Com pandemia, setor de tecnologia é hegemônico no Top 100 do Financial Times
"As Plataformas Digitais (PDs) se transformaram em instrumento de intermediação entre o consumo e a produção. Para isso se realiza enorme captura de dados que são feitas pelos algoritmos para direcionar as propagandas e realizar as vendas", escreve o colunista Roberto Moraes
A empresa argentina Mercado Libre foi a única corporação da América Latina presente na lista dos Top 100 do Financial Times entre as companhias que prosperaram a partir da pandemia ficando em 37º lugar deste ranking. Com isso, a empresa-plataforma aumentou seu valor no mercado em US$ 18 bilhões de dólares.
Valor adicionado de mercado está mais vinculado às expectativas e investimentos de ações e investidores (mercado de capital, capital fictício) do que propriamente aos resultados reais em termos de receitas e lucros.
Essa lista do Top 100 do Financial Times (FT) está repleta (e em maioria) de empresas do setor de tecnologia vinculada à internet, ao varejo e/ou ao e-commerce.
As chamadas empresas-plataformas se transformam quase em regra. Isso vale desde as Big Techs que são as “plataformas-raiz” (Google, Amazon, Apple, Facebook e Microsoft), às companhias vinculadas aos aplicativos no processo que temos denominado como “Appficação”.
Muitos pensam que a Mercado Livre é uma empresa brasileira. Porém, a Mercado Libre, nasceu na Argentina, em agosto de 1999 e, apenas dois meses depois, ela foi montada no Brasil. Hoje, a Mercado Libre opera em 19 países, tem cerca de 4 mil funcionários e é o site de e-commerce mais popular da América Latina em número de visitantes.
Segundo dados divulgados pela própria empresa-plataforma, a mesma teria cerca de 170 milhões de usuários na América Latina. No balanço e resultados de 2019 da empresa, o volume total de pagamentos com Mercado Pago alcançou US$ 8,7 bilhões, um aumento ano a ano de 63,5% em dólar e 98,5% em moeda corrente. Ainda em 2019, a operação da companhia no Brasil representou 63,5% da receita líquida total.
Como já comentamos aqui em vários textos, esse processo da plataformização dos negócios atinge os vários setores da economia, um destes importantes setores é o e-commerce ligado ao varejo.
As Plataformas Digitais (PDs) se transformaram em instrumento de intermediação entre o consumo e a produção. Para isso se realiza enorme captura de dados que são feitas pelos algoritmos para direcionar as propagandas e realizar as vendas que serão concluídas com a logística de entrega num esquema de taylorismo digital com controle de tempo e georeferenciamento do passos do entregador.
Do total das 20 companhias que mais tiveram aumento de valor de mercado no mundo, durante a pandemia, 17 delas (85%) eram, direta ou indiretamente, vinculadas ao setor de tecnologia e internet. Quase 70% delas têm suas sedes localizadas nos EUA, 25% na China e apenas uma na Europa e outra no Canadá. Assim, observa-se uma enorme centralização setorial e uma concentração em poucas e cada vez maiores companhias.
A relação entre a financeirização e a plataformização nos arrastam para nova etapa do capitalismo
Outro dado que tenho chamado a atenção é a profunda relação entre a financeirização, as Big Techs, as empresas de internet, e-commerce e o processo de plataformização. Isso se expande muito em direção à, já explosiva, onda das startups, quando boa parte da Inovação tecnológica passa a ser financiada por capitais de riscos (mercado de capitais e fundos financeiros) que assim atuam filtrando as boas ideias que poderão dar certo no mercado. Assim, os capitais de risco garantem o controle antecipado desta evolução.
Além do processo de plataformização, transformação das empresas das várias frações de negócios em plataformas digitais, eu tenho insistido que o fenômeno é ainda mais amplo e indica um movimento do capitalismo.
Aponta ainda para uma nova etapa do modo de produção (que denomino de” plataformismo”), vinculado à hegemonia financeira e às inovações tecnológicas (digital e informacional) do capitalismo contemporâneo.
Os resultados destes avanços tecnológicos não são repartidos. Ao contrário, como temos visto, estão cada vez centralizados e concentrados espacialmente em algumas regiões do mundo o que aprofunda as desigualdades econômicas e regionais/nacionais.
Assim, não se trata apenas do prazer de assistir um filme, ouvir uma música e adquirir um produto para ser entregue em sua porta, ou ainda conversar com as pessoas amigas num aplicativo pelo celular, se junto disso se tem o aumento das desigualdades, a ampliação da captura de renda do trabalho, sua precarização sem precedentes e o controle sobre seu trabalho e até a captura do seu tempo de não trabalho (lazer).
Desta forma, a digitalização da vida social tem na prática aumentado as desigualdades e permitido não apenas vendas de produtos e serviços pelo comércio eletrônico, mas produzido colossais fluxos imateriais de capital, em direção aos donos dos dinheiros, ampliando e radicalizando o regime de acumulação e lucros que precisa e deve ser contido pela política.
O que precisa ser contido é que o conhecimento que não pode continuar a ser apropriado como a nova propriedade do mundo digital. As nações centrais, no fundo, estão evitando regular o setor de tecnologia (legislação), que hoje, possuem o maior oligopólio da história do capitalismo mundial, acima da centralização que tiveram os setores de petróleo, ou o de siderurgia ou de automóveis.
Não é difícil explicar as razões disso para permitir estes carteis tecnológicos. Há ganhos geopolíticos com o uso destas gigantes do setor de tecnologia, para além dos econômicos através do uso do “vampirismo digital”.
A utilização destas plataformas têm permitido que as nações do capitalismo central utilizem as armas tecnopolíticas para manter do colonialismo que na prática atua hoje como um “neoimperialismo digital”. Insisto só a política pode conter esse processo que esgarça o sistema. Com diz, o professor Dowbor, a saída é o uso coletivo desta riqueza multiplicável na direção do pós-capitalismo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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