 2021, último levantamento realizado. Shih afirma que, para manter esse fluxo de comércio, não se sabe se a indústria vai se sustentar sem o mercado e as indústrias chinesas, sobretudo numa situação de retaliação, que pode prejudicar a rede necessária para matérias-primas, produção industrial e até a formação de profissionais qualificados. “A base de custo mais alta nos EUA não mudará no curto prazo. No médio prazo, ainda não está claro se os EUA podem estabelecer um programa de aprendizado para treinar um número suficiente de técnicos para fábricas de semicondutores.”

    A posição inicial do governo chinês é de espera. Entretanto, o embaixador da China nos Estados Unidos, Xie Feng, já havia afirmado durante o Fórum de Segurança de Aspen, no fim de julho, que seu país quer evitar de toda forma a guerra comercial, mas será obrigado a retaliar se não houver razoabilidade da parte americana. “O governo da China não pode simplesmente ficar de braços cruzados. Há um ditado chinês que diz que não faremos provocações, mas não recuaremos diante de uma.” Na sequência, ele disse: “Não queremos uma guerra comercial, uma guerra tecnológica, queremos dizer adeus à Cortina de Ferro, bem como à Cortina de Silício.”

    Tais informações, de conjunto, demonstram o perigo não somente político, mas econômico, da guerra ideológica transformada em guerra comercial pelos Estados Unidos. Aquele que é, hoje, o setor econômico que mais cresce no mundo, tendo representado o grande avanço tecnológico da última década, pode ter seu fluxo de capitais travado por uma ruptura unilateral das leis de mercado, por parte de Joe Biden. A China, que não só no atual momento, mas na história, não tem sequer um caso de ação civil ou militar contra a soberania de outros povos, sendo mundialmente conhecida por sua diplomacia eficaz, paga o preço de ser a principal nação emergente do mundo.

    A máquina de propaganda ocidental seguirá falando em democracia e direitos humanos, levantando o fantasma do comunismo soviético e tudo mais, mas a verdade é que o mundo já chegou à guerra na Europa, e pode chegar ao retrocesso econômico, graças à relutância ocidental em aceitar a prosperidade de outros países, bem como um projeto de relações globais que não passe pela centralidade do capital norte-americano.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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