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    Sara Goes

    Sara Goes é âncora da TV247, comunicadora e nordestina antes de brasileira

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    Ciro de Schrödinger

    "O 'Ciro de Schrödinger' reflete assim um político que simultaneamente pertence e não pertence ao PDT"

    Ciro Gomes (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)

    O experimento do gato de Schrödinger é um famoso paradoxo da física quântica, proposto pelo físico Erwin Schrödinger em 1935, para ilustrar a natureza complexa da mecânica quântica. Nele, um gato é colocado em uma caixa fechada, junto com um frasco de veneno que será liberado se um átomo radioativo decair. Como o decaimento é imprevisível, o gato, teoricamente, estará simultaneamente vivo e morto até que alguém abra a caixa e observe sua condição. Essa "dupla existência" só se resolve no momento em que é verificada.

    Em 2018, Ciro Gomes parecia viver uma versão política desse experimento, ao se posicionar simultaneamente como o candidato mais viável para vencer Jair Bolsonaro em um segundo turno e como uma alternativa independente entre Bolsonaro e o PT. Pesquisas da época indicavam que Ciro poderia vencer Bolsonaro em um eventual segundo turno, com 46% das intenções de voto contra 35% de Bolsonaro. Porém, ao receber 12,47% dos votos no primeiro turno e ficar em terceiro lugar, essa realidade em um multiverso onde ele venceria Bolsonaro jamais pôde ser comprovada.

    Desde que deixou o conforto das asas de Tasso Jereissati, Ciro trilhou um caminho marcado por conflitos internos nos partidos pelos quais passou, deixando um lastro de atritos e ganhando de Luizianne Lins (PT-CE) a pecha de "detonador de partidos". Atualmente, no PDT, sua permanência é ameaçada por tensões que se intensificaram após as eleições de 2018, 2022 e 2024. Os conflitos se aprofundaram após o rompimento com seus irmãos, a chamada "traição" ao nome de Izolda Cela ao governo do estado do Ceará, movimentos que renderam a perda de 60 prefeitos no estado, e seu recente apoio ao bolsonarista André Fernandes (PL) em Fortaleza, que foi a epítome da crise. Agora, uma ala do PDT defende abertamente sua expulsão. Ontem (7) presidente licenciado do PDT e ministro da Previdência Social, Carlos Lupi comentou a possibilidade de Ciro deixar (mais esta) legenda embora segundo o Lupi, a saída do partido só se dará se Ciro quiser e ele não quer. É o quê, homem?

    A situação de Ciro se torna ainda mais complexa com a possível federação entre PSB, PDT e Cidadania, prevista para 2026, o que contraria Ciro, alérgico ao PT. Seu isolamento cresce, e o PDT enfrenta a encruzilhada entre se alinhar a um espectro mais de centro ou continuar orbitando em torno das polêmicas de Ciro. Diante de um cenário de crescente isolamento, especula-se que Ciro entenderá a dica para se retirar da legenda e buscar um novo partido. Enquanto a imprensa especula opções como Solidariedade ou PSD, no Ceará, um suposto acordo entre Roberto Cláudio, União Brasil e PL indica que União Brasil poderia ser o próximo destino de Ciro.

    O “Ciro de Schrödinger” reflete assim um político que simultaneamente pertence e não pertence ao PDT, dividido entre uma lealdade histórica e uma realidade política cada vez mais distante da esquerda. Sustentado mais por suas polêmicas do que por alianças partidárias firmes, Ciro Gomes parece se equilibrar entre o passado e um futuro incerto, sem nunca verdadeiramente resolver sua superposição quântica dentro da política nacional.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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