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    Maria Lúcia de Moura Iwanow

    Professora de literatura, aposentada

    2 artigos

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    Chamem Fernanda Montenegro!

    Chamemos sua integridade, sua beleza, seu talento!

    (Foto: Reprodução)
    Digo-lhes: é preciso ter caos dentro de vocês mesmos a fim de dar à luz uma estrela brilhante”. (Nietzsche)

    O Brasil está precisando de um banho de civilidade, de doçura, de classe, de solidariedade! 

    Sem ser antropóloga, socióloga, psicóloga, comunicóloga, sem ser especialista em relações sociais, ou coisa que o valha, vivo assuntando tudo o que se passa ao meu redor, ou mesmo longe de mim, e sinto que pessoas estão carentes de viver em uma sociedade em que pessoas se tratem com respeito. 

    Não se trata do respeito dos jovens na relação com os mais velhos, como se exigia antigamente, sem se cogitar que os jovens também têm que ser respeitados, assim como todas as pessoas, independentemente de idade; assim como as diferentes culturas humanas; assim como a natureza; assim como os animais.

    Vivemos um tempo em que se inaugurou, no Brasil, a grosseria como forma de relacionamento social, a barbárie como método de convivência nos lares e nos espaços públicos e a violência como solução de problemas, do mais íntimo ao público, do menor ao maior.

    E as demonstrações de grosseria, de insensibilidade de tão comuns, passam a ser a norma e, quem isso estranha e repudia, vira anomalia social em certos meios.

    Vivemos tempos horríveis em que ser muito mal-educado é reafirmação de personalidade; ser violento é sinal de altivez; andar armado é sinal de coragem e solução para os problemas sociais que se acumulam no País desde séculos; a pessoa ser insensível e desagradável e, de preferência, inculta se tornam, mais e mais, condições de ser eleita para dirigir os destinos da nação, da capital, das cidades.

    Quando menciono “inculta’, não estou falando apenas da cultura livresca a que nem toda a gente tem acesso. Estou falando da cultura de seu lugar, de suas origens, de sua história. Estou falando do que eu acrescento à cultura geral com o que eu trago de meu Goiás.

    Estou falando de chegar a Salinas, no Pará, e perguntar ao pescador onde fincar a barraca, para não acordar encharcado, durante a madrugada, porque a maré subiria quase 2 quilômetros, mas eu não sabia...

    Vivemos um tempo em que pessoas votam em criatura que, ao vê-la se manifestar num debate, numa entrevista, temos a certeza de que ela não sabe diferenciar o comportamento que deve ter na sala do jantar ou no banheiro e, assim, pode fazer a mesma coisa em ambos os espaços. Pode até usar papel higiênico usado, como guardanapo, e não vai perceber.

    Um tempo em que liberdade de expressão é entendida como o direito de mentir, distorcer, difamar, injuriar, caluniar.

    Está na moda não ter modos. Aqueles que nos fazem sentir bem em sociedade. Não, não se trata de conceito pequeno-burguês de convivência social. Toda família é família. Toda família pode ser boa.

    Não se está falando de saber com qual talher se come peixe e em que taça se bebe determinado vinho. Está-se falando daquela gentileza que nos acaricia a alma, do gesto que torna nosso dia melhor, do sorriso que por instante alivia nossa dor.

    Uma visita de qualquer pessoa desavisada a certos parlamentos ou a uma de suas comissões, daria a ela a medida do despreparo, da arrogância, do atraso, da bestialidade, da falta de conexão de um dos parlamentos mais dispendiosos do mundo com as reais necessidades do Brasil.

    Daria a medida do que fazem aquelas e aqueles a quem se elegeu, a quem se paga em privilégios e muito dinheiro em favor de si próprios e de quem lhes deu a grana para campanha eleitoral. Talvez o nome apropriado fosse antro e, não, parlamento.

    Os governantes deveriam investir em elevar o patamar de civilidade da população. Deveriam fazer valer as leis que dizem respeito ao respeito, ao bem-estar da população. Governar educando!

    A gentileza, a polidez, a educação no trato social baixam o estresse, tornam a tão difícil jornada, que é a vida, mais amena, menos sofrida.

    Mas, para isso, teriam que ter civilidade, espírito público, sensibilidade.

    Ainda não é o caso. E os discursos que apontam para cuidar das pessoas são balofos, carecem de verdade. Cuidar se o mercado permitir e for conveniente à banca.

    Não fosse assim, as escolas, as instituições, os governantes estariam investindo tudo para ensinar, para além dos conteúdos curriculares, o respeito à vida, porque a vida é sagrada! 

    A banalização da morte, da violência, do desrespeito pode atingir qualquer pessoa, em qualquer momento, em qualquer lugar.

    A morte, principalmente a da mulher, a da juventude negra deixou de ser, como queria Quintana, “...Um céu que pouco a pouco anoitecesse e a gente nem soubesse que era o fim...”.  Virou manchetes diárias.

    E o País, infestado de influencers, seguidos por seus milhões de idioters, desinformados pela imprensa dos farialimers do mundo, domesticados pelos pastorers, burrificados pela grosseria seguem, em fila, rumo aos matadouros, sustentando militares golpistas, políticos desonestos, juízes corruptos, embalados pelo sonho de um dia também ostentar, numa festa de três dias, o descalabro dos gastos com a celebração da festa de aniversário dos 2 meses  da filha do rico.

    É preciso mudar a formação dos professores e professoras; é preciso mudar a preparação dos médicos e médicas; é preciso informar ao servidor e à servidora públicos a quem se destina o seu trabalho; é preciso preparar as forças de segurança para proteger os cidadãos e não para agredi-los e matá-los; é preciso ensinar aos cidadãos que a liberdade de todas as pessoas têm o mesmo ponto de partida. 

    É preciso restaurar a bondade, que já disse Cora Coralina, é algo que também se aprende.

    Enquanto isso não acontece, chamemos Fernanda Montenegro! Chamemos sua integridade, sua beleza, seu talento!

    E as TVs e as rádios, ainda que não pareçam, são concessões públicas, depois da Hora do Brasil, naquele momento em que a trabalhadora e o trabalhador, cansados, descansam no sofá da sala com o prato de comida no colo, devolverão ao povo, todas as noites, 10 minutos de conversa com Fernanda Montenegro, ’pílulas de sabedoria’ sobre ter modos, compostura, delicadeza e a até elegância, coisas tão próprias dela, e sobre o valor da democracia, sobre direitos! Coisas contra as quais a grosseria da direita investe diuturnamente.

    Os textos que ela leria? Ah... poderiam ser de Luís Fernando Veríssimo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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