"Boi"cote da classe ruminante falha e Fernanda Torres triunfa
Produções como "Ainda Estou Aqui" cumprem um papel essencial na preservação da memória histórica e no fortalecimento da democracia
Entre as pautas preferidas da militância de extrema-direita está a exaltação da ditadura militar brasileira. Os seus representantes rejeitam qualquer iniciativa que denuncie as violações de direitos humanos desse período, rotulando tais esforços como uma tentativa de "destruir os valores nacionais".
Um exemplo recente é a reação ao filme "Ainda Estou Aqui", que abordou de forma sensível e tocante os impactos e as feridas deixadas pela ditadura militar no Brasil, a partir da experiência de uma família. Militantes de extrema-direita promoveram violentas campanhas de boicote e desinformação, buscando deslegitimar o filme e sua mensagem, numa oposição que revela o esforço para apagar ou minimizar as vozes que trazem à tona histórias de repressão, censura e resistência.
O boicote não é uma mera reação ao filme, mas parte de um contexto mais ambicioso, que visa moldar a memória coletiva de acordo com uma perspectiva que glorifica o autoritarismo e despreza os valores democráticos, numa estratégia que inclui ataques a artistas, intelectuais e ativistas que buscam recontar a história com base em fatos documentados e com respeito à dignidade humana.
Produções como "Ainda Estou Aqui" cumprem um papel essencial na preservação da memória histórica e no fortalecimento da democracia. Ao retratar os horrores e abusos da ditadura, essas obras oferecem uma oportunidade de reflexão crítica sobre o passado, contribuindo para evitar que erros semelhantes sejam repetidos no futuro. A resistência a tais tentativas de silenciamento é um compromisso com a verdade e com os valores democráticos que fundamentam a sociedade brasileira.
A intenção da extrema-direita de romantizar períodos autoritários e de ignorar as violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura militar é uma armadilha perigosa para toda a sociedade, pois a negação da história é um ato de injustiça e desrespeito para com todas as vítimas do regime. Aqueles que resistiram à ditadura, pagando com a própria vida ou enfrentando a tortura, são símbolos da luta por liberdade e dignidade.
A memória é um ato político e espiritual, essencial para construir uma sociedade mais justa, que não repita os erros do autoritarismo. Filmes, livros e outras manifestações artísticas que questionam o autoritarismo são fundamentais para alertar a sociedade, especialmente em tempos de retrocessos democráticos.
Um dos pilares do autoritarismo é o controle sobre a criatividade e a memória coletiva. A ditadura militar não foi apenas um período de opressão política, mas também uma violação dos princípios fundamentais do respeito à vida, da dignidade humana e da justiça. As reações da extrema-direita procuram silenciar a arte e a cultura como meios de revelar a verdade e provocar a reflexão crítica. Regimes autoritários, como foi a ditadura militar brasileira, não apenas violentaram pessoas, mas também degradaram o tecido social e promovem um modelo predatório de exploração humana que perpetua desigualdades.
A postura intolerante dos extremistas é característica de quem se recusa a encarar o passado de maneira honesta e madura. O cinismo de uma militância que tenta apagar as memórias das atrocidades da ditadura militar, ao mesmo tempo em que promove discursos de ódio e intolerância, em nome de uma “moralidade” patriótica entreguista, é um traço típico do fanatismo e da ignorância que perpassam esse tipo de movimento. A sua reação negativa ao filme é uma extensão do seu projeto de alienação e manipulação das massas, promovida estrategicamente por aqueles que se beneficiam da promoção da ignorância coletiva. As elites econômicas, por trás da extrema-direita, financiam e incentivam a disseminação de narrativas que naturalizam a violência, a tortura e o autoritarismo e criminalizam a luta por direitos humanos e justiça social. Enquanto obras como "Ainda Estou Aqui" buscam iluminar os cantos sombrios da história, as forças reacionárias fazem de tudo para manter a sociedade na escuridão.
Boicotar um filme que fala da ditadura é como trancar as portas de um armário cheio de esqueletos e fingir que não há odor de podridão no ar. Eventos recentes, como os acampamentos em frente aos quartéis e a tentativa de golpe de Estado, provam que a podridão autoritária ainda está presente, e que o silêncio não resolve. A arte e a cultura são ferramentas essenciais de resistência e transformação. "Ainda Estou Aqui" é um lembrete de que, apesar das tentativas de silenciamento, a verdade tem uma força própria.
A extrema-direita se alimenta do revisionismo histórico e da negação das conquistas democráticas para justificar sua agenda autoritária. O ataque ao filme reflete o medo que esses grupos têm de uma obra que confronta as bases de seu discurso, no momento em que o país vive uma disputa por sua memória histórica, na qual setores conservadores tentam reabilitar a imagem da ditadura militar, apagando ou relativizando suas violações aos direitos humanos.
A cultura, a história e a educação são alvos prioritários da extrema-direita, porque essas áreas têm o condão de despertar a consciência crítica e promover a resistência. O revisionismo histórico fascista e o ataque às liberdades artísticas não são fenômenos isolados, mas parte de um projeto mais amplo que busca deslegitimar movimentos progressistas e populares.
Os mecanismos de poder, propaganda e controle social são parte da estratégia de manipulação da opinião pública, que a extrema-direita utiliza de forma bastante eficiente para legitimar as suas teses e desqualificar quaisquer vozes dissidentes. O revisionismo histórico que tenta minimizar os crimes da ditadura militar brasileira é um exemplo clássico de propaganda autoritária, pois o esforço de silenciar obras críticas é um ataque direto à liberdade de expressão e à busca pela verdade histórica, para perpetuar um estado de ignorância que favorece o controle social para que a maioria não compreenda as estruturas de opressão que tentam manipular as suas vidas.
O confronto com o passado é essencial para a saúde de qualquer democracia. Ignorar ou distorcer as atrocidades da ditadura militar cria as condições para que abusos semelhantes se repitam. A memória histórica é uma garantia contra a tirania, e é por isso que adeptos de regimes autoritários têm tanto medo dela.
O filme de Walter Salles é um exemplo de como a cultura pode desafiar o ainda sedutor discurso fascista. Por isso, a arte que denuncia a opressão é fundamental porque permite que as pessoas enxerguem além da propaganda massiva e desenvolvam uma consciência crítica. Embora as forças autoritárias tentem monopolizar as redes sociais, a resistência “ainda está aqui”, e é possível por meio da arte, da solidariedade, da organização política e do compromisso com a verdade.
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