Bolsonaro preso e Trump impune
"Enquanto isso, os EUA, que sempre consideramos muito mais duros com os criminosos, patina na persecução penal dos golpistas locais"
O Brasil está dando show na persecução penal dos golpistas que tentaram instituir uma ditadura militar no Brasil. Estamos "humilhando" os Estados Unidos no que diz respeito à punição ao golpismo da extrema-direita.
A despeito do que pensa o povo, o Brasil tem uma democracia muito mais sólida do que se poderia imaginar. É quase inacreditável que estejamos conduzindo de forma tão eficiente os processos penais contra Bolsonaro e sua quadrilha golpista.
É inacreditável porque sempre nos vimos como uma nação sem leis, um país em que a impunidade impera. Ainda assim, o que temos visto desde que Bolsonaro e seus asseclas começaram a assediar o Brasil ainda durante a pandemia foi uma reação admirável que devemos debitar ao Supremo Tribunal Federal e à Polícia Federal.
Infelizmente, a Procuradoria Geral da República foi aparelhada por Bolsonaro em setembro de 2018 e assim permaneceu até dezembro do ano passado, quando Lula, a pedido de Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, nomeou Paulo Gonet como chefe do Ministério Público do Brasil.
Com um PGR alinhado com a lei, vem aí uma ação penal arrasadora contra Jair Bolsonaro, após ação igualmente arrasadora contra idealizadores, financiadores e executores da tentativa de solapar a democracia brasileira em um processo golpista que durou quatro longos anos.
O 8 de janeiro de 2023 começou em 1o de janeiro de 2019, com a posse de Bolsonaro. Dali em diante, tudo que ele fez foi para se perpetuar no poder. Suas ações para fortalecer a pandemia de covid 19 derivaram da preocupação em não permitir prejuízos a empresários e banqueiros que seriam vitais para mantê-lo na Presidência indefinidamente.
Eis que, contra Bolsonaro, ergue-se a Suprema Corte de Justiça brasileira, sob a batuta cadenciada e irrefreável de um magistrado daquela Corte que surpreendeu a todos, pois fora indicado pelo eternamente golpista Michel Temer.
Alexandre de Moraes foi a melhor surpresa que o Brasil teve em décadas.
O Supremo manteve Bolsonaro "dentro das quatro linhas" contra a sua vontade. Ignorou ameaças e difamação; conteve a aceleração da marcha golpista de Bolsonaro e suas hordas de degenerados de extrema-direita; reagiu com energia e celeridade às tentativas de parar o país e depredar Brasília que começaram no dia seguinte à vitória de Lula.
Após o 8 de janeiro, com Moraes à frente, o STF organizou os Poderes da República, inclusive a Presidência do Congresso, e passou a empreender a persecução penal dos executores da tentativa de golpe.
Moraes Instaurou os inquéritos 4781 (fake news), 4874 (milícias digitais) e 4920, 4921, 4922 e 4923 (atos antidemocráticos), além da Petição (PET) 11108, sobre a atuação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
O STF já condenou 227 pessoas pelos crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. As penas vão de 3 a 17 anos de prisão.
A Polícia Federal, de junho para cá, já indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro em dois crimes graves, falsificação de cartões de vacinação e roubo de joias do Patrimônio Público brasileiro e já anunciou que, mês que vem, indiciará Bolsonaro pela trama golpista menos de dois anos após ele ter deixado a Presidência.
Só como termo de comparação, Lula foi denunciado pelo MPF em 2016 e foi preso em 2018. Após deixar a Presidência, em 1o de janeiro de 2011, demorou 5 anos para ser indiciado e 7 anos para ser preso. Bolsonaro deve ir para a cadeia no primeiro semestre do ano que vem. Cerca de dois anos e meio após o fim do mandato.
Enquanto isso, os EUA, que sempre consideramos muito mais duros com os criminosos, patina na persecução penal dos golpistas locais.
Michael Sparks, de 47 anos, o primeiro golpista julgado por a invadir o Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, foi condenado em agosto último a cerca de quatro anos de prisão. E Donald Trump deve ficar impune.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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