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    Emir Sader

    Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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    Bolsonaro conseguirá sobreviver a 2021?

    O ano de 2021 "pode levar à substituição do governo ou a uma projeção negativa para a reeleição de Bolsonaro, confirmando o fantasma da derrota de Trump, que assusta o governo", escreve o sociólogo Emir Sader

    Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

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    Bolsonaro pôde contar com condições especiais para sobreviver a 2020. Em primeiro lugar, a quarentena interrompeu as dinâmicas de mobilizações populares que vinha se incrementando no final de 2019, como forma de rejeição do governo.

    O ano terminava muito mal para o país, com recessão na economia, que não havia crescido nada ao longo do ano, com projeção de aprofundamento da recessão no segundo ano do governo. 12 milhões de pessoas estavam desempregadas e 38 pessoas estavam em situação de precariedade.

    O segundo ano foi marcado pela pandemia e pela quarentena, que neutralizaram as mobilizações populares, pelas condições de restrição à circulação das pessoas. Durante um certo tempo torcidas organizadas conseguiram realizar manifestações nos fins de semana, com boa apoio e repercussão popular.

    Depois, a ausência de mobilizações que permitissem a expressão das distintas formas de rejeição ao governo, foi diminuindo as pressões sobre o governo e permitindo que, pela inércia, ele fosse sobrevivendo.

    O governo se aproveitou da pandemia para conceder um auxílio – que ele queria que fosse de 200 reais, mas que acabou sendo o aprovado pelo Congresso, de 600 reais – com o que logrou obter apoios populares, que compensaram a perda de apoio com a ruptura com o juiz Moro. As pesquisas passaram a apontar um apoio ao governo próximo dos 40%, mesmo se todas as pesquisas também apontavam rejeição do governo e das políticas concretas do governo. 

    Conforme o governo não conseguiu manter o auxílio e a população foi sentindo o baque, a popularidade de Bolsonaro foi decrescendo. Ao mesmo tempo, o governo sofreu duas grandes derrotas políticas: a não reeleição de Trump nos Estados Unidos, com o que Bolsonaro perde sua inspiração e seu grande parceiro internacional. O que, ao mesmo tempo, significa um novo governo nos Estados Unidos que, certamente, exercerá forte pressão sobre o governo brasileiro, pelo menos sobre os temas do meio ambiente – com a  proteção da Amazônia em primeiro lugar – e dos direitos humanos. O isolamento internacional do governo se tornará aguda, pressionando por mudanças do discurso e até mesmo de ministros em áreas que se tornarão críticas na relação com o governo Biden.

    A outra grande derrota veio das eleições municipais, em que praticamente todos os candidatos apoiados por Bolsonaro foram derrotados, com peso especial nas derrotas em São Paulo – onde ele pretendia penetrar com a candidatura de Russomanno – e no Rio, com a reeleição de Crivella, seu grande aliado. Ficou claro que o apoio que Bolsonaro tem não se transfere e é relativo, porque o apoio expressado por ele pesou negativamente sobre as candidaturas.

    Enquanto isso, se Bolsonaro não tinha se desgastado com ausência de política do governo contra a Covid, o surgimento de vacinas e a manutenção do negacionismo do governo, que não apenas não dá importância às vacinas, como atrasa o acesso dos brasileiros a elas, desgasta a imagem de Bolsonaro, que aparece como o responsável pelo atraso da chegada das vacinas ao Brasil.

    Ao mesmo tempo, forças que apoiam o governo, embora algumas delas não participem do governo, começam a consolidar suas candidaturas para 2022. Os tucanos confirmam o nome de Doria, o DEM, o de Luciano Huck, o PSD afirma que terá candidatura própria. Enquanto a esquerda, especialmente o PT, mantém sua força nacional e a preferência para disputar o segundo turno de 2022.

    Os efeitos econômicos e sociais muito duros da pandemia sobre a sociedade, marcará 2021 e talvez até uma parte de 2022, impedindo que Bolsonaro possa contar com uma situação favorável no país. O tema das vacinas dominará pelo menos o primeiro semestre de 2021, senão o ano todo, com a incapacidade do governo de estar à altura dos desafios que ele coloca.

    O governo se segura no apoio parlamentar do Centrão e no pessoal militar, que cada vez mais ocupa espaços essenciais no Estado. A penetração da Abin, como novo SNI, em todos os setores do Estado, e cifra calculada em mais de 6 mil militares em cargos do governo, dão ideia da dimensão do fenômeno. Mas nem um, nem outro, garantem apoio popular ao governo, um apoio que tende a decrescer ao longo de 2021.

    Isso, somado à perspectiva de uma grande crise que se avizinha, combinando a depressão econômica, a profunda crise social e a crise de saúde pública, podem fazer de 2021 um ano crucial, que pode levar à substituição do governo ou a uma projeção negativa para a reeleição de Bolsonaro, confirmando o fantasma da derrota de Trump, que assusta o governo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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