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    Paulo Moreira Leite

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    Bolsonaro e Guedes apostam em mais desigualdade

    Dias depois do IBGE divulgar que a distância entre pobres e ricos cresce há três anos consecutivos, governo anuncia novas medidas contra os mais pobres, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

    Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia

    Em 16 de outubro de 2019 o IBGE informou que os 1% mais ricos do Brasil têm uma renda 33,8 vezes superior aos 50% mais pobres. Conforme os números divulgados, 104 milhões de brasileiros e brasileiras sobrevivem com até R$ 413 por mês -- ou 13 reais por dia --, enquanto 2,1 milhões sobrevivem com R$ 16.297 mensais.

    A diferença entre o andar de cima e o patamar debaixo não para de crescer, confirmou-se no mesmo levantamento. Em apenas um ano o rendimento do 1% mais rico elevou-se 8,4%, enquanto os 5% mais pobres perderam 3,4%. Conforme estudo da Fundação Getúlio Vargas, esse processo se repete, mês a mês, sem intervalo, há 14 trimestres seguidos -- período politico inaugurado pelo golpe que derrubou Dilma Rousseff. Em 2019, a diferença é a maior desde 2012, quando o instituto passou a fazer esse tipo de pesquisa.

    Apesar disso, nas semanas seguintes à divulgação dos dados do IBGE, o governo Guedes-Bolsonaro anunciou medidas econômicas que terão o efeito de acentuar a desigualdade e ampliar a pobreza.

    Depois de aprovar a reforma da Previdência, pretende-se agravar a retirada de direitos trabalhistas. A pretexto de que é preciso levantar recursos para estimular o emprego de jovens, pretende-se arrancar uma taxa de 7,5% de quem recebe o seguro desemprego. Também se prevê a suspensão do aumento real do salário mínimo até 2021. Garantia de assistência básica para 40 000 vítimas de acidentes de trânsito por ano, DPVAT deve ser extinto a partir do ano que vem. Destino obrigatório de 45% da arrecadação do DPVAT, a partir do ano que vem o SUS irá enfrentar um desfalque estimado em R$ 3,7 bilhões por ano, ou 3% do orçamento da saúde pública brasileira. Única possibilidade de emprego para uma imensa parcela de brasileiros, a jornada de trabalho no serviço público pode vir a ser reduzida em 25%, com correspondente corte nos salários -- de uma forma ou de outra, quem pagará a conta do prejuízo é a população. 

    Apesar de seu caráter socialmente criminoso, essas medidas expressam uma verdade reconhecida de sociedades como a brasileira. Aqui, a concentração da riqueza econômica anda de mãos dadas com a concentração de poder político, assegurando ao patamar superior da pirâmide instrumentos cada vez mais eficazes para proteger vantagens e privilégios, entregando cada vez menos aos andares inferiores.

    Numa sociedade onde a maioria é mantida sob opressão constante -- 1 contra 33,8 -- a democracia enfrenta uma situação de risco permanente.

    Alguma dúvida?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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