Clã Bolsonaro está virando trapo
"Numa família que até há pouco chegou a imaginar que 03 seria embaixador e quem sabe sucessor, as investigações sobre Flávio Bolsonaro e Queiroz mudam todas as peças do jogo", escreve Paulo Moreira Leite, do 247 e Jornalistas pela Democracia
Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia -
A retomada das investigações sobre Flávio Bolsonaro representa um eletro-choque na estabilidade do presidente da República & Filhos.
Não estamos falando de uma família igual às outras, na qual as novas gerações foram estimuladas pelos mais velhos a sobreviver por conta própria longe dos benefícios e vantagens que o poder político oferece.
Aqui, ninguém tem para onde se esconder nem há separação entre público e privado. Não é apenas Flávio, o mais velho. Nenhum dos filhos já crescidos de Jair Messias Bolsonaro correu riscos ou buscou recompensas que a vida oferece a quem abre seu próprio caminho na iniciativa privada ou na academia.
O poder, o poder, tudo pelo poder -- até o ponto mais alto que o Estado brasileiro pode oferecer. No apogeu da megalomania, chegou-se a sonhar com a sucessão presidencial em família, na qual 03 voltaria bem treinado para disputar o Planalto após uma passagem na embaixada em Washington.
Salvo negócios denunciados pelo Ministério Público como típica lavagem de recursos escusos, não há registro de outro meio de sobrevivência econômica fora do universo político. O Globo já informou que 102 membros da família têm ou tiveram empregos no Estado.
Lembrando uma verdade simples. As "rachadinhas", que atingem quantias milionárias e envolvem uma massa até agora desconhecida de beneficiários, não passam de propinas que o esquema político recebe para dar empregos para protegidos.
Foi dessa forma -- e através dos benefícios que só a vizinhança do poder proporciona -- que os Bolsonaro construíram seu meio de vida.
Numa república de ferro velho, combinaram dois universos. Um palavreado que une a nostalgia pelos piores crimes da ditadura com uma promiscuidade típica das oligarquias sem freio da República Velha, aonde um coronel do latifundio ocupava o lugar que ficou com o capitão reformado que administra a oitava economia do mundo como se fosse um sítio sem futuro no Vale da Ribeira.
A seguir os padrões inaugurados pela Lava Jato inventada por Sérgio Moro, em breve será preciso animar a platéia com prisões.
Também está claro que uma investigação conduzida corretamente cedo ou tarde chegará a Bolsonaro.
Ameaçando enredar o presidente em inúmeras conexões que o ligam a 01, 02, 03 e ao onipresente Fabricio Queiroz, da essencial conexão com as milícias, as apurações podem transformar o destino de Jair Bolsonaro num plágio da trajetória de Michel Temer.
Este chegou a ser investigado durante o mandato, mas jamais pode ser processado porque as denúncias envolviam fatos ocorridos em 2014, antes que assumisse o Planalto pelo golpe que derrubou Dilma. O último dia de governo Temer também foi o último dia de sua vida útil na política brasileira.
Mas é bom prestar atenção numa peculiaridade. Entre os sete presidentes que ocuparam o Planalto depois de 1989, no retorno do voto direto, Bolsonaro é o único que jamais demonstrou qualquer compromisso interior com a democracia. Pelo contrário. Até nas simples formalidades ele se atrapalha.
Sua periculosidade nessa matéria não permite descartar nenhuma hipótese, nem que seja capaz de buscar apoio para tentar manter-se no cargo de qualquer maneira, inclusive através de um golpe, assunto já aventado pela colunista Rosangela Bittar no texto "Os apelidos do diabo" (Estado de S. Paulo, 18/1/2/2019).
Isso quer dizer que, em breve, a sociedade brasileira deve ser chamada a se mobilizar para obrigar Bolsonaro a manter-se no interior das regras do Estado Democrático de Direito enquanto seus familiares são investigados.
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