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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Boulos resolveu fazer tudo errado

Para que repetir que foi acusado de usar cocaína?

Guilherme Boulos (Foto: Reuters/Maira Erlich)

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Em vez de trabalhar para baixar a sua alta rejeição no segundo turno, Boulos resolveu investir para aumentar a rejeição de seu adversário, mesmo depois de as pesquisas apontarem que ele não ganhou os pontos percentuais que Nunes perdeu entre a primeira e a segunda semana da atual campanha. 

 Ou não acredita em pesquisas ou prefere dar murro em ponta de faca.

Depois de passar o primeiro turno vendendo a imagem de bom moço, fazendo coraçãozinho (como o Lulinha Paz e Amor de 2002), no segundo vestiu a camiseta do João Ferrador, aquele Lula com cara de poucos amigos que foi derrotado em três eleições presidenciais seguidas. 

 Em vez de procurar alianças com os eleitores mais ao centro, como fez Haddad em 2012 e Lula em 2022, isolou-se em seu campo, batendo no peito que é de esquerda, como disse hoje na sabatina do UOL. 

 Todos que sabem o que é direita e esquerda, sabem que ele é de esquerda, não precisa enfatizar isso, ainda mais porque 60% dos eleitores paulistanos escolheram dois candidatos de direita no primeiro turno, e é o tipo de informação que não vai fazê-los mudar de voto.  

 Se eleitor de esquerda não vota em candidato de direita, por que eleitor de direita votaria num candidato de esquerda?

 Os seus simpatizantes vibram com esse tipo de declaração (está marcando posição), mas os votos deles ele já tem, precisa dos votos de quem não simpatiza com ele.

 Também resolveu repetir os mesmos ataques desferidos principalmente por Pablo Marçal no primeiro turno, como o da agressão de Nunes à mulher, e que não redundaram em sua queda, ao contrário, quem caiu foi Marçal. 

 Se as denúncias na boca de Marçal não derrubaram Nunes, também não vão derrubá-lo na boca de Boulos.

 Outra jogada à la Marçal foi anunciar, no debate da Record, que vai detonar, nos próximos dias, uma denúncia-bomba. Quem tem uma bomba não anuncia, detona. A sua rejeição aumentou no segundo turno porque à sua rejeição do primeiro somou-se a rejeição de Marçal. Quanto mais ficar parecido com ele, mais rejeitado será. 

 A impressão que dá é que ele decidiu fazer tudo, ao mesmo, agora, em vez de focar no que pode favorecê-lo. 

 De que adianta, por exemplo, pedir a proibição da divulgação de uma pesquisa Datafolha que já foi divulgada? Seu resultado já foi absorvido pela população, e a decisão indica uma clara tentativa de censurar um instituto com 40 anos de tradição e cujos resultados a prefeito de São Paulo, desde 1992, sempre coincidiram com os das urnas: quem ficou em primeiro no primeiro turno sempre ganhou o segundo, com exceção de 2012, quando Haddad virou sobre Serra.

 Se ele queria mostrar que não é mais o militante radical de outros tempos, para que montar um comício na porta da prefeitura, como fez hoje, como que chamando seu adversário pra briga, no qual (mais uma vez emulando Lula) leu uma “Carta aos Paulistanos”?

 Para que repetir sempre que foi acusado injustamente de usar cocaína, em vez de mudar de assunto? A cada vez que conta essa história, mais eleitores ficam sabendo dela, e vão ficar em dúvida sobre a sua veracidade.

 Para que pernoitar em casas de eleitores (o que pretende fazer esta semana, emulando Eduardo Suplicy) se isto pode ser associado à pecha de “invasor de casas” por línguas maldosas dos adversários? 

 Para que enfatizar que Nunes tem um padrinho (Tarcísio), se ele também tem (Lula)?

 Atirar para todo lado dificilmente resulta em acertar o alvo e sim em balas perdidas.

 Boulos resolveu fazer tudo errado na reta final. Quando é proibido errar. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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