Bolsonaretes: nem golpe de Estado sabem dar...
Se a reconstrução educacional demandava 20 anos, agora exigirá muito mais que isso
Nada como o tempo para confirmar sabedorias, conclusões e delícias.
Chico Anísio zombava do vampiro brasileiro, como um vampiro amador, tosco e chinfrim. Faz lembrar os bolsonaretes que em 8 de janeiro inventaram de sitiar a capital federal do país em triste obediência ideológica à idiotice de um golpe de Estado, além, obviamente de outros crimes, vários. Um misto de estupidez e incapacidade. Ou, um surto idiossincrático de ver no besteirol ‘patriota’, a mesma potência do povo espanhol. Tolinhos.
Além disso, imagina-se que seja a única organização criminosa do planeta que na hora de cometer os crimes se filmou, identificando-se e constituindo prova contra si, num orgulho antropofágico. Igual ao sujeito que agrediu, no banheiro do aeroporto, o advogado que deverá ser o novo ministro do Supremo. Qualquer estagiário de advocacia chamado a aprender a profissão zombaria da estultice de se filmar na hora de cometer crimes.
Outra coisa é que muitas dessas criaturas do 8 de janeiro foram escolher, para começar no mundo do crime, justamente um gravíssimo e complexo, como o de Golpe de Estado, inscrito no Código Penal, art. 359-M, com pesada reclusão de 4 a 12 anos, mais ainda as penas relativas à violência. De quebra, atacaram, como patrioidiotizados, a cúpula do Poder Judiciário, exatamente o Poder que vai julgá-los no natural processo penal que terão que responder. Ou seja, um promissor festival de estupidezes.
Praticaram mais de uma dezena de crimes, mas o de Golpe de Estado era o crime mãe. Pelo que mostraram como delinquentes, faltou de tudo. Planejamento, expertise, sagacidade e inteligência criminais. Qualquer ‘irmão’ mediano do Partido Marcolista daria aulas aos néscios de pelo menos como praticar delitos com menos evidências. ‘Tudo bem’ que conseguiram roubar muito, inclusive armas, muitas, mas a reunião de vários crimes complexos, como os do 8 de janeiro, exige preparação.
No famoso cálculo da OIT, de produtividade laboral, de que são necessários 4 trabalhadores brasileiros para fazer o que 1 americano faz, o 8 de janeiro também confirmou a incompetência dos nacionalistas amarelo-papagaios, em inescondível sucessão de erros. As imagens são dantescas. Eram como zumbis, ou apenas ávidos, vagando em salões culturalmente inacessíveis à horda, querendo perdidamente o que nem eles sabiam bem. Berraram originariamente intervenção militar, depois modulada para intervenção federal, como recorte histórico de um patético e cafona governo militar pós-64, mas tudo em rasa ignorância jurídica quando confundiam as intervenções, uma criminosa, outra prevista em lei. Que horror.
O mais curioso é que vencida a barreira de entrada nas invasões corpóreas e em estrupo (com r mesmo), o que ali equivalia ao assaltante de banco conseguir chegar ao cofre e abri-lo, não sabiam o que fazer. Gente primária e crédula, ficou zanzando e se filmando a espera de um destino, que podia ser uma mensagem de algum líder malandro, ou imbecil mesmo, ou outra qualquer saída que todo mundo sabia jamais existir para aquela consumação patética.
A análise pormenorizada dos crimes nem interessa mais, já foi feita em vários artigos jurídicos e nos processos judiciais que persistirão por anos na vida dos agora réus flagranciados de 8 de janeiro. Aí, não há mais novidade. Em compensação as análises ligadas à burrice humana, continuam alvissareiras. O filósofo Marco Casanova, no livro A Persistência da Burrice, oferece incontáveis fatores técnicos, e filosóficos, para se decodificar o pensamento burral. Parece que os patriotas leram o livro antes da asneirice criminosa. E fizeram certinho.
Como o extremismo reacionário fez tantos adeptos em tão curto espaço de tempo, libertando do armário todo tipo de gente, de ultraconservadores enrustidos a odiadores customizados de Pabllo Vittar – ela continua despertando furores-; de nazistas sabidamente violentos a homofóbicos, puros ou invejosos suspeitíssimos, a extrema direita brasileira vai que ter fabricar outro energúmeno de plantão para reviver o sonho criminoso do golpe de Estado. Mas agora algumas coisas ficaram mais difíceis, não há mais ‘joias’ (...) da Coroa, nem mais Coroa, pois essa virou microemprendedora individual.
Parece que deu para perceber que as Forças Armadas – ou melhor, grande parte do generalato e equivalente- não estariam dispostas a cometer o crime de golpe de Estado para se mostrar ‘parça’ de um grupo crédulo, e sabidamente criminoso do país.
É muito triste, para uma sociedade, em pleno século 21, que haja um bolsão do tecido social adepto à antidemocracia, a golpes de Estado e seus crimes conexos de ódio à democracia. E não consiga se modernizar, evoluir, melhorar, aprender e enxergar em países avançados, ou estavelmente democráticos, modelos sofisticados e produtores de ganhos civilizatórios unicamente pela democracia. Certamente, o que há aí é uma insuficiência cognitiva, e isso não tem a ver com grau de escolaridade, em absoluto. Ideologia e crença têm um formidável poder de bloquear idiotizadamente qualquer dado científico, metodológico, sistêmico, lógico, principiológico, axiomático e mesmo leis naturais como a redondura do planeta. O agente se torna verdadeiramente obnubila do e só lê e escuta o que quer ouvir ideologicamente, por simpatia ou fidelização crencial. É trágico.
Parafraseando Brecht, são destes novos nazistas, brasileirinhos, e eterna a praga da ‘pessoa de bem’ que surgem os invasores de escolas, matadores de adversários políticos, e os novos-velhos preconceituosos e racistas.
Se a reconstrução educacional demandava 20 anos, agora exigirá muito mais que isso.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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