TV 247 logo
    Alex Solnik avatar

    Alex Solnik

    Alex Solnik, jornalista, é autor de "O dia em que conheci Brilhante Ustra" (Geração Editorial)

    2700 artigos

    HOME > blog

    "Bolsonarismo" vai acabar junto com Bolsonaro

    "É mais um 'ismo' que não vai sobreviver ao fim político do líder", prevê Alex Solnik

    Jair Bolsonaro (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

    Não sei se é herança dos tempos do Brasil Império, mas o fato é que os brasileiros adoram um culto à personalidade. Basta aparecer um político diferente para a imprensa logo arrumar um “ismo” para ele. 

    Acho que começou com Getúlio Vargas. Embora ele jamais tenha escrito qualquer tratado político ou filosófico, os jornalistas inventaram um certo “getulismo”. 

    O que era isso? Bem, “getulistas” eram os seguidores de Getúlio. Mas, de que Getúlio? O que deu um golpe de Estado e se tornou ditador em 1937 ou o que foi eleito pelo voto direto em 1950? O que criou os sindicatos ou o que instituiu a tortura?

    Seja como for, o “getulismo” morreu junto com Getúlio, embora seu suicídio tenha abalado o país por muitos anos. 

    Morto o “getulismo”, a imprensa paulista criou o “ademarismo”. 

    Inspirado no governador Adhemar de Barros, que também jamais formulou qualquer teoria política, a não ser que seu lema “fé em Deus e pé na tábua” possa ser considerado um pensamento filosófico ou sociológico. 

    Para combater o “ademarismo”, que só durou enquanto Adhemar esteve poder, nasceu o “janismo”, que consistiu em proibir mulheres de maiô em concursos de miss, falar corretamente o português, abusar das mesóclises, acabar com as rinhas de galo e o lança-perfume, usar paletós com muita caspa e dar ordens por meio de bilhetinhos. E que acabou quando Jânio Quadros renunciou à presidência da República.

    Os “ismos” pareciam ter sido enterrados definitivamente, não deram as caras na ditadura militar, não houve “castellobranquismo”, nem “costaesilvismo”, nem “medicismo”, e muito menos depois dela, até que, tchan-tchan-tchan-tchan, aparece outro cara excêntrico, diferente, e põe diferente nisso e a imprensa, sempre à procura de novos epítetos, criou o “bolsonarismo”, sem dizer, é claro, no que consiste essa bizarra “corrente política”. 

    O que seria “bolsonarismo”? Desprezar os seres humanos? Fazer chacota da desgraça alheia? Ser o mais grosseiro possível? Xingar os adversários? Atacar as mulheres? Contestar as urnas eletrônicas? Derrubar farofa no colo? Demonizar as vacinas? Proteger os filhos da Justiça? 

    Já é estranho haver pessoas que admirem essas atitudes - os “bolsonaristas” - mas mais estranho ainda é conceber que se trata de um conjunto de ideias políticas ou filosóficas que vão sobreviver à sua morte política, que se aproxima. 

    Tal como o “getulismo” acabou quando Getúlio morreu, idem o “ademarismo” e o “janismo” quando perderam poder, o “bolsonarismo” está se apagando, vai se apagar e não vai deixar herdeiros nem rastros.

    Não houve “getulismo” sem Getúlio, “ademarismo” sem Adhemar, “janismo” sem Jânio.

    E não haverá “bolsonarismo” sem Bolsonaro.

    Tal como Getúlio, Adhemar e Jânio, Bolsonaro não vai deixar herdeiros à sua imagem e semelhança e força política.  

    O sinal mais evidente é a ascensão de Pablo Marçal que pode ser tudo, menos continuador de Bolsonaro.

    Os que hoje são tachados de “bolsonaristas” vão voltar a ser os caras de “direita” ou de “extrema-direita”, estas, sim, correntes políticas e filosóficas que sempre vão existir, para o bem e para o mal.

    Mais para o mal que para o bem.   

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

    Relacionados