Brasil na Opep, bom para o meio ambiente
"Se soubermos aproveitar, ocuparemos um lugar privilegiado no mundo. Tudo dependerá da política, o sucesso não cairá do céu"
O Brasil foi convidado há um ano e aceitou fazer parte da Opep+, nas palavras do Ministro Alexandre da Silveira: “É apenas uma carta e fórum de discussão de estratégias dos países produtores de petróleo. Não devemos nos envergonhar de sermos produtores de petróleo”. Entendo a certa defensiva do Ministro das Minas e Energia, dado ao combate anti petróleo dos ambientalistas radicais e as contradições do governo federal, que já levou ao presidente reclamar da lenga lenga do IBAMA. Mais do que “lenga lenga”, o IBAMA tem impedido até os estudos das reservas do petróleo equatorial em nosso país. Esperamos mais atitude do presidente Lula do que as justas reclamações. Diferentemente do que falam os ingênuos e os mal intencionados que, há muitos anos, vêm demonizando o ouro negro, considero o petróleo um dos elementos que foram centrais nos avanços ambiental, social e político da humanidade. Ajudou a mudar o século XX, na produção de alimentos, elevação da qualidade e longevidade da vida, enfim, ajudou a mudar o padrão do comportamento humano. É certo que também trouxe sequelas e é um produto finito. É fruto da decomposição de matérias orgânicas, principalmente algas e plânctons que existiam em antigos lagos e oceanos entre
252 milhões e 66 milhões de anos, na era chamada de mesozóica, que foram soterradas e cozidas pelas altas temperaturas e pressão no subsolo. Existem outras teorias, inclusive que os hidrocarbonetos não sejam orgânicos e sim inorgânicos vindos do núcleo da terra, mas estas visões são menos aceitas.
A indústria do petróleo, a petroquímica abrange, além da produção de diversos tipos de combustíveis para a locomoção das pessoas e para a produção de energia em larga escala, a indústria de borracha sintética e plásticos, lubrificantes, tintas de todos os tipos, solventes, produtos cosméticos e a indústria de medicamentos; até as velas que são usadas nas orações e rituais de algumas religiões são derivados do petróleo. Hoje, ninguém consegue se mover prescindindo de um derivado de petróleo, a água que chega nas casas vem pelos canos, parte dos pisos, a cobertura dos fios elétricos, os veículos que andamos, parte das poltronas que sentamos e quase tudo que conseguimos enxergar… ninguém pode se bulir sem tocar num derivado de petróleo.
O petróleo já era conhecido e usado, não em escala industrial, pela humanidade desde os primórdios para iluminação e aquecimento de forma rudimentar. Marco Polo, no livro que ditou para o companheiro de prisão, Rustichello de Pisa, faz referência a um poço incandescente. Existem diversas referências ao petróleo desde tempos imemoriais. Há um século tínhamos poços de petróleo que jorravam a flor da terra e alguns explorados comercialmente com escavações de 20 metros, como o primeiro poço aberto na Pensilvânia. O petróleo jorrava no que hoje são ruas em Los Angeles, esse petróleo já foi explorado, acabou. Dick Teresi, em seu livro Descobertas Perdidas, escreve: “ Os chineses foram os primeiros na indústria do petróleo. Registros que antecedem ao Antigo Testamento referem-se a nascentes de petróleo. Jo shui (água fraca) era o nome chinês para o petróleo porque, embora fosse líquido, nada flutuava sobre esta substância, uma qualidade que deve ter sido desconcertante. Por volta de 190 d.C. Thang Meng escreveu: ‘há certas rochas das quais surgem fontes de água [...]. Esse líquido é gorduroso e pegajoso como o suco da carne (...) se aplicarmos luz ao líquido ele queima como chama excessivamente brilhante” e mais adiante: “Óleo natural era um fenômeno familiar no Oriente Médio. Poços de gás natural incandescente foram descritos pelo
pensador árabe al-Mas’udi (915 d.C.)”. Há, inclusive, relatos de rudimentos de proto-refinaria entre os Incas. Porém, a indústria do petróleo foi uma opção para o giro do desenvolvimento econômico no final da primeira revolução industrial com o surgimento das máquinas movidas a motor por explosão, combustão interna, em substituição às antigas máquinas a vapor; foi ao mesmo tempo um fator de aceleração do desenvolvimento econômico e do salto tecnológico experimentado no século XX.
