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    Pedro Carrano

    Jornalista, integrante da organização Consulta Popular e coordenador do jornal Brasil de Fato Paraná

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    Colômbia e Ucrânia: duas trincheiras dos EUA no mapa global

    Gustavo Petro e Rodolfo Hernández (Foto: ARN)

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    Estamos diante de um dos momentos dos mais importantes na história recente da América Latina. As eleições para presidente na Colômbia podem, pela primeira vez, levar uma chapa de esquerda ao governo. 

    O segundo turno confirmou o favoritismo da candidatura Petro/Francia Márquez, da experiência do Pacto Histórico, que merece ser acompanhada pelas forças de esquerda com olhar atento. 

    No contexto global, a Colômbia tem sido usada como cabeça de ponte pelo governo dos EUA, por décadas, entre outras questões, para pressionar o governo bolivariano na Venezuela, país vizinho. 

    Acontecimentos violentos, provocados por grupos armados colombianos na fronteira com a Venezuela, tentam há anos atrair o governo venezuelano de Nicolás Maduro para uma guerra semelhante àquela que a Otan tem provocado na fronteira entre a Rússia e Ucrânia, descreve o site Opera Mundi. 

    Esta análise aponta o fato de que a fronteira entre os dois países caribenhos é uma região importante devido à biodiversidade e recursos naturais. Sabe-se também que fábricas venezuelanas em território colombiano já foram “desapropriadas”, em anos recentes, no marco dessa guerra surda e suja. 

    Inclusive uma equipe do exército colombiano viaja à Europa para capacitar soldados ucranianos em técnicas de remoção de minas terrestres –, reforçando o interesse do governo dos EUA em manter a Colômbia como aliado estratégico da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Além de manter a própria guerra no Leste. 

    Eleições violentas 

    A violência e as atuais ameaças se elevaram na reta final de campanha. Afinal, de imediato, é a chance de enfraquecimento da extrema-direita neoliberal no continente. Derrotado o golpe pelas ruas bolivianas, e derrotado momentaneamente o macrismo na Argentina, Bolsonaro no Brasil e Ivan Duque na Colômbia são remanescentes da onda conservadora iniciada em 2015 – cujos motivos se encontram na crise das democracias representativas, na ascensão de governos de extrema-direita nos EUA e no mundo, e na própria ausência de reforço da organização popular e desgaste por parte dos chamados governos progressistas do período. 

    Diante da chance de primeira vitória eleitoral da esquerda na Colômbia,  vale resgatar que, desde 2019, as lutas no país assumiram mobilizações nas ruas e a disputa institucional contra o modelo neoliberal, após 52 anos de predomínio da via político-militar, encampadas principalmente pela guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC) e pelo Exército de Libertação Nacional (ELN). Essa via ainda segue ocorrendo no país devido à ausência de negociação do governo Duque, das perseguições e assassinatos contra lideranças, descumprindo os acordos de paz de 2016, cujo processo de construção está bem descrito no livro “Colômbia – Movimento pela Paz, de Matheus Lobo Pismel e Rodrigo Simões Chagas”, editora Insular, 2014. 

    Novo momento para a esquerda 

    O candidato de esquerda, o ex-guerrilheiro e senador Gustavo Petro, soma 40% dos votos em primeiro turno. Ele é candidato pela Coalizão Pacto Histórico, formado em 2021, experiência que reúne organizações de esquerda e movimentos populares, históricos e recentes. A vice de Petro é Francia Márquez, advogada negra, militante ambientalista e pelos direitos humanos, apontando o papel da resistência contra as transnacionais no campo e na mineração. 

    O repórter brasileiro Leonardo Severo, integrante da Comunicasul, grupo de jornalistas progressistas, dos poucos a falar das eleições no país, aponta que os setores que integram a campanha de Petro estiveram na linha de frente dos protestos massivos de 2021. 

    “Destaque para a lideranças de mulheres, senadoras, indígenas, negras, tem uma participação muito presente dos movimentos populares sociais, algo muito impactante, ao lado da participação forte da juventude”, relata, em entrevista ao Brasil de Fato Paraná. 

    Entre as bandeiras apontadas por Petro está a crítica ao caráter importador e pouco industrializado da economia do país; o cumprimento dos acordos de Paz, de 2016, que trouxe as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) para a sociedade civil, e o desmantelamento do crime organizado, como informa artigo de Juan Pablo Tapiro, porta-voz da organização Marcha Patriótica. 

    Em entrevista para o Canal Rondó da Liberdade, Tapiro também reforça esse momento de debate programático e a compreensão das forças populares de que uma vitória do Pacto Histórico exige defesa e ao mesmo tempo pressão para o cumprimento desse programa. 

    Tapiro também reforça a política de paz como uma bandeira de interesse das forças populares, para ter mais espaço para a ação política, como se tem visto desde 2019. 

    Extrema-direita 

    O termo “uribismo”, usado para designar a atual presidência de Duque a as duas candidaturas de oposição a Petro, vem do ex-presidente Álvaro Uribe (2002 a 2010), quem teve uma política de alinhamento ao governo dos EUA. 

    Juan Pablo Tapiro aponta que o uribismo responde à “Oligarquia burguesa na Colômbia, ao narcotráfico, com expressão do paramilitarismo, esses setores que controlam o Estado colombiano”, afirmou na entrevista. 

    O fato novo, mas já esperado, foi a ascensão de candidatura de Rodolfo Hernández, político e empresário que se coloca como outsider de fora da política, maneja as redes sociais como o TikTok e pauta posições de extrema-direita. Ele já chegou a elogiar Hitler. 

    Hernández ficou em segundo lugar ao final, com 28%, desbancou Federico Gutierrez, o nome preferido do uribismo, porém analistas avaliam que é um adversário mais difícil, porque receberá o apoio empresarial e do latifúndio colombiano, bem como, com sua fachada de outsider, pode trazer votos do centro. Em pesquisas recentes ele não apresenta margem grande de rejeição. 

    Esse possível novo momento no continente, que envolveria governos de centro-esquerda no México, Argentina, somando possivelmente,Colômbia e Brasil, está carregado de desafios, numa conjuntura de guerra, de dois anos de aprofundamento da crise econômica e da pandemia, além do neofascismo consolidando base social no Chile, Argentina e Brasil.

    Cabe às forças populares se manterem articuladas e organizadas, conscientes de que está em jogo a luta pelo poder e não haverá estabilidade institucional na atual conjuntura, ainda que a intervenção do governo dos EUA no continente possa apresentar limites nesse momento. As dificuldades enfrentadas até aqui pelos governos no Peru e Chile o demonstram. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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