Bolsonaro aposta num autogolpe para se manter no poder
Ele sabe que não tem mais nada a perder e vai forçando a sociedade e as instituições cada semana um pouco mais. Até quando aguentará? Ou melhor, até quando aguentaremos?
Sem saída para enfrentar a crise econômica e sanitária que vêm por aí como um tsunami, Bolsonaro vem dando demonstrações, e ontem deixou mais claro isso, de que resolveu apostar todas as suas fichas num auto-golpe contra o sistema democrático com o objetivo de se manter no poder e submeter as instituições do Estado brasileiro num novo regime autoritário.
Com certeza, no acerto por cima, como é tradição da elite brasileira, combinou-se com Bolsonaro que, para ser presidente, ele não se intrometeria na agenda econômica neoliberal a ser aplicada tendo as privatizações e reformas da previdência e trabalhista como carros-chefes e, em compensação, ele teria a proteção do Sistema para proteger os negócios envolvendo seus filhos e também poderia aplicar sua política conservadora medieval na educação e nas relações exteriores, ambas alinhadas com a agenda da extrema direita norte-americana por eles aderida. Pode ser essa uma das explicações para suas ameaças, seu inconformismo com algumas decisões do STF que foi pra cima dos negócios criminosos dos filhos, para sua decisão arriscada de trazer para seu comando e dos filhos o controle da PF - que levou ao rompimento com Moro - e também para seu constante choro junto aos militares, como fez no sábado, casta que têm agido como tuteladora daquele acerto que estaria sendo furado ou não cumprido.
Provavelmente a manutenção do esquema de potencialização de fakenews, montado nas eleições de 2018, não estivesse naquele pacote e por isso o STF foi pra cima, até porque os membros da instituição também tenham sido atingidos pela organização criminosa.
Mas, a crise sanitária não estava nos planos. Para lidar com o fracasso econômico, bastaria jogar a culpa no PT e seus governos como já vinham fazendo e ir empurrando, no limite trocando-se o ministro. Para lidar com a pandemia, Bolsonaro e seus ideólogos negacionistas da ciência e adeptos de outras teorias que vêem inimigos onde não existem, Olavo de Carvalho à frente, resolveram aplicar suas teses malucas e aí se ferraram, pois elas não se sustentam. Com isso, Bolsonaro traz para próprio colo a desgraça decorrente do Coronavírus, embora tente jogar nos governadores e prefeitos, além da crise econômica. E resolveu pagar pra ver e o preço alto chegou: oficialmente já temos mais de 100 mil brasileiros contaminados e mais de 7 mil mortes, mas ninguém acredita seriamente nestes números devido às subnotificações e baixo número de testes e já se fala em mais de 1 milhão de contaminados nesta altura da crise.
Vai ser difícil Bolsonaro segurar seu governo, diante do descontrole da Pandemia, com o aumento exponencial das mortes principalmente nas periferias das grandes cidades - eu vejo isso aqui na Zona Leste da Capital paulista onde moro - e o vírus chegando, neste mês de maio, em cerca de 4 mil municípios (cerca de 80% do total), pegando inclusive a sua base de sustentação popular que são os evangélicos, neopentecostais principalmente, diante da fome já assolando milhões, diante do colapso total no sistema de saúde público e privado e diante do fato de Paulo Guedes detonar com a economia. Com esse governo o nosso País entrou num processo de derretimento como Nação.
Bolsonaro e seus asseclas, ao perceberem há alguns dias atrás que a Direita brasileira, com seus partidos e instituições (como a Rede Globo, PSDB, DEM, parte do Judiciário e de outros veículos de comunicação como Folha e O Estadão), resolveu romper com ele, buscando aproximação com o campo da Esquerda e setores liberais da sociedade civil (ABI, CNBB, OAB entre outros) para trabalhar pelo seu impeachment - a Globo até voltou atrás em sua política de invisibilidade da esquerda e colocou Lula, Dilma e Ciro Gomes no Jornal Nacional no dia 1º de Maio e Haddad na Globonews - passaram à seguinte estratégia: de um lado busca construir um controle centralizado nas mãos de seu clã das instituições de segurança. Na ABIN já tinha o Ramagen, policial amigo dos filhos que quis nomear na PF e que foi impedido pelo STF em função do objetivo escancarado de interferência nas investigações contra sua família, mas hoje nomeou alguém ligado a Ramagen; no Ministério da Justiça nomeou um desconhecido que foi chefe-de-gabinete de Eduardo Bolsonaro; e no seu gabinete já tem o núcleo dos militares das forças armadas alinhados a ele. Então, não é só controlar a PF para colocar obstáculos nas investigações contra os filhos. De outro lado, busca resgatar as múmias políticas do Centrão na Câmara dos Deputados, o que pode dar-lhe algum refresco e mesmo tendo que jogar às favas o discurso da “nova política” que dizia que jamais iria entrar toma-lá-dá-cá com os parlamentares.
O que fez neste último domingo foi isso: adotando um discurso onde se faz de vítima de um suposto plano ou “golpe” da Globo, da imprensa, do STF e do Congresso, escancarou que “não aceitará mais interferências em seus poderes” e que já “não aguenta mais”, ou seja, que vai apostar tudo no auto-golpe. A sua base zumbi, bem orientada, partiu para violência extrema, com intimidações e agressões físicas - contra manifestantes, pessoal da imprensa e até com os apoiadores de Moro que virou seu inimigo e o ameaça com o depoimento dado na PF de Curitiba - talvez a única maneira de continuar segurando o apoio dos 20 a 30% de apoiadores na sociedade.
É lógico que, nesse nível, todos os membros do Exército, do Judiciário, da imprensa, do sistema financeiro, etc, que o apoiaram sabem que no terreno da ultraviolência ninguém escapa, mesmo que os primeiros perseguidos sejam os da Esquerda. E não há evidência nenhuma de que os setores militares darão aval a aventura golpista do psicopata, que se apega e aposta na manutenção do núcleo duro que o levou ao poder: seus filhos e alguns outros parlamentares, a milícia, parte grande dos pastores evangélicos e dos empresários como o dono da Havan e a ultra direita de Israel e dos EUA que ainda financiam suas aventuras e a proximidade com os militares.
Há quem analisa que com tudo isso ele tente, no mínimo conseguir um empate, ou seja, se segurar na presidência e jogar para baixo tapete as investigações sobre os filhos, para não sofrer o impeachment e chegar até as eleições de 2022. Eu penso que ele sabe que não tem mais nada a perder e vai forçando a sociedade e as instituições cada semana um pouco mais. Até quando aguentará? Ou melhor, até quando aguentaremos?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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