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    Roberto Moraes

    Engenheiro e professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ)

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    Comércio online, disputa entre os players e captura das rendas locais: plataformização segue produzindo enormes transformações

    'Há uma reterritorialização com alteração de uso dos espaços que deixam de ser industriais e passam para o serviço de logística', diz o colunista Roberto Moraes

    (Foto: Pixabay)

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    Uma parte da discussão sobre a taxação das importações até U$ 50 que acontece no Brasil atual, se insere na questão mais ampla do comércio eletrônico (e-commerce) onde se trava uma enorme disputa no país.

    Desde o ano de 2020, o volume de vendas no e-commerce no Brasil cresceu cerca de 60% e deve superar R$ 204 bilhões, num universo que envolve quase 100 milhões de compradores online. Reflexo do que tenho chamado de Plataformização.

    Nesse âmbito, apenas para citar um exemplo, uma das players do e-commerce, a Mercado Livre é a maior vendedora de peças de automóveis do Brasil.

    Em 2020, no período que envolveu a Pandemia, eu realizei uma pesquisa que reduziu na publicação de um artigo na revista ComCiência da área de jornalismo da Unicamp, depois republicado com algumas alterações no Livro "Marcas da Inovação no Território" com o título: "Disputa no e-commerce de varejo no Brasil: entre o intangível digital e a materialidade da infraestrutura de logística". [2]

    Muitas coisas se alteraram de lá para cá.

    Na ocasião, a empresa-plataforma americana Amazon, estava acabando de entrar no país, o artigo falava da vinda da Shopee, que naquele momento, já era o aplicativo mais baixado no Brasil e a Shein se organizava para atender esse mesmo mercado. Assim, os players de e-commerce disputando espaço no Brasil cresceu para além da argentina-americana Mercado Livre, Amazon e das brasileiras Magalu, Via (Casas Bahia e Ponto Frio) e Americanas (B2W), para as chinesas AliBaba e Shein e Shopee da Singapura.

    A base de logística envolve softwares para ampliar, facilitar e dar agilidade na "relação fidigital" e foram ampliados a instalação de enormes Centros de Distribuição (CD), cross-dockings (sistema de distribuição e despacho das mercadorias) com alguns hubs logísticos e a contratação de mais entregadores na última ponta do sistema.

    Abaixo estão um quadro (retirado do artigo) dessas players, na disputa no Brasil em 2000 e também um mapa localizando os CDs instalados no país.

    A aceleração desse processo é vertiginosa e nesses últimos 4 anos (de 2020 para 2024) muitos CDs foram instalados e/ou contratados, inclusive dos Correios. Para ficar num exemplo, a Shopee conta hoje (2024) com 11 CDs e 11 Hubs logísticos em MG, mais de 1.800 pontos de coletas de entrega, 20 mil motoristas e 250 pontos regionais de logística. Em 2020, as cinco varejistas do quadro acima somavam 69 Centros de Distribuição espalhados em 12 diferentes estados.

    Nesse processo, que precisa ser mais e melhor investigado, alguns municípios se especializaram nessas bases logísticas, por conta das facilidades geradas pela localização estratégica de distribuição para onde há maior consumo. Dois destes municípios valem ser citados: Cajamar em SP e Extrema em MG.

    Além dessas duas cidades, outras próximas estão, também, recebendo enormes galpões de armazenagem e logística que são em boa parte financiados e/construídos por Fundos Imobiliários (FIIs) que faturam alto com aluguéis por capacidade de volume (cubagem) de armazenamento. No município de São Paulo (capital) ou sua região metropolitana, galpões que eram fábricas da Avon (Jardim Marajoara), Ford (São Bernardo) e outras agora são galpões de logística que reflete a potência da plataformização em curso. [3]

    Ou seja, estamos falando de uma enorme cadeia de logística, atuando na etapa da circulação da mercadoria, reduzindo o tempo e os custos entre a produção e o consumo, de onde se apropriam do valor, que antes era em parte perdido com a desvalorização que se dava com o maior tempo gasto entre produção e o consumo, além de reduzir o tamanho dos comércios locais e a economia que circulava nas regiões.

    Além disso, se observam processos de reterritorialização com alteração de uso dos espaços que deixam de ser industriais e passam para o serviço de logística com mudanças também nos fluxos de pessoas e de materiais que transformam a urbanização nas metrópoles e nas cidades de médio porte, em especial.

    Referências:

    [1] Infográfico e algumas informações estão em matéria do Valor em 29-05-2024, p.F4: "Gigantes digitais disputam ampliam atuação e disputam rapidez".

    [2] PESSANHA, Roberto Moraes. Disputa no e-commerce de varejo no Brasil: entre o intangível digital e a materialidade da infraestrutura de logística, in: EGLER, T. KRAUS, L. e COSTA, A. V. Marcas da Inovação no Território. Letra Capital. Riso de Janeiro, 2020.

    [3] Matéria do Valor, em 29 mai. 2024, P.F4. CEZAR, Genilson: "Retrofit cria centros logísticos em bairros industriais".

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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