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    Nêggo Tom

    Cantor e compositor.

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    Bolsonaro e o estado evangélico de direito no combate a “cristofobia”

    Quando o síndico de Brasília diz na ONU que o Brasil é cristão e conservador e fala que a comunidade internacional deve garantir a liberdade religiosa e "combater a cristofobia", ele está pavimentando caminho para o estado evangélico de direito. E quem questionar, será considerado inimigo de Cristo, de Deus, da igreja e de pastores evangélicos

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    Como já era de se esperar, o discurso de Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU foi apenas uma cortina de fumaça, para esconder os seus desmandos a frente do governo. Já na abertura de sua fala, ele se apresenta como um mensageiro da verdade nesse momento em que o mundo mais precisa dela para superar os seus desafios. Se eu estivesse fazendo um “React”, eu já pausaria o vídeo e perguntaria: como assim? Que tipo de compromisso com a verdade pode ter um presidente eleito através da propagação de fake News e da difamação caluniosa de seus opositores?

    Seguindo o fio, ou no meio dele, Bolsonaro disse ao mundo que destinou recursos ao povo brasileiro, para suprir às suas necessidades durante a pandemia. Como um defensor da verdade, deveria ter dito ao mundo que sempre foi contra o auxílio emergencial, mas que derrotado pelo congresso, principalmente, pelos parlamentares da esquerda, tentou reduzir o valor inicialmente estipulado como benefício. Ainda sob a distopia e a pequenez que lhe são peculiares, Bolsonaro acusou a imprensa brasileira de trazer o caos social ao país, criando um pânico na população e estimulando as pessoas a ficarem em casa como medida de prevenção ao contágio pelo vírus. Esquecendo-se de dizer que o isolamento era uma recomendação da OMS.

    Adiantando a fita, porque a retórica do discursante além de esquizofrênica do ponto de vista ideológico, é abstrata e entediante, chego ao ponto crucial do pronunciamento do excelentíssimo que nos governa. O clímax da moral governista. O ponto “G” do projeto de poder por trás do Bolsonarismo. O Estado cristão. Quando o síndico de Brasília diz na ONU que o Brasil é cristão e conservador e fala que a comunidade internacional deve garantir a liberdade religiosa e "combater a cristofobia", ele está pavimentando caminho para o estado evangélico de direito. E quem questionar, será considerado inimigo de Cristo, de Deus, da igreja e dos pastores evangélicos que doutrinam seus fiéis para devotá-lo politicamente.

    É a inquisição neo pentecostal se aproximando. Visualizo um crematório de hereges dentro do Templo de Salomão e Silas Malafaia comandando um batismo coletivo, exigindo que os "ímpios" reneguem o estado laico e o aceitem como senhor e manipulador de suas vidas. Aqueles que não se submeterem ao cristofascismo estabelecido, serão queimados numa grande fogueira ungida instalada no palco da Marcha para Jesus, diante dos gritos de: “Queima, senhor!” vindo de uma multidão de ovelhas alienadas e corrompidas pelo discurso conservador e moralista promovido por uma rede de falsários da fé. Essa história já se repetiu como tragédia, e, como previsto historicamente, agora precisa se repetir como farsa.

    Agora, vamos ao conservadorismo ao qual se referiu Bolsonaro em seu discurso. Segundo a semântica oculta das palavras, CONSERVADORISMO é um Sub humanismo comum de dois gêneros. 1 - Característica de quem é preconceituoso; 2 - Conjunto de valores alicerçados no preconceito como tradição, na ignorância como educação, na estupidez como ética, no falso cristianismo como religião e na hipocrisia como moral; 3 - Limitação do processo de evolução civilizatório da humanidade; 4 - Sociologia: Racismo, machismo, misoginia, homofobia, intolerância, reacionarismo, armamentismo, violência, exclusão social, escravagismo, opressão, supremacia branca; 5 - Política: Bolsonarismo irracional (*pleonasmo, redundância), fascismo neo pentecostal, estado evangélico de direito; 6 – Popular: Tudo que se faz escondido e se condena às claras; 7 – Tradição: Manutenção dos privilégios dos herdeiros das capitanias. Fonte: Dicionário da percepção.

    Bolsonaro além de mentir na ONU sobre os seus feitos e a sua política de governo, amparou-se mais uma vez na pauta moral, usando o cristianismo como muleta. Qualquer um que não seja mal intencionado, sabe que Bolsonaro está longe de ser um cristão. E, mais longe ainda de possuir a moral que tanto defende. Não há nenhum ineditismo nessa postura. Hitler usava o discurso semelhante há 80 anos atrás. E, na época, também houve quem dissesse que ele era um escolhido de Deus. Ou o povo não tem espiritualidade suficiente para discernir entre quem é ou não é de Deus, ou Deus tem a mão podre para escolher os seus representantes. Fato é que o autoritarismo sempre se vestiu de cristão e conservador, para chegar ao poder e se estabelecer como uma fonte inesgotável de confiança e credibilidade. Afinal, a sua autoridade vem de Deus.

    Estejamos atentos aos textos que os próximos capítulos dessa bíblia escrita sob inspiração do divino fascismo, nos apresentará como palavra de Deus. O Estado cristão deve ser combatido antes mesmo de ser instaurado. Ele servirá como excludente de ilicitude para toda a sorte de corrupção política e todo tipo preconceito e intolerância. Seja racial, social, religiosa ou de gênero. O Estado é laico. Deus não tem religião e muito menos partido. Ele não revestiu de autoridade nenhum desses que andam por aí dizendo-se ungidos por ele. A mensagem subliminar que permeia esse discurso é muito perigosa e coloca em risco o nosso direito à liberdade garantido pela constituição.

    Segundo uma lenda urbana brasileira, se os discos da Xuxa fossem tocados de trás pra frente, era possível ouvir mensagens ocultas. Pura bobagem! Por outro lado, se escutássemos os discursos de Bolsonaro no sentido reverso, com certeza ouviríamos a voz do verdadeiro emissor da mensagem. E a voz de Deus eu garanto que não seria. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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