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    Gilberto Maringoni

    Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro.

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    Caso Venezuela: a Lava Jato é uma articulação internacional

    "A Lava Jato passa a realizar - tacitamente ou não - um trabalho em linha com quem busca desestabilizar o governo venezuelano", escreve o colunista Gilberto Maringoni; "Trama-se ali uma diplomacia paralela, violando frontalmente a Constituição", diz ele, acrescentando que a operação é uma "articulação reacionária sem limites"

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    Sob vários aspectos, as revelações feitas pelo Intercept neste domingo, 8, são as mais graves entre todas as trocas de mensagens que vieram à luz até aqui. Paradoxalmente, são as de menor impacto público.

    O que desvendam tais diálogos virtuais? Que - ao buscar vazar delações sobre a ação da Odebrecht na Venezuela - a Lava Jato transformou-se numa organização de âmbito internacional, capaz de manipular e influenciar cenários políticos além fronteiras. E exibem, pela segunda vez, a cumplicidade de Fernando Henrique Cardoso com o grupo baseado em Curitiba.

    A INTERVENÇÃO DE DELTAN DALLAGNOL, em 6 de agosto de 2017, expressa o que estava em jogo:

    "Deltan – (...) Não vejo problema de soberania. E há justificativa para fazer qto à Venezuela e não outros pq destituiu a procuradora geral e é ditadura. (...) O propósito de priorizar seria contribuir com a luta de um povo contra a injustiça, revelando fatos e mostrando que se não há responsabilização lá é pq lá há repressão".

    O procurador evangélico demonstra saber dos problemas diplomáticos que tais decisões - vazar as informações - poderiam acarretar. Mas as justifica para "contribuir com a luta de um povo contra a injustiça". Quem delegou a Dallagnol e seus comparsas a prerrogativa de agir como um templário togado ao arrepio da Constituição Federal? A Carta, como se sabe define o seguinte sobre o tema:

    "Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

    (...)

    III - autodeterminação dos povos;

    IV - não-intervenção".

    Os milicianos das araucárias não desconhecem tais cláusulas, que se originam nas formulações do Barão do Rio Branco, há mais de um século. A evidência está no seguinte diálogo de 5 de agosto de 2017, revelado pelo Intercept:

    [procurador] Paulo [Galvão]– (...) Vejam que uma guerra civil lá é possível e qq ação nossa pode levar a mais convulsão social e mais mortes (ainda que justa ou correta a ação). Lá não é Brasil.(...) Não estou dizendo que sim ou que não, apenas que precisa ser refletido

    Roberson [Pozzobon] – Caraaaaaca

    Orlando [Martello] – (...) Não dá para abrir simplesmente o que temos. (...) Não dá para arriscar um descumprimento de acordo, inclusive com consequências cíveis de nossa parte, bem como da União. (...) A solução que vejo é fazer uma comunicação espontânea para o próprio país. No caminho isso certamente vazará em algum lugar, sem qq participação nossa. Isso posso fazer de imediato".

    A LAVA JATO PASSA a realizar - tacitamente ou não - um trabalho em linha com quem busca desestabilizar o governo venezuelano. Em português claro,soma-se à conduta do departamento de Estado dos EUA e aos serviços de inteligência daquele país. Repetindo: tacitamente ou não.

    De forma explícita, trama-se ali uma diplomacia paralela, violando frontalmente a Constituição. A hesitação é tanta, diante da gravidade da iniciativa, que, a dada altura, os membros da força tarefa consultam o ex-presidente FHC. A tarefa cabe a Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil:

    "Bruno – Estou num debate sobre Venezuela na Fundação FHC e queria comentar que a TI está defendendo, junto à FTLJ, que se abram processos extraterritoriais contra autoridades venezuelanas. (...) FHC veio conversar comigo no final e disse que é uma boa ideia".

    A TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL é uma espécie de UDN global, criada em 1993, logo após a queda dos regimes do Leste Europeu, em pleno período de unipolaridade estadunidense. A ONG tem como atividade-fim o combate à corrupção, sem levar em conta - aparentemente - contextos e condicionantes políticos. Em seu site, ela cita sua parceira preferencial por aqui:

    "O Brasil assistiu nos últimos anos àquela que vem sendo provavelmente a mais impressionante onda de investigações e denúncias envolvendo corrupção na história do país. A operação Lava Jato ganhou manchetes no mundo inteiro e virou até marchinha de Carnaval (o hit de 2016 “Ai, meu Deus, me dei mal / Bateu à minha porta o japonês da Federal”). Bilhões de reais foram recuperados".

    As investigações sobre Sergio Moro devem ganhar, a partir dessas revelações, novos contornos. Não estamos apenas diante de uma ação que trabalhou em linha com setores da direita - mídia e capital financeiro - e da extrema-direita brasileiras. A Lava Jato é uma organização com ramificações internacionais e sem escrúpulo algum em suas iniciativas.

    A Lava Jato mostra-se cada vez mais como o porão do bolsonarismo e ferramenta importante na consolidação de uma articulação reacionária sem limites. Não estamos diante de amadores e nem de caipiras deslumbrados.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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