Chegou a hora de pegar o fascistão
O colunista Moisés Mendes cobra punição contra os aliados do bolsonarismo que defendem um golpe no País
Por Moisés Mendes, para o 247
A prisão dos 25 fascistas alemães cria expectativas e incômodos no Brasil. A expectativa reforça o desejo por reparação que passe antes pela contenção de quem conspira contra as instituições e a democracia.
O incômodo potencializa o desafio dos que são, por dever constitucional, encarregados de dar respostas a essas expectativas.
A síntese está nessa pergunta: seremos capazes de enfrentar não só os manés, mas os grandes fascistas brasileiros e mandá-los para a cadeia, para que parem de ameaçar a democracia?
Parece complexo, porque passa, numa simplificação sempre grosseira, pela ideia de que isso possa significar vingança ou ressentimento punitivista.
Passa também pela crença simplória de que não se pode repetir com a extrema direita o que fizeram com Lula na Lava-Jato.
E passa muito pelo temor de que os derrotados de hoje possam se fortalecer de novo, em pouco tempo, e cumprir com pelo menos parte das ameaças que seriam cumpridas com a reeleição de Bolsonaro.
O básico entre dúvidas, vacilações e temor entre os que procuram o brio perdido é que, se os alemães decidiram prender seus fascistas, nós poderemos pelo menos imitá-los e não estaremos errados.
Mas quais fascistas? Qual é o fascistão brasileiro que, se continuar impune, manterá suas ações e influência entre tios e tias do zap, patriotas e manés? Quantos são os fascistões?
Alexandre de Moraes sabe. A Polícia Federal e o Ministério Público sabem muito bem. Há sujeitos que passaram ou ainda passam por quase todas as investigações relevantes dos últimos anos e que são fundamentais para que aconteça aqui o que começa a ocorrer na Alemanha.
É gente que aparece na fábrica de mensagens em massa da eleição de 2018 e que foi poupada pelo TSE nas ações contra a chapa Bolsonaro-Mourão.
Que aparece no gabinete do ódio, nas milícias digitais, nas fakes news e no conjunto de atividades criminosas que dão forma a essa estrutura de quadrilha em operação dentro e fora do governo.
Gente que sustentou (ainda sustenta?) o gabinete do ódio e vai aparecer depois nas fake news da pandemia e nas tentativas de compra de vacina.
Que reaparece em grupos de tios do zap em turmas articuladas para disseminar o golpe, com a desculpa de que falam em voz alta em nome da liberdade de expressão.
Gente que, depois da eleição, pregou o caos como forma de atiçar o Exército e impedir o reconhecimento da vitória de Lula e, como fracassou, continuou pregando contra a sua posse.
Alexandre de Moraes sabe de quem se trata, porque coordena as mais importantes investigações da República nas duas décadas do século 21.
As figuras que aparecem nessas investigações são os fascistões do Brasil. Fora desse grupo que afronta o STF só há manés, uns mais e outros menos patriotas, mas manés.
E esse é o desafio. As sindicâncias sob os cuidados de Moraes – que começam com a investigação das fake news, em 2019, agregam os chamados atos antidemocráticos, que são as ações pelo golpe, e que juntam à turma agora até o conselheiro do TCU João Augusto Nardes – têm protagonistas da extrema direita, e não coadjuvantes ou figurantes.
Moraes trouxe os inquéritos até aqui porque não havia como pretender encerrá-los sem uma amarração. E era improvável e impossível que pudessem ser concluídos durante o governo Bolsonaro.
Mas agora as cadeiras do aparelhamento do Estado serão desocupadas. E as instituições, e não só o ministro Moraes, terão que trabalhar muito.
Não há como escapar da missão de prender o fascistão, o que atiça, financia, inspira e tutela o mané e é muito mais do que um Carluxo.
O sujeito que ataca o Supremo, que dissemina e financia fake news e empurra caminhoneiros para o crime nas estradas e tios e tias para a frente dos quartéis está certo de que vai escapar de novo.
Ele está convencido de que gozará da anistia da pacificação proposta por Flávio Bolsonaro. Tirem dele essa certeza. Nenhum filme de bandido acaba se não pegarem o bandidão.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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