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    Paulo Moreira Leite

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    Bolsonaro e o corpo estendido numa poça de sangue

    Reação de Bolsonaro diante do crime no Carrefour mostra que a luta contra o racismo também é uma luta contra seu governo, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

    (Foto: Divulgação)

    Mesmo sabendo que nunca se deve esperar uma reação decente por parte  Jair Bolsonaro, a resposta presidencial diante assassinato de João Alberto Siqueira Freitas supera qualquer expectativa. 

    Longe de demonstrar empatia -- mesmo protocolar -- pelo sofrimento de um cidadão massacrado em praça pública, asfixiado numa poça de sangue por um grupo covarde de seguranças, Bolsonaro aproveitou a oportunidade para criticar e ameaçar brasileiros e brasileiras que foram as ruas manifestar sua indignação.   

    "Não nos deixemos ser manipulados por grupos políticos", escreveu, como se os protestos contra o crime de Porto Alegre fossem parte de uma operação oculta contra o grupo Carrefour, um dos maiores do mundo . 

    "Não existe cor da pele melhor do que as outras", acrescentou Bolsonaro,  sugerindo que uma reação de indignação pudesse confundir-se com a defesa de qualquer tipo de privilégio. 

    Tentando perfilar-se em torno do já esfarrapado mito da  democracia racial, um dos pilares ideológicos da desigualdade brasileira,  Bolsonaro ensaiou uma argumentação que combina a Casa Grande de Gilberto Freyre com o individualismo agravado pelos tempos de neoliberalismo de Paulo Guedes:  

    -- Como homem e como Presidente, sou daltônico: todos têm a mesma cor. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. Existem homens bons e homens maus. São nossas escolhas e valores que fazem a diferença.

    Num país onde pretos e pardos -- 53% da população -- constituem 75% dos mortos em ações policiais, é obvio que o Estado que Bolsonaro preside não é daltônico, a começar pelas forças policiais, cultivadas  com grandes mordomias e muito pão-de-ló, num tratamento de quem tenta garantir a sobrevivência a frente do Estado de qualquer maneira. 

    Novo ponto de resistência contra uma sitiuação geral de opressão e perda de direitos, o corpo estendido numa poça de sangue em frente ao Carrefour é parte da luta contra o racismo, contra o governo Bolsonaro.

    Alguma dúvida?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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