Causa dos aposentados reúne opositores contra repressão policial de Milei

Nesta quarta-feira, uma multidão de manifestantes se reuniu nas proximidades do Congresso Nacional da Argentina em defesa dos aposentados e contra o governo Milei. O parlamento foi cercado com grades e por tropas de choque federais. Mais de mil policiais formaram uma barreira humana atrás das grades de ferro instaladas por ordem da ministra da Segurança, Patricia Bullrich, impedindo a maior aproximação dos manifestantes. Os federais fizeram ainda plantão especial nas estações de trem, num gesto interpretado pela esquerda como de “intimidação” e para dificultar a formação de grupos de manifestantes no caminho para a região do parlamento. Bullrich anunciou que haveria repressão “contra os violentos” e Milei a elogiou, dizendo que ela é “a melhor ministra da história” argentina. Eles estão em plena sintonia. Não foi uma quarta-feira qualquer na Argentina.

A manifestação em defesa da causa dos aposentados, que reclamam contra a forte perda de poder aquisitivo neste governo, uniu setores da oposição contra a forte repressão policial realizada na quarta-feira passada durante o já tradicional protesto dos aposentados argentinos. As demandas dos aposentados uniram, pela primeira vez em vários meses, setores da oposição, num momento em que as pesquisas apontam aumento da imagem negativa de Milei. Os levantamentos, como nos contou Andrei Román, do instituto Atlas Intel, também indicam, no entanto, que o eleitorado ainda não percebe a existência de um opositor que os atraia.

O clima de tensão na marcha dos aposentados da semana passada foi para muitos opositores a gota d’água. Mais de cem pessoas foram, então, detidas e outras feridas, sem medidas que pudessem proteger os manifestantes da terceira idade. As imagens da aposentada Beatriz Blanco, de 87 anos, que usa bengala, sendo derrubada por um policial e a do fotógrafo Pablo Grillo, de 33 anos, ferido na cabeça por uma cápsula de gás lacrimogêneo causaram revolta e comoção.

Grillo continua internado em estado grave desde a quarta passada. Blanco, a aposentada, chegou a ser hospitalizada e assim que teve alta afirmou que participaria da manifestação desta quarta-feira (19). Na semana passada, a marcha dos aposentados contou com a presença de torcidas organizadas de futebol.

Agora, o leque de apoio aos pedidos dos aposentados incluiu professores, funcionários públicos, as centrais sindicais (CTA e CGT), movimentos sociais, partidos de esquerda, representantes do peronistas e do kirchnerismo. A repressão policial determinada por Milei e por Bullrich sacudiu setores (que pareciam adormecidos) da oposição.