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    Tereza Cruvinel

    Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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    Bolsonaro, descontrolado, teme a ruína de seu governo

    "Jair Bolsonaro sabe que os próximos cinco ou seis meses serão decisivos. Eles poderão trazer o êxito que lhe permitirá conservar a popularidade para concorrer à reeleição, ou a ruína completa de seu governo", escreve a jornalista Tereza Cruvinel

    O presidente Jair Bolsonaro, participa do lançamento da retomada do turismo no Palácio do Planalto. 10/11/2020 (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

    Bolsonaro sabe que os próximos cinco ou seis meses serão decisivos. Eles poderão trazer o êxito que lhe permitirá conservar a popularidade para  concorrer à reeleição, ou a ruína completa de seu governo. As adversidades recentes têm aumentado sua irritação, levando-o a rasgar, como fez ontem, a fantasia que vinha usando desde a prisão de Queiróz, a de um Bolsonaro mais contido, propenso ao diálogo e afável com o Congresso, onde montou uma base de apoio com o Centrão e tornou-se um praticante notável da velha política.

    Os desatinos de terça-feira, segundo fontes que circulam entre o governo e o Congresso,  decorreram destas aflições com uma conjunção de problemas que o deixam irado, à beira de um ataque de nervos. E quando fica exasperado, Bolsonaro costuma entregar-se mais à realidade paralela em que vivem pessoas como ele e Trump, como estamos vendo. Num só dia ele celebrou a morte de uma pessoa que participava dos testes da Coronavac, causando a interrupção dos procedimentos pela Anvisa. Anvisa que por sinal precipitou-se, arriscando sua credibilidade, e ficou agora suspeita de ter se entregado a Bolsonaro para atuar politicamente na guerra das vacinas. Viu-se em seguida que a morte do participante nada teve a ver com a vacina. Quarenta horas depois a Anvisa recuou e Bolsonaro não se desculpou. 

    E à tarde, mais impropérios que nunca foram vistos na boca de um presidente.  Ele falou em pólvora contra os Estados Unidos, chamou os brasileiros de maricas e os jornalistas de urubuzada. Exortou os maricas a enfrentar a pandemia de perto aberto, pois todos vão morrere um dia.  Vamos sim, mas ninguém quer antecipar seu dia. Nessa fala, homofobia e misoginia (maricas são mulheres, e por serem imprestaveis, viram xingamento de homens fracos) e pregação necrófila: enfrentem o corona e morram se for preciso.

    A derrota de seu guru Donald Trump foi, é claro, um infortúnio dos grandes para Bolsonaro, que ainda não assimilou nem reconheceu a vitória de Biden. E nem sabe o que fará sem Trump. Some-se a preocupação com a situação do filho Flávio, denunciado pelo MP do Rio por peculato (corrupção), lavagem de dinheiro e comando de organização criminosa. Na própria terça, o STF enviou à PGR, para manifestação, pedido de investigação sobre o emprego de recursos e órgãos do Estado, por Bolsonaro, para a defesa do filho.

    O que houve? Numa reunião no Palácio, presente o advogado do filho, Bolsonaro acionou a ABIN e a Receita Federal em busca de elementos que pudessem  anular a validade do relatório emitido pelo COAF, apontando movimentação financeira atípica por Flávio. Deste relatório partiram as investigações do MP do Rio. Mas o ponto mais grave nessa história não é o uso do Estado para fins particulares. Ao buscar a nulidade de uma prova judicial, isso pode caracterizar o crime de obstrução de justiça, por parte de Bolsonaro. Isso é grave, embora não faltem crimes que justifiquem um impeachment ou a abertura de processo por crime comum, via STF.

    E embora tenha se gabado tanto de não entender de economia, quando apresentava Paulo Guedes como o dono da bola nesta área para agradar o mercado, Bolsonaro agora sabe que o país "caminha a passos largos para o precipício", para usar palavras do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que não pode ser chamado de alarmista.

    A dívida pública vai se tornando explosiva, aproximando-se dos 100% do PIB, e o deficit passará dos R$ 900 bilhões no final do ano. O desemprego campeia e a inflação está aí, tendo o próprio Guedes afirmado que, se a questão da dívida não for equacionada, poderemos voltar a conviver com a hiperinflação. Guedes declarou-se também frustrado por não ter conseguido, em dois anos, vender nenhuma estatal. Ministro que começa a falar em frustração costuma estar preparando a saída. Guedes não entregou nada do que prometeu à elite econômica e ao mercado, e sabe que o que nos espera em 2021.  Bolsonaro  não sabe o que fazer: manter Guedes e sua política fracassada ou correr o risco de trocar de ministro.

    Para completar, ele tem sido um péssimo cabo eleitoral, ao contrário do que se esperava. Os candidatos que apoia não estão se saindo bem nas pesquisas. A eleição de domingo pode mostrar um Bolsonaro perdedor. E isso também pode lhe dar nos nervos.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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