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    Milton Alves

    Jornalista e sociólogo

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    Bolsonaro dobra a aposta no confronto e o equilíbrio catastrófico

    "Pressionado pelas crescentes dificuldades oriundas da crise, Bolsonaro apela para um discurso de radicalização, sinalizando o desejo de romper com as amarras institucionais e impor medidas duras, de concentração de poder", escreve o colunista Milton Alves

    (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

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    O governo do presidente Jair Bolsonaro é o epicentro da crise, personifica a própria dinâmica da crise. Bolsonaro, sobretudo, faz uma aposta na ampliação do confronto político na crise em curso – de natureza múltipla e combinada: institucional, econômica, social e sanitária. Uma situação que aponta para uma evolução do impasse político nos próximos meses.

    A opção de Bolsonaro é clara: diante do tamanho da crise, ele faz movimentos no sentido de abrir caminho para um regime de força, autoritário. Ele busca reunir forças para atingir os seus objetivos, operando um conflito permanente com as outras instituições de estado – desmoralizadas – e a oposição política, a velha direita liberal e a esquerda, que no geral adotam uma conduta política tímida e vacilante frente aos arroubos “bonapartistas” do bolsonarismo.

    O governo da extrema direita, apesar de contar ainda com um apoio de cerca de 30% da população, perde, a cada dia, substância política e sofre uma constante erosão no plano simbólico. Pressionado pelas crescentes dificuldades oriundas da crise, Bolsonaro apela para um discurso de radicalização, sinalizando o desejo de romper com as amarras institucionais e impor medidas duras, de concentração de poder.

    Muitos analistas políticos avaliam que Bolsonaro cogita lançar mão de um instrumento como o do “estado de sítio”, caso a crise ameace de forma severa a continuidade de seu desastroso governo. Resta saber se contará com a ancoragem das Forças Armadas para enveredar na direção de um regime de exceção escancarado. De toda forma, a situação é perigosa, requer vigilância e mobilização das forças democráticas e populares.

    Em sua live semanal na última quinta-feira (4), o presidente Bolsonaro voltou a reafirmar o surrado discurso negacionista sobre a pandemia de Covid-19 e atacou a imprensa corporativa e os governadores. Aliás no mesmo dia, em eventos públicos no interior de Minas e em Goiás, repetiu a ladainha contra o isolamento social, minimizou as mortes e os danos provocados pelo coronavírus, chamando de “mimimi” e “frescura” as medidas de proteção preconizadas por autoridades sanitárias estaduais.

    Todos indicadores sanitários e econômicos tendem a piorar nas próximas semanas, prolongando ainda mais as agruras da população trabalhadora e pobre, que ainda não se movimenta na direção de uma revolta generalizada ou de intenso protesto provocado pelo desespero. O que pode ser uma questão de tempo. As fagulhas só estão adormecidas, por ora.

    A situação política também pode se encaminhar para uma espécie de “equilíbrio catastrófico”, um conceito desenvolvido pelo teórico comunista Antonio Gramsci. No momento, Bolsonaro ainda não reuniu as condições para executar um golpe de força, esmagando a oposição de conjunto. Uma solução de tipo “cesarista” só será possível com a arbitragem decisiva das Forças Armadas e dos donos do dinheiro no país.

    Já para a esquerda, uma aposta política efetiva na rebelião popular é o caminho mais eficaz, seguro e rápido para pôr fim ao governo genocida de Bolsonaro. Os exemplos do Chile, Equador, Bolívia e agora do Paraguai indicam um rumo para enfrentar e derrotar a extrema direita neoliberal na América Latina.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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