As máquinas à vapor, principalmente as desenvolvidas a partir de James Watt que revolucionaram a produção industrial nos séculos XVIII e até meados do XIX eram alimentadas por lenha e por carvão. Um trem de ferro reservava um ou dois vagões para carregar a lenha, imaginem o consumo das florestas pelos trens e pelos navios? As grandes cidades eram iluminadas pela queima da gordura das baleias, que quase foram extintas no século retrasado. E se não tivéssemos em abundância o petróleo e o gás? Em 1849, o canadense Abraham Gesner, sintetizou um novo combustível que ele denominou de querosene, inicialmente extraído do carvão, mas que poderia ser produzido a partir do petróleo, foi uma verdadeira revolução, as casas e as ruas foram melhor iluminadas para o bem dos cachalotes e até eletrodomésticos foram produzidos em larga escala com querosene. Lembro-me que quando criança, morei em Serrolândia, sertão da Bahia, na casa dos meus pais possuíamos uma geladeira a querosene, naquela época boa parte das cidades brasileiras usavam energia produzida por gerador a diesel, das 18 às 22 horas, depois era a luz de lamparinas, lampiões, candeeiros, etc.
A escolha do combustível fóssil não foi uma maldade de quem queria maltratar o meio ambiente, nem uma ação do demônio para tocar fogo no mundo. Foi causa e consequência do tipo de desenvolvimento humano em busca do conforto, da qualidade de vida, do acúmulo de riqueza, de uma conjunção de fatores que tem levado a humanidade inicialmente a povoar o mundo todo tentando dominar e domesticar a natureza. Não existe bonzinho nem mal nesta longa caminhada; quando o indígena derrubava a floresta, fazia uma coivara, tocava fogo e plantava a sua roça, o objetivo era produzir mais num menor espaço de terra em vez de sair floresta a fora coletando alguns grãos; isso teve consequência, desenvolveu e criou-se novas espécies e teve sérias repercussões ao meio ambiente. Hoje, quando usamos a ureia, feita do gás do petróleo, evitamos a derrubada de imensas florestas pois conseguimos adubar a terra e produzir muito mais num pedaço menor de terra, agora temos de alimentar bilhões de pessoas no mundo e não alguns milhões. Quando um médico receita uma medicação há muito conhecida, como a dipirona, ela pode levar a um efeito colateral chamado agranulocitose, que pode matar o paciente, não é brincadeira e não adianta dizer que vai tomar AAS, ele é um ácido e pode levar também a sangramentos severos. O fato é que a existência do homem e o seu desenvolvimento inexoravelmente modifica a natureza, temos que a cada passo procurar medidas para mitigar as agressões à natureza e evitar o seu colapso. A ideia de preservação absoluta da forma original, além de impossível e conservadora, é anti-humana. Alguém imagina o ser humano sem as frutas, legumes, cereais e hortaliças; sem os rebanhos bovinos, suínos e sem as aves domesticadas; há pessoas que não se imaginam nem sem seus pets. Nada disto é natural, tudo foi fruto do desenvolvimento econômico, social e político gestado ao longo da nossa existência que mudou o meio ambiente. Em relação ao petróleo, nestes últimos cem anos temos desenvolvido formas de energias alternativas e formas de evitar poluir a natureza com o subproduto do petróleo, vamos conseguir. Já temos veículos híbridos que fazem 30 ou mais Km com um litro de gasolina, temos, a partir do nosso proálcool, os veículos a etanol. O mundo e o desenvolvimento vencerão a poluição. Imaginem se usássemos as tecnologias antigas para produzir milhões de toneladas de grãos, como teremos este ano no Brasil, imaginem se não existisse o petróleo… ele já provocou muita guerra, mas a sua falta teria provocado muito mais.
Voltarei ao tema do petróleo em outros artigos, para finalizar este quero falar sobre o fim deste finito combustível fóssil. Desde menino vejo falar que o petróleo está acabando. O fato é que ninguém sabe quando o petróleo vai acabar. O que sabemos é que ele está cada vez mais caro e cada vez mais requer maior tecnologia para ser explorado. Em 70 o preço do petróleo ficava em torno de 3 dólares, uns 15 hoje, 3 anos depois, devido à guerra do Yom Kippur, o petróleo quadruplicou de preço e quem vivia naquela época deve se lembrar do sufoco. Mas a tendência é a redução do uso do petróleo como fonte de energia, o que pode racionalizar o seu uso em ampliar em centenas de anos a sua durabilidade. A Terra ainda tem muito petróleo a ser descoberto e muito a ser explorado, é salutar combinarmos as diversas fontes de energia e o Brasil é um dos poucos países que tem, Sol, vento, mares, petróleo, gás, rios, massa agrícola, para gerar energia. Se soubermos aproveitar, ocuparemos um lugar privilegiado no mundo. Tudo dependerá da política, o sucesso não cairá do céu.
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