Boulos e Erundina, uma chapa da burguesia para conter a polarização - parte 1
O posicionamento da imprensa tradicional mostra que a candidatura de Boulos não é um problema para a direita e, ainda por cima, é comemorada
Por Juca Simonard
(O PSOL respondeu a esse artigo. Leia aqui)
Com 61% dos votos do partido, a chapa Guilherme Boulos e Luiza Erundina foi definida para representar o PSOL nas eleições municipais de São Paulo deste ano. Todos já sabiam do resultado, principalmente porque dias antes uma pesquisa do Instituto Ideia Big Data divulgou Boulos na terceira colocação das intenções de votos dos paulistanos. Ele estaria atrás de Bruno Covas (PSDB) e Márcio França (PSB), respectivamente com 30% e 16%.
Porém, o primeiro fato que chama atenção é a comemoração da imprensa de direita em torno disso. Enquanto, lembremos, em 2018, Lula era visto como um candidato muito “radical”, “antiquado” e, enfim – para resumir – era mal visto pela imprensa golpista, Boulos, que a própria imprensa apresenta como a “nova” cara dos movimentos sociais, foi altamente divulgado pelo monopólio de notícias.
A começar pelo fato da pesquisa apresentando-o como principal candidato da esquerda na capital paulista ter ocorrido dias antes da decisão no interior do partido. Quem conhece as táticas da imprensa burguesa sabe que essas pesquisas são totalmente manipuladas para favorecer seus interesses e são divulgadas também em períodos estratégicos. Se engana, e muito, quem acredita que, por serem dados divulgados, as pesquisas são imparciais e condizem com a realidade. As duas afirmações estão erradas, pois as pesquisas de determinado veículo têm sempre o objetivo de favorecer aquilo que ele defende.
Desta forma, a pesquisa parece ter sido uma forma da burguesia de afirmar seu “apoio” à candidatura de Boulos, reforçando para que o PSOL a defina oficialmente. Não creio que, caso não houvesse a pesquisa, ela não seria escolhida, pois acho que, de fato, essa articulação estava determinada há muito tempo. Porém, percebe-se que foi uma garantia para que não fosse outro o nome.
Agora que Boulos-Erundina foi definido, percebe-se um clima favorável na imprensa hegemônica. Peguemos como exemplo um artigo na Folha de S. Paulo, publicado no dia 21 de julho. “Guilherme Boulos, 38, aposta na conexão com a periferia e no diálogo com o setor da classe média que não ‘pensa igual à Bia Doria’ para se tornar competitivo nas eleições de novembro”, afirma o primeiro parágrafo.
E continua: “Sem experiência em cargos eletivos, o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto) e da frente de esquerda Povo sem Medo se apega ainda ao papel que será exercido na campanha por sua vice, a ex-prefeita da capital Luiza Erundina, 85 (PSOL)”.
“Boulos, que concorreu à Presidência da República em 2018 (terminou em 10º lugar), prega o fortalecimento dos serviços públicos, defende que a periferia tenha centralidade na gestão e levanta bandeiras como a tarifa zero no transporte público e a desapropriação de imóveis vazios”, conclui o artigo antes de publicar a entrevista feita com o candidato.
Assim, Boulos é apresentado, veladamente, como a “nova” cara dos movimento sociais, que “aposta na conexão com a periferia e no diálogo com o setor da classe média”, não tem “experiência em cargos eletivos” e “prega o fortalecimento dos serviços públicos, defende que a periferia tenha centralidade na gestão e levanta bandeiras como a tarifa zero no transporte público e a desapropriação de imóveis vazios”. Ele seria, desta forma, a cara da “nova política” – campanha da direita para eleger novos representantes, como o MBL, Witzel, Bolsonaro, Tábata Amaral etc. - da esquerda.
Da mesma forma, no artigo da Revista Veja, com o chamado “Nem Haddad salvaria o PT da derrota para prefeito de S. Paulo”, procura-se apresentar que, para a esquerda, Boulos é a melhor alternativa.
“Melhor o PT já ir se acostumando com a ideia de colher mais uma derrota na eleição para prefeito de São Paulo. O PSOL indicou, ontem à noite, Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), para disputar a sucessão de Bruno Covas (PSDB). A deputada federal Luiza Erundina será sua vice”, ressalta o artigo.
“Salvo Jilmar Tatto, o candidato do PT a prefeito, ninguém mais no partido acredita em suas chances de vencer a eleição. Dá-se de barato nas vizinhanças de Lula que o próprio PT acabará votando em massa em Boulos. E que a história só poderia ser diferente se Fernando Haddad, ex-prefeito, concordasse em concorrer. Hipótese descartada. Haddad está convencido de que seria derrotado”, continua.
O artigo vai na linha do que fez o colunista do jornal O Globo Ascânio Seleme, que procurou incentivar o isolamento do lulismo dentro do PT, da direita buscar opinar sobre os rumos da esquerda. Qualquer um com o mínimo de pensamento crítico entende que essas opiniões da imprensa golpista têm como objetivo justamente prejudicar a esquerda para favorecer a direita. Anteriormente, a Veja já havia lançado o chamado “Haddad sai entra Boulos”, reforçando seu desejo de ver o psolista como grande representante da esquerda nas eleições paulistanas.
Com isso, antes de entrar no debate sobre a candidatura do Boulos, quero apenas deixar claro que, conforme mostra o posicionamento da imprensa tradicional, a candidatura de Boulos não é um problema para a direita e, ainda por cima, é comemorada. Agora, vale entrar em questão sobre o porquê disso.
*Como se trata de uma discussão ampla, este artigo será divido em partes com o intuito de demonstrar como a candidatura do Boulos, conscientemente ou não (por parte da chapa), é um instrumento da burguesia para conter a polarização e a luta de classes após o golpe de Estado e, também, para garantir a vitória eleitoral do PSDB na capital paulista.
A primeira parte, sendo esta, mostra inicialmente como é perceptível a defesa da direita da chapa Boulos-Erundina. Em seguida, procurarei demonstrar as ligações dos candidatos do PSOL com a burguesia e o processo golpista; explicar o caráter pequeno-burguês da candidatura; mostrar como ela será usada para favorecer a manobra da burguesia para isolar o PT; e, finalmente, apontar porque a candidatura não favorece em nada a luta contra a direita golpista e o desenvolvimento independente da luta dos trabalhadores.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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