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    Cândido Vaccarezza

    Dr. Cândido Vaccarezza é um médico e político formado pela Universidade Federal da Bahia e atualmente mora em São Paulo. Ele tem especializações em ginecologia e obstetrícia, saúde pública e saúde coletiva. Durante a pandemia, foi diretor do Hospital Ignácio P Gouveia, referência para o tratamento de Covid na Zona Leste de São Paulo. Como político, ele participou da luta pela democracia no Brasil na década de 1970 e foi deputado estadual e federal pelo PT. Além disso, ele também foi líder na Câmara do Governo Lula e Dilma e secretário de esporte e cultura em Mauá. Reg

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    Boas Festas

    O Brasil pode garantir segurança alimentar para todos, só depende da política

    (Foto: Reprodução)

    Procurei no google uma mensagem de Natal, entre milhares, poderia ter selecionado qualquer uma, segue esta:

    “A fé torna tudo possível, a esperança faz todas as coisas funcionarem, o amor faz todas as coisas bonitas. Que você tenha todos os três nesta data. Feliz Natal!”. 

    Escolhi uma neutra, se podemos usar este qualicativo, e já adianto que não quero estragar o Natal de ninguém, muito menos desincentivar a quem quer me desejar um Feliz Natal, agradeço imensamente e retribuirei, como também enviarei o meu “Feliz Natal” para a minha família e meus amigos. 

    Meu pai, para mim inesquecível, era católíco apostólico romano, na acepção deste conceito, costumava cantar uma música de um baiano ilustre, que em vida não obteve muito sucesso, mas que foi um dos maiores letristas brasileiro, Assis Valente:

    Boas Festas

    Anoiteceu, o sino gemeu 

    E a gente ficou feliz a rezar 

    Papai Noel, vê se você tem 

    A felicidade pra você me dar


    Eu pensei que todo mundo 

    Fosse filho de Papai Noel 

    Bem assim, felicidade 

    Eu pensei que fosse uma 

    Brincadeira de papel 


    Já faz tempo que eu pedi 

    Mas o meu Papai Noel não vem 

    Com certeza já morreu 

    Ou então felicidade 

    É brinquedo que não tem

    Este clássico é cantado e solfejado por muitos no Natal, às vezes, sem perceber a mensagem triste e real refletida na música. Assis Valente escreveu esta letra em 1932, declarou, em 36, à Revista Carioca: “foi feito no mês de dezembro, há alguns anos. Morava, então, em Icaraí e estava só, longe da família e sem notícias dos meus. Uma tristeza forte me invadia pouco a pouco.

    No meu quarto havia um quadro representando uma menina dormindo com um sapatinho ao seu lado – quadro típico de Natal, que logo me impressionou. Pensei então na alegria de ser feliz, de não estar só no mundo como então me encontrava, e pedi a Papai Noel uma quantidade de coisas bonitas”. Assis Valente morava num quartinho em Niterói; nesta época parte da população brasileira passava fome, vivia em insegurança alimentar, morava mal e era analfabeta. Desde quando a música foi escrita, até hoje, já se passaram 92 Natais. Tivemos tempo para resolver muitas coisas. É certo que melhoramos; naquela época o mundo vivia os estertores da crise de 29 e se preparava para a nova realidade que culminaria com a segunda guerra mundial; o Brasil vivenciava as grandes mudanças da era Vargas, pondo fim à República Velha e à política do café com leite. Naquele tempo o Brasil importava tudo que era industrializado e exportava o café com preços em queda.

    Hoje, o Brasil produz alimentos suficientes para nutrir, a depender do Instituto, de 900 mil pessoas a 1 bilhão e 600; infelizmente, em nosso país, segundo a Pesquisa Nacional por Domicílios (PNAD) do IBGE, 27,6% dos domicílios convivem em insegurança alimentar e em pelo menos ⅓ destes, as pessoas passam fome. Que Natal, que noite feliz, podem ter as milhões de pessoas que habitam estes domicílios? e as milhões de pessoas que moram na rua? Esta é uma questão real e deve fazer parte da agenda do Brasil.

    O Natal do ponto de vista histórico tem muitas controvérsias. Dos 27 livros que compõem o Novo Testamento da Bíblia, apenas dois se referem ao nascimento de Jesus; Mateus, sem definir data, fala que Jesus teria nascido nos últimos anos do governo de Herodes; Lucas, refere-se ao nascimento de Jesus antes do grande censo romano na Judeia ordenado por Quirino. Este censo ocorreu em 6 DC, 10 anos depois da morte de Herodes. Os historiadores ainda não chegaram a um consenso sobre como foi estabelecida a Festa de Natal. Sabemos que não tem relação com o nascimento de Cristo. Duas são as teorias principais para explicar o Natal:

    uma, fala da cristianização de festas pagãs em dezembro, como a vinculada ao Deus Saturno, que era o principal entre os Deuses, antes do surgimento de seu filho Júpiter, Zeus para os gregos; a festa era denominada de saturnália e deveria ter de tudo, menos o espírito natalino;

    a outra, fala do solstício de inverno, o dia mais curto do ano, quando os romanos aguardavam o nascimento de um Deus que, inicialmente, não muito festejado pelo povo, mas que gozava de muita popularidade entre os militares. O Deus Sol, Natalis Solis invicti. Alguns relatam que Constantino, antes de se converter ao cristianimo, era devoto do Deus Sol. Em 313 da nossa era, ele reconheceu oficialmente o cristianismo como religião oficial do Império através do Édito de Milão, o caminho estava aberto para a criação do Natal.

    No Século IV, o Papa Júlio estabeleceu que para a Igreja do Ocidente, que ele comandava, festejaria o Natal no dia 25 de dezembro. É bom esclarecer que nesta data o calendário era outro, tratava-se do calendário juliano, estabelecido por Júlio César, e, somente em 24 de fevereiro de 1582 o Papa Gregório XIII estabeleceu o calendário atual, chamado de gregoriano. Pela força da economia e das armas este passou a ser o calendário universal. Na realidade, não tem muito a ver com o nascimento de cristo. 

    Até o Natal chegar à comemoração com a iluminação estonteante das cidades, principalmente no ocidente do hemisfério norte; às compras e exibições desenfreadas nos Shopping Centers, para quem pode; também às contrições sinceras dos católicos arrependidos dos seus pecados, que aproveitam o Natal para ajustar parte das contas com Deus, às vezes, dando presentes para os pobres, más somente às vezes; Demorou muito.

    A partir da vida do bispo cristão São Nicolau, que viveu na Ásia Menor, não sei se era gordo de barbas brancas, surgiu o Santa Claus para a língua inglesa, originada do Sinter Klass do holandês; para nós latinos, o Papai Noel, de Nöel, Natal em francês. O fato é que, o Natal nos dias de hoje, junta a maior parte das famílias e ajuda muito o giro do comércio; para quem é cristão, o Ho Ho Ho do Papai Noel e o frenesi das compras ganham mais destaque do que o nascimento de Cristo.

    Da minha parte aproveitarei esta data, para desejar Boas Festas a todos e para sugerir uma agenda para o Brasil sem a fronteira ideológica. O Brasil pode garantir segurança alimentar para todos, só depende da política.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